Início » Conferências de São Vicente de Paulo asseguram alimentação de dezenas de famílias

Conferências de São Vicente de Paulo asseguram alimentação de dezenas de famílias

19 Maio 2020
Catarina Correia Martins

Texto

Partilhar

Catarina Correia Martins

19 Mai, 2020

Nesta fase em que muitas das famílias viram os seus rendimentos reduzidos, seja por redução do ordenado, devido à entrada de muitas empresas em regime lay-off, seja por desemprego, ou até porque possuíam um negócio próprio que se viram obrigados a fechar, os grupos sócio-caritativos têm sido a “bóia de salvação” de muitas casas. No concelho de Porto de Mós, há vários grupos de apoio, entre eles três Conferências de São Vicente de Paulo. Normalmente, o apoio que dão é mais abrangente, no entanto, nesta altura, apenas se têm focado na distribuição de bens de primeira necessidade, sobretudo alimentares, numa parceria com o Banco Alimentar e com a Câmara Municipal.

Fátima Pereira é a responsável do grupo da Calvaria de Cima e o retrato que traça é de «muita dificuldade em corresponder a todas as chamadas». Já em tempos “normais”, o grupo, considera, tinha «sobrecarga», mas agora a situação está «pior ainda». Neste momento, as famílias não estão a receber apoio todos os meses: «Onde há crianças, tentamos ir quase todos os meses, às restantes, vamos mês sim, mês não», explica Fátima Pereira.

A responsável garante que não têm muitos pedidos além dos habituais, no entanto nessas famílias há a agravante de as crianças estarem em casa: «Uma família com três crianças, por exemplo, que comiam na escola sem pagar, agora tem-nas a comer em casa», explica. «As pessoas mais organizadas conseguem fazer render mais os produtos, as outras não», ressalva, acrescentando que pede «sempre», às entidades que cooperam, «grão e feijão, porque com um bocado de arroz já são uma refeição, quando não há carne». Além disso, quando faz a distribuição aproveita sempre para «dar dicas de como podem confecionar e combinar os alimentos», porque nem toda a gente «tem cabeça para gerir a quantidade de alimento que leva».

«Na Conferência, a nossa atividade principal é a parte espiritual, porque isto é um grupo da Igreja, mas não podemos falar em Deus a uma pessoa que tem a barriga cheia de fome», afirma Fátima Pereira. É por isso que fazem este trabalho voluntariamente, todavia as ajudas têm escasseado: «Trabalhamos normalmente em parceria com o Pingo Doce. Ao sábado e ao domingo eu ia lá buscar os alimentos que terminavam a data de validade e entregava no próprio dia, porque são alimentos que requerem frigoríficos. [Nesta altura] até isso nos falhou», revela, reiterando que a maior dificuldade é mesmo a «muita procura e pouca oferta».

Falta de voluntários preocupa grupos

Em Porto de Mós, a dificuldade é outra: a falta de voluntários, algo que é sempre uma necessidade mas que nesta fase se tem agravado uma vez que as pessoas que compõem o grupo «já têm muita idade, têm medo e não saem de casa». Regina Santos, responsável pela Conferência da freguesia sede de concelho, esclarece, no entanto, que para se ser voluntário neste grupo é preciso ter três características fundamentais: «Estar ligado à Igreja; ter espírito de voluntariado; e têm de ser pessoas que não sejam de ouvir aqui e dizer acolá», refere.

A responsável, que tem assegurado sozinha toda a distribuição, na sua maioria “porta-a-porta”, conta que o grupo ajuda cerca de 40 famílias e que a ele apenas se juntaram, nesta fase, «duas ou três que vieram [encaminhadas] da Segurança Social ou das assistentes sociais da Câmara». «Onde noto mais dificuldades é nas famílias da comunidade cigana, que viviam só das vendas dos mercados, como isso parou, ficaram sem rendimentos», revela. A alimentação é mesmo «aquilo que mais pedem, porque é o fundamental», no entanto Regina Santos afirma que o que a Conferência dá «não sustenta a família o mês todo, mas é sempre uma ajuda». O grupo tinha decidido, há algum tempo, distribuir alimentos apenas de dois em dois meses, no entanto, devido à pandemia e à perda de rendimentos de algumas famílias, passaram «novamente a dar todos os meses».

No Juncal, a distribuição tem sido assegurada por duas voluntárias, ambas pertencentes a um grupo de risco, por terem «mais de 70 anos», revela o responsável, Francisco Ventura, que apresenta a falta de voluntários também como a maior lacuna. O grupo ajuda 26 famílias da freguesia, todas elas já apoiadas antes da pandemia: «Por enquanto ainda não houve mais ninguém a pedir, mas se aparecer também não sei como havemos de fazer», afirma, corroborando a opinião de Fátima Pereira de que a procura é superior à oferta. Apesar disso, os voluntários não baixam os braços e insistem em manter a sua missão.

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque