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COVID-19: a experiência e as marcas na vida dos recuperados

26 Fevereiro 2021
O Portomosense

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O Portomosense

26 Fev, 2021

Portugal tem vivido no último mês a pior e a mais preocupante fase no que diz respeito ao novo coronavírus. O país atingiu números avassaladores de casos ativos e de óbitos e o concelho de Porto de Mós não tem sido exceção. Numa altura em que não havia tantos dados como hoje sobre esta doença e as suas consequências, O Portomosense esteve à conversa com Vítor Manuel Santana, um dos primeiros recuperados da COVID-19 no concelho. Oito meses depois, agora que se sabe um pouco mais do que se sabia em junho sobre este vírus, voltámos a falar com mais portomosenses que venceram esta doença, Joaquim Bernardino e Ana Horta.

Joaquim Bernardino, de 55 anos, ficou confinado ao quarto durante 10 dias, depois de descobrir que estava infetado. Fazer o teste foi relativamente «simples» e apenas sentiu uma «impressãozita nas narinas», conta. Os sintomas que teve foram leves. «Sentia uma pequena dor de garganta e ligeiras dores de costas e de pernas», recorda.
O camionista, natural da Tremoceira, confessa que ficou bastante surpreendido quando recebeu um teste positivo, explicando que «tomava muitas medidas de precaução». Joaquim Bernardino refere ainda que os seus dois filhos também ficaram infetados, mas nunca se soube ao certo qual foi a fonte de contágio. «O meu filho mais velho apanhou primeiro e talvez nos tivesse passado», diz, com alguma hesitação.

Viu-se obrigado a passar o Natal afastado da sua família e garante que esse tempo foi «muito complicado». Igualmente difícil foi não se cruzar com os outros elementos do seu agregado familiar, mas frisa que todos cumpriram as normas de segurança. «Cada um estava num quarto, dividíamos a casa de banho e quem lá ia desinfetava» e a sua mulher «metia a comida em cima de uma cadeira», conta. Joaquim Bernardino e os filhos tiveram sintomas moderados e por isso não foi necessária a intervenção direta dos profissionais de saúde. «Eu e o meu filho mais novo tomámos Ben-u-ron, o mais velho tomou anti-inflamatório», diz.

«Ver televisão, fazer palavras cruzadas e ir ao Facebook» foi a sua distração durante o isolamento e a forma que arranjou para o tempo passar mais depressa. Apesar de recuperado há mais de um mês, afirma que a COVID-19 lhe deixou algumas mazelas a nível de saúde. Ficou «sem cheiro» e de vez em quando «a narina do lado direito entope». Ainda assim, acredita que teve «sorte» porque é um «doente de risco». Sofre de Hemofilia B, um distúrbio na coagulação do sangue e foi fumador durante «41 anos».

Até hoje, Joaquim Bernardino sente que algumas pessoas «ainda olham de lado» para si e «tentam fugir». Confessa que é difícil lidar com essas atitudes, mas até consegue compreender, visto que «as pessoas não estão informadas». Por isso, tem procurado ignorar esse tipo de olhares e reagir com alguma indiferença: «Dão-me desprezo, eu faço o mesmo», sublinha.

O novo coronavírus não escolhe idades e afeta qualquer pessoa, como se tem vindo a verificar no número de jovens hospitalizados nas últimas semanas. Ana Horta, de 21 anos, que ficou infetada quando se encontrava na Eslovénia a fazer Erasmus, é um bom exemplo disso. A jovem, natural do Juncal, estava em mobilidade através de um programa que permite aos estudantes do ensino superior estudar noutro país europeu.

Contrariamente a Joaquim Bernardino, que não percebe qual foi a fonte do seu contágio, Ana Horta sabe como é que tudo aconteceu. Um dos colegas com quem partilhava casa teve um teste positivo e por isso, confessa, foi de uma forma «estranhamente calma», mas sem grande surpresa que, dias mais tarde, após realização do teste, recebeu a confirmação de que ela própria tinha sido contagiada.

Ana Horta não sentiu qualquer tipo de «descriminação» por parte das pessoas e acredita que a sentiria «se estivesse a viver num local onde toda a gente» a conhece. No entanto, reconhece que teve «algum medo» por não ter ninguém consigo naquele país que a pudesse apoiar. «A minha família e amigos estavam preocupados e não havia nada que pudessem fazer», recorda.

O primeiro sintoma que teve foi «cansaço» e seguiram-se «dores de cabeça e dores corporais fortes». «Senti-me febril, mas a minha temperatura nunca ultrapassou os 37,8°C», conta, acrescentando ainda que «esses sintomas duraram cerca de três dias» e que o mais duradouro foi a «perda de olfato e paladar». Durante esse período, não foi acompanhada de maneira alguma pelos profissionais de saúde daquele país, tendo-se sentido por isso «abandonada». «Apenas me ligaram uma vez, dizendo que 10 dias após não ter febre poderia sair de casa», desabafa.
A jovem realça que foi sempre uma pessoa saudável e que nunca teve complicações a nível de saúde, mas depois de ter testado positivo para a COVID-19, ficou com o «sistema imunitário fragilizado» e devido a uma bactéria que apanhou, teve uma «amigdalite aguda».

Recuperada há quatro meses, Ana Horta continua a sentir uma «pressão nos pulmões», que «não sentia anteriormente» e que é especialmente notória quando faz «hiking» [caminhar em montanhas], uma atividade que está muito arreigada na cultura dos eslovenos. Durante o período em que esteve em isolamento, a jovem aproveitou para ver «séries, filmes», ler «um livro que trouxe de Portugal» e falar com amigos por «videochamada».
Olhando para trás, a jovem juncalense sublinha que foi «rejuvenescedor» voltar à sua rotina e que agora dá «mais valor a coisas simples que antes tomava como garantidas».

Cristina Ostafiychuk

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