O Portomosense lança um primeiro olhar ao estado da Cultura em Porto de Mós. Desafiámos “poder” e “oposição” para refletirem sobre o assunto a partir de sete tópicos e neste artigo apresentamos-lhe o essencial das suas respostas. Pela parte da maioria PSD, dá a cara o vice-presidente e vereador da Cultura, Eduardo Amaral. Já do lado do PS, por opção sua, a resposta dos vereadores é coletiva.
Eduardo Amaral: “Somos um território que fixa públicos. Os espaços culturais estão cheios”
Será que temos um município e agentes culturais dinâmicos? Eduardo Amaral, o vice-presidente da Câmara, está convicto de que sim. «Temos criado e desenvolvido novas iniciativas, quer para a comunidade, quer para os públicos que nos visitam» e, «felizmente, contamos com um tecido associativo bastante rico, diversificado e disponível para trabalhar em colaboração com a autarquia», diz.
Se a oferta cultural é boa, diversificada e suficiente, isso «varia de acordo com as expectativas e interesses individuais», no entanto, é seu entendimento de que, «à nossa escala, a oferta se supera continuadamente». «Porto de Mós tem hoje uma agenda cultural que é transversal e finalmente criámos a nossa marca cultural», realça, afirmando que «atualmente somos um território de fixação de públicos, basta ver as nossas praças e espaços culturais cheios» e «não é por acaso que somos procurados para a realização de atividades, desde congressos a programas de televisão», frisa.
E deve o Município assumir-se como principal dinamizador cultural ou antes dar apoio logístico e financeiro aos agentes culturais locais? «Ambas as estratégias são complementares», no entanto, alerta, «os decisores municipais nunca poderão ter a pretensão de se querer substituir às associações e estas terão tanta força quanto maior for o suporte e a envolvência da comunidade».
O responsável diz “não” a «uma qualquer visão “paternalista” que pretenda dirigir todo o pulsar cultural», mas reconhece que «existem manifestações que não dispensam a eficácia e os recursos de coordenação do Município». Alinhar-se ou não com a estratégia deste será decisão de cada um, mas para o vereador é ponta de honra que «o princípio da independência criativa nunca poderá ser posto em causa».
Olhando para a atividade desenvolvida pelas associações, Eduardo Amaral afirma que em termos criativos «não há formas de trabalho iguais». «Temos exemplos de uma sobrevivência criativa muito boa, nomeadamente no teatro, na filarmónica ou nos ranchos, e temos grupos ou associações que pela sua própria natureza sentem a necessidade de se desafiarem mais. A todas o Município está atento, tentado apreender as sinergias de cada uma para melhor poder colaborar».
Em termos de oferta, o vereador garante que o Município tem procurado manter o equilíbrio entre modalidades diferentes, desde as que assentam na cultura popular, como no universo mais erudito. No seu entender «a estratégia do Município deve ter uma clara orientação para a fruição cultural e para a melhoria dos padrões de vida da nossa comunidade». «Não se pode perder a noção da nossa escala e do contexto regional, mas isso não invalida o desafio de procurarmos eventos de outra dimensão chamando gente de fora que nos enriqueça e faça do território uma referência de qualidade» afirma, recordando, contudo, que «não podemos ridicularizar sempre os nossos, mas sim reconhecê-los e valorizá-los».
Faltam eventos regulares com um calendário fixo? Eduardo Amaral considera que não, afirmando que por iniciativa das associações e/ou do Município há sempre algo a acontecer e, pelo menos a cada três meses, há um grande evento.
Vereadores do PS: “Os grandes eventos já existiam. De novo, pouco ou nada resta”
«A oferta cultural [no concelho] está confundida com movimento. É óbvio que há momentos de boa qualidade, da mesma forma em que muitas vezes presenciamos eventos apresentados como tal, mas que de cultura nada têm». Quem o diz são os vereadores do PS, na Câmara.
À pergunta se a estratégia do Município deve assumir-se como principal dinamizador cultural do concelho ou antes, apoiar os agentes que estão no terreno, os autarcas socialistas defendem que deve haver um misto das duas: «Se é de fulcral importância a existência de agentes culturais independentes que produzam e apresentem cultura, não deixa de ser fundamental a intervenção pública, seja no apoio, com subsídios às associações culturais, aquisição de programas culturais a agentes de promoção ou até na disponibilização de espaços adequados com as necessárias condições de trabalho, sejam elas permanentes ou temporárias».
Outra ideia defendida é a de que nesta área «é imprescindível que cada uma das associações tenha a sua estratégia própria, o que não invalida que haja uma boa interação entre estas e a Câmara, de modo a encaixar o que de bom se produz e promove no concelho». Por outro lado, «o que não pode existir é que as instituições percam a sua autonomia e passem a ser “para-município” ou o prolongamento do mesmo»,
sublinham.
Para os elementos do PS, uma coisa é clara: se há quem esteja a criar coisas novas no concelho não é o Município ou isso mal se nota. «Os grandes eventos como o Teatro de Rua e o Crianças ao Palco já existiam, assim como os festivais de folclore e os concertos em ambiente de património natural. Também já era apoiada a Semana Santa e outros eventos de cariz religioso, bem como a edição de livros. Portanto, de novo, muito pouco ou nada resta. Há, sim, uma outra forma de promoção ou envolvimento das entidades locais e uma consistência nesse trabalho que não queremos desvalorizar mas que pode dar a ideia de muita coisa nova mas que na realidade é apenas o aproveitar e valorizar o que já tinha sido feito anteriormente», frisam os autarcas.
Olhando para o Município no seu papel de promotor e dinamizador de Cultura, os vereadores sem pelouros defendem que este tanto deve promover o que é feito no concelho e na região, como trazer artistas e espetáculos nacionais. «Não temos dúvidas: há grande qualidade em muito do que é produzido localmente. No entanto, existe falta de hábitos que com nomes “já feitos” ajuda a criá-los. Portanto, parece-nos claro que tem de haver um misto destas atividades para fortalecer o concelho em termos culturais», realçam.
Mais do uma agenda regular de eventos, os vereadores do PS consideram que falta a dignificação de espaços como a Casa da Cultura de Mira de Aire, o Cineteatro de Porto de Mós ou a Biblioteca do Juncal para não falar do “eternamente adiado” Museu de Porto de Mós. Os autarcas querem também que sejam aproveitados espaços “privados” para a promoção regular de iniciativas como são os casos do Auditório
José da Silva Catarino, no Alqueidão da Serra, ou o Salão Paroquial do Juncal.
Foto | DR