Da quase bonança à tempestade
Nesta altura, e até tendo em conta parte substancial do conteúdo desta edição, é inevitável falar do caos em que estamos mergulhados por causa desta pandemia, que não há forma de perder força, quanto mais desaparecer ou ficar ela própria confinada.
No caso do concelho de Porto de Mós, o caos é relativo, obviamente. A nossa vida flui dentro da normalidade possível, mas aquilo que denomino de “caos” tem a ver com o absurdo volume de infetados e o trágico número de mortos. Parece que, de algum modo, replicamos, à nossa dimensão, a situação geral do país: na primavera/verão portámo-nos muito bem, melhor até que o todo nacional, e agora, na segunda e terceira fases, tem sido o que se vê, com dias sucessivos com 20, 30 e 40 ou mais casos confirmados, números que há escassos meses seriam impensáveis num território com o perfil e a dimensão demográfica do nosso.
Parte da explicação para o porquê deste aumento encontra-se na própria forma de disseminação do vírus ou, melhor, naquilo a que chamaria, de modo simples, a sua capacidade para se ir espalhando através de contágios sucessivos. Mas mesmo que recorramos às Ciências Médicas ou à Matemática, para explicar os números e a velocidade a que aumentam os novos casos, há o outro lado da questão: como é que passamos do excelente ao medíocre em tão pouco tempo? Como é que foi possível perdermos de forma tão clara o controlo da situação? E as mortes, que eufemisticamente denominamos apenas de “óbitos”, como se esse termo menos “agressivo” deixasse de representar o que representa? Como é que lidamos ou arranjamos explicação lógica para atenuar o choque, a surpresa e a dor, para tamanho número de mortos numa terra tão pequena (isto, claro, sem nunca esquecer que outros em territórios da mesma dimensão ou menor já viveram ou vivem tragédia idêntica).
Além daquilo que as regras científicas, como já referi, explicam, parece ter havido aqui um excesso de confiança e um abrandar perigoso em relação aos cuidados básicos que todos devemos ter. Mandaram-nos para a rua e nós fomos. Depois vimos que até se estava muito bem na rua e pouco a pouco fomo-nos habituando a este nosso novo normal e esquecendo que o vírus continuava por aí, perigoso, mas invisível. À boa maneira portuguesa, teremos mais uma vez facilitado, e agora as consequências são as que conhecemos e que muitas famílias portomosenses, infelizmente, já sentiram, e por vezes, até de forma trágica, na pele.
Mais do que encontrar culpados, talvez possamos humildemente reconhecer que todos contribuímos para o atual cenário negro em que nos encontramos. Uns por negligência pura, outros porque acabaram por ser “coniventes” com a negligência alheia, e ainda outros porque a determinada altura um descuido, uma distração, fruto se calhar do cansaço acumulado de tantos meses a lutar contra um inimigo invisível, os levou a um comportamento de risco que num instante os colocou na posição de infetados e, involuntariamente, a serem veículos de transmissão do vírus.
A situação está complicada, mas ainda podemos fazer algo para a tentar contrariar. No fundo, basta fazer aquilo que nos disseram para fazermos em março e que agora nos volta a ser pedido de forma dramática. Que fiquemos em casa, que não encontremos nas milhentas exceções previstas no Estado de Emergência mais um buraco para furarmos a regra básica e essencial que é a de ficar em casa para nos protegermos a nós e aos outros.
Podia dar aqui vários exemplos de coisas a evitar, mas refiro apenas uma que me choca de algum modo, porque parece ser sinónimo de que muita gente não acordou para a realidade. Numa altura em que nos parece cada vez mais difícil conseguirmos também escapar, apesar dos cuidados que possamos ter, há quem continue impávida e serenamente a fazer de uma ida às compras o seu passeio de domingo de outros tempos. Famílias inteiras às compras. Será que pelo menos as crianças e os adolescentes não podem ficar em casa à guarda de um irmão mais velho ou de um dos pais? Precisa ir toda a gente? Não pode ir só um elemento do casal? E não querendo imiscuir-me na gestão familiar, não seria mais sensato tentarem fazer as compras para uma semana, 15 dias ou um mês? Numa altura de exceção, precisamos mesmo de ir ao supermercado todos os dias?
No caso do concelho de Porto de Mós, o caos é relativo, obviamente. A nossa vida flui dentro da normalidade possível, mas aquilo que denomino de “caos” tem a ver com o absurdo volume de infetados e o trágico número de mortos. Parece que, de algum modo, replicamos, à nossa dimensão, a situação geral do país: na primavera/verão portámo-nos muito bem, melhor até que o todo nacional, e agora, na segunda e terceira fases, tem sido o que se vê, com dias sucessivos com 20, 30 e 40 ou mais casos confirmados, números que há escassos meses seriam impensáveis num território com o perfil e a dimensão demográfica do nosso.
Parte da explicação para o porquê deste aumento encontra-se na própria forma de disseminação do vírus ou, melhor, naquilo a que chamaria, de modo simples, a sua capacidade para se ir espalhando através de contágios sucessivos. Mas mesmo que recorramos às Ciências Médicas ou à Matemática, para explicar os números e a velocidade a que aumentam os novos casos, há o outro lado da questão: como é que passamos do excelente ao medíocre em tão pouco tempo? Como é que foi possível perdermos de forma tão clara o controlo da situação? E as mortes, que eufemisticamente denominamos apenas de “óbitos”, como se esse termo menos “agressivo” deixasse de representar o que representa? Como é que lidamos ou arranjamos explicação lógica para atenuar o choque, a surpresa e a dor, para tamanho número de mortos numa terra tão pequena (isto, claro, sem nunca esquecer que outros em territórios da mesma dimensão ou menor já viveram ou vivem tragédia idêntica).
Além daquilo que as regras científicas, como já referi, explicam, parece ter havido aqui um excesso de confiança e um abrandar perigoso em relação aos cuidados básicos que todos devemos ter. Mandaram-nos para a rua e nós fomos. Depois vimos que até se estava muito bem na rua e pouco a pouco fomo-nos habituando a este nosso novo normal e esquecendo que o vírus continuava por aí, perigoso, mas invisível. À boa maneira portuguesa, teremos mais uma vez facilitado, e agora as consequências são as que conhecemos e que muitas famílias portomosenses, infelizmente, já sentiram, e por vezes, até de forma trágica, na pele.
Mais do que encontrar culpados, talvez possamos humildemente reconhecer que todos contribuímos para o atual cenário negro em que nos encontramos. Uns por negligência pura, outros porque acabaram por ser “coniventes” com a negligência alheia, e ainda outros porque a determinada altura um descuido, uma distração, fruto se calhar do cansaço acumulado de tantos meses a lutar contra um inimigo invisível, os levou a um comportamento de risco que num instante os colocou na posição de infetados e, involuntariamente, a serem veículos de transmissão do vírus.
A situação está complicada, mas ainda podemos fazer algo para a tentar contrariar. No fundo, basta fazer aquilo que nos disseram para fazermos em março e que agora nos volta a ser pedido de forma dramática. Que fiquemos em casa, que não encontremos nas milhentas exceções previstas no Estado de Emergência mais um buraco para furarmos a regra básica e essencial que é a de ficar em casa para nos protegermos a nós e aos outros.
Podia dar aqui vários exemplos de coisas a evitar, mas refiro apenas uma que me choca de algum modo, porque parece ser sinónimo de que muita gente não acordou para a realidade. Numa altura em que nos parece cada vez mais difícil conseguirmos também escapar, apesar dos cuidados que possamos ter, há quem continue impávida e serenamente a fazer de uma ida às compras o seu passeio de domingo de outros tempos. Famílias inteiras às compras. Será que pelo menos as crianças e os adolescentes não podem ficar em casa à guarda de um irmão mais velho ou de um dos pais? Precisa ir toda a gente? Não pode ir só um elemento do casal? E não querendo imiscuir-me na gestão familiar, não seria mais sensato tentarem fazer as compras para uma semana, 15 dias ou um mês? Numa altura de exceção, precisamos mesmo de ir ao supermercado todos os dias?