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Daltonismo: “No dia a dia, quando tenho dúvidas na cor, arrisco uma ou identifico de outra forma”

29 Julho 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

29 Jul, 2023

Para Jorge Figueiredo as torres do emblemático Castelo de Porto de Mós não são verdes, mas sim vermelhas. A razão é simples e médica: o daltonismo que lhe foi diagnosticado aquando da inspeção para o serviço militar. Este distúrbio da visão caracteriza-se pela incapacidade ou diminuição de percecionar as cores ou as diferenças entre os seus tons em condições normais de iluminação (estima-se que afete cerca de 5% da população mundial). As torres do Castelo de Porto de Mós foram, para o arqueólogo, vermelhas até ao 12.º ano. Foi nessa altura que, numa aula, decidiu verbalizá-lo em voz alta e que teve resposta pronta e de espanto dos colegas de turma: “Vermelhas?”. Esta, porém, não tinha sido a primeira vez que o portomosense de 53 anos notava que tinha alguma dificuldade em discernir as cores. «Nos trabalhos de Educação Visual nunca consegui fazer muito bem os mapas das cores primárias e secundárias e não percebia porquê e sinceramente nem ligava muito a isso», recorda. O facto de, até então, nunca ter ouvido falar de daltonismo, fez com que nunca desconfiasse que podia sofrer desta patologia.

Há vários graus de daltonismo e o caso de Jorge Figueiredo não é muito profundo. «Posso baralhar as cores quando a intensidade delas é muito próxima, por exemplo, castanho escuro posso baralhar facilmente com verde escuro, ou um verde alface posso facilmente baralhar com amarelo, porque são tonalidades muito parecidas», especifica. Apesar de nunca ter considerado esta limitação um grande entrave no seu dia a dia, teve que fazer alguns ajustes. «Quando tenho dúvidas nas cores, às vezes arrisco e engano-me», brinca, «mas normalmente, em vez da cor, refiro a forma ou os padrões, por exemplo, “aquele às riscas”», explica. A sua profissão obriga a que tenha que falar de muitas cores, mas aí tem também forma “de dar a volta” à situação: «Sobretudo na cerâmica existem imensas tonalidades, mas nós usamos aqueles catálogos de cores em que são atribuídos números, por isso não é particularmente complicado», diz. Onde «pode ser mais complicado» também é na escolha da roupa: «Dá umas soluções interessantes », volta a brincar. Mas, garante, tem sempre quem lhe diga que “estas cores não combinam muito bem”.

Jorge Figueiredo assume a vontade experimentar os óculos próprios para daltónicos que permitem discernir as cores: «Deixa-me muito curioso, tenho mesmo que experimentar ». Sem os óculos, continuará a viver «algumas situações caricatas», mas está tranquilo em relação a isso. «Falar de cores, para mim, é sempre um bocadinho arriscado, mas arranjamos defesas e não sinto que me limite muito», frisa.

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