David Ângelo, um dos médicos mais influentes do mundo na sua área de especialização, fez no dia 10 dezembro na Central das Artes o lançamento do livro Crónicas de um Jovem Investigador. O médico cirurgião e investigador regressou com confessado prazer à terra onde viveu a sua infância e parte da juventude. Fê-lo perante vasta e variada plateia e inspirando-se no livro partilhou experiências, peripécias e ensinamentos.
«Nasci na Suíça mas sou portomosense de gema. Porto de Mós é a minha terra. Já vivi em vários pontos do país e do mundo mas aqui é a casa-mãe», disse em resposta a um dos elogios com que o presidente da Câmara, Jorge Vala, o brindara minutos antes.
Na altura, o responsável autárquico afirmara ser «um gosto imenso ter alguém com o currículo do professor David Ângelo a apresentar o seu livro em Porto de Mós», um concelho «com muitos jovens talentos que saem e depois não regressam» ou, pior que isso, que «em muitas circunstâncias esquecem as suas origens». Ora, no seu entender, o jovem médico está entre aqueles que apesar de terem subido alto não esquecem as suas origens.
Na mesma cerimónia, Pedro Mouroço contou como, enquanto investigador do Politécnico de Leiria, conheceu e trabalhou com David Ângelo. «Muitos jovens dirão que o David [Ângelo] teve sorte ou cunhas, mas o que houve, sim, foi muito trabalho e de uma maneira que é muito difícil de encontrar hoje em dia», afirmou. Em “resposta”, o médico confirmou isso mesmo e disse que ao contar um pouco do seu percurso familiar procurou mostrar que é «uma pessoa perfeitamente normal» e inspirar outros jovens igualmente “normais” a acreditarem que «se forem disciplinados, proativos e determinados, conseguem fazer o que quiserem».
Pedro Mouroço recorda-se bem do jovem que «uns diriam lunático, outros filosófico e outros, ainda, sonhador», que um dia chegou junto de si «com uma ideia completamente disruptiva» mas com experiência nula na área da investigação e expectativas demasiado altas. Apesar desta lacuna inicial, «de todos os doutorandos acompanhados ao longo dos anos» David Ângelo foi aquele que lhe deu «mais gozo» e «enormes alegrias» porque era aquele que mais puxava por si, confessou.
O cirurgião portomosense, por seu turno, realçou a necessidade de proatividade e de persistência e disse aos jovens que não podem esperar ter a carreira toda definida logo ao início e há que saber ver nas dificuldades, oportunidades. Por isso, é perfeitamente possível que um médico que demora «meia hora a fazer a sua primeira sutura de três ou quatro pontos», acabe depois a criar um kit de sutura, ou que o mesmo médico que desmaia «na primeira vez que entra no bloco operatório», anos mais tarde se torne cirurgião, como foi o seu caso.
Fazer um doutoramento, ter prazos para cumprir e artigos científicos para publicar colocam uma enorme pressão sobre os doutorandos e David Ângelo que sentiu isso na pele deixou um veemente apelo para que cada um cuide da sua saúde mental. «Quando virem que as coisas não estão bem, parem e peçam ajuda. Se eu pudesse voltar atrás a saúde mental era uma área que nunca teria descurado», frisou.
David Ângelo olha para a medicina com «espírito de missão», defendendo uma ligação «muito empática e com compaixão» para com os doentes, «que devem ser sempre o foco principal de qualquer médico». O cirurgião diz que todos os dias tenta melhorar 1% daquilo que é, tentando dar aos outros sempre a melhor versão de si tanto em termos profissionais como pessoais e acredita que a leitura deste livro pode ajudar outras pessoas a procurar fazer idêntica caminhada.
Foto | Isidro Bento