Este não é um editorial comum, nem escrito num contexto onde imaginássemos estar até há bem pouco tempo. Esta é uma daquelas crises que os livros de História vão esmiuçar, contar-se-á qual a origem da COVID-19, dar-se-ão números de infetados e óbitos, serão feitas análises políticas às medidas governamentais, falar-se-á das consequências sociais e económicas que este novo coronavírus teve em todo o mundo. Muitos dos que vão estudar estes livros serão nossos descendentes e saberão que os seus avós ou bisavós estiveram cá e sobreviveram (sim, sobreviveram, porque tudo ficará bem) a esta epidemia.
Há quem encontre o reconforto na religião, outros preferem meditar ou apoiar-se num qualquer outro elemento. Há quem encontre na cozinha o refúgio e quem cante “até que a voz lhe doa”. Há quem dance, quem prefira exercitar o corpo. Há quem encontre num bom livro a paz que procura. Não interessa de que forma, mas é importante que todos encontrem a alavanca para se manterem sãos. Porque, apesar deste ser um episódio que vai estar nos livros de História, para nós é o presente e a realidade com a qual temos de lidar. Somos, cada um de nós, um agente que pode fazer a diferença. Os apelos são múltiplos, mas nunca é demais lembrar: protejam-se e protejam todos à vossa volta. Porque a verdade é que não nos estão a pedir muito: «Aos nossos avós pediram-lhes para irem para a guerra, a nós pedem-nos para ficar no sofá».
Que esta seja uma oportunidade que Deus, a Vida, o Universo, a Mãe Natureza ou qualquer outro elemento em que acreditemos, nos está a dar de nos reconstruirmos como pessoas e como comunidade. Que olhemos para o vizinho ou para o colega de trabalho e tenhamos mais compaixão. Que passemos a valorizar aquilo que perdemos por um algum tempo, como um passeio no parque, os abraços aos amigos, as mesas cheias de gente. Que aprendamos a respeitar a vida, que representa por si uma oportunidade de crescimento pessoal. Saibamos agradecer aos profissionais de saúde que estão a fazer tudo para conter esta epidemia. Mostremos a nossa gratidão por quem, nas mais variadas áreas, assegura que nada do que é essencial à nossa sobrevivência, nos falte. Saibamos agradecer o facto de podermos escolher, de estar nas nossas mãos minimizar os impactos futuros.
Voltemos à História porque ela nos ensina que em qualquer crise, é necessário que nos reinventemos. O Portomosense vai continuar a trabalhar para si, mas agora a partir de casa. A redação viaja de “armas e bagagens”, mas não se afastará.
Antes pelo contrário. Continuaremos firmes na nossa missão mas protegendo-nos a nós, aos nossos familiares e também a si. O atendimento direto ao público está suspenso, mas continuaremos do outro lado da linha telefónica (244 491 165), e sempre contactáveis por e-mail (jornal@oportomosense.com) e também através da nossa página de Facebook. A partir de agora estaremos ainda mais presentes na internet, tanto no nosso site, como nas redes sociais.
A terminar renovamos o apelo: a prevenção tem de ser imediata e começa em nós. Esta é uma daquelas coisas que não podemos deixar nas mãos dos outros. Não nos fiquemos apenas por aquilo que António Variações tão bem descreveu: «Foi mais um dia e tu nada fizeste/ Um dia a mais tu pensas que não faz mal/ Vem outro dia e tudo se repete/ E vais deixando ficar tudo igual».
Aqui, se nada fizermos, nada ficará igual. É a nossa vida e a dos nossos que está em jogo. Saibamos encarar este novo tempo com a seriedade que merece. Como humanos temos medo do desconhecido e há aqui muita coisa que ainda desconhecemos. Os nossos medos são naturais e legítimos mas a história está aí para nos recordar que na nossa longa existência como nação já enfrentámos outros momentos gravíssimos, mas depois da tempestade veio sempre a bonança. Os próximos tempos adivinham-se muito duros mas estamos certos de que sairemos deste combate mais fortes como comunidade e cada um por si e isso dá-nos uma boa parte do alento de que precisamos.
Editorial:
Jéssica Moás de Sá
Isidro Bento