«Tendo sido dada pelo senhor presidente como justificação, para a não existência da iluminação de Natal, a contenção de consumo de energia elétrica, gostaria de saber se fizeram realmente uma estimativa do que se iria poupar?», assim começou a sua intervenção o deputado do socialista, Gonçalo Pires, manifestamente descontente pela «quebra do espírito natalício». O deputado perguntou ainda se, «em algum momento», o executivo tinha avaliado o «impacto negativo que iria provocar no comércio local, numa altura de desânimo, de dificuldades», em que, acredita, as pessoas «precisam sentir o espírito natalício, a música na rua, os brilhos das luzes, sentir o Natal». Gonçalo Pires mostrou-se convicto de que os portomosenses «acabam por se deslocar a concelhos vizinhos, em busca dessa alegria e conforto, fazendo lá as suas compras».
«Percebia se a iluminação estivesse menos horas acesa, ou com menos coisas, mas decidir não fazer nada, quando, por exemplo, na cafetaria do Parque Verde foram gastos 60 mil euros que não estavam previstos no concurso, [pergunto] onde está a estratégia de desenvolvimento, prejudicar muitos, beneficiando alguns?», acusa o deputado. «Não sei se, como disse à comunicação social, os nossos comerciantes serão assim tão compreensivos», indaga. «Depois de sentir a contestação global, com a falta de espírito natalício, voltaria a tomar a decisão? Ainda acredita que comércio não vai ter uma quebra de vendas?», terminou.
Presidente da Câmara não se mostra arrependido
O presidente da Câmara, Jorge Vala, começou por pedir que «não se fizesse confusão com a cafetaria»: «Não estava em condições de poder ser alugada, portanto tinha que ser arranjada, como, aliás, fez o anterior executivo em situações deste género, como o edifício das piscinas». Quanto à decisão tomada, Jorge Vala começou por recuar no tempo. «Recebemos uma resolução do Conselho de Ministros em que era pedida uma redução de 15% de energia e, nessa altura, fizemos o que nos competia, tomar decisões», explica. O autarca revelou ainda que esta decisão foi tomada «em conjunto com outros municípios»: «A nossa manteve-se, dos outros nem tanto», frisou.
«Eu respeito imenso todos os comerciantes, aliás, estamos envolvidos numa candidatura para beneficiar o comércio local – os Bairros Digitais –, que foi a melhor candidatura do distrito», começou por referir Jorge Vala. No entanto, o presidente quis «lembrar duas coisas». «Estamos a falar apenas da vila de Porto de Mós, não do concelho, a vila tem algum comércio, mas que não se manifestou no sentido de poder fazer como fizerem os Quarentões de Mira de Aire, que pediram o nosso apoio e colocaram iluminação por sua conta, é uma questão de princípio», considera. O autarca sublinhou, ainda, que o Município organizou mais uma Black Friday para ajudar o comércio local. «Trouxemos grupos para animar a vila, mas infelizmente, depois das 19 horas, só estavam seis comércios abertos. O comércio local precisa de estímulos, sem dúvida, mas nós também precisamos de estímulos do comércio local, precisamos de perceber que vale a pena investir», refletiu.
Para finalizar, Jorge Vala, quis ainda «relembrar que em 2017, pela primeira vez, se fez o Natal Encantado e se iluminaram todas as ruas da vila». Nessa altura, «nesta Assembleia, fui apontado que ia levar o Município à falência com tanta festa e tanta luz», referiu. Dirigindo-se a Gonçalo Pires, ironicamente, Jorge Vala, disse que o deputado «fez muito bem chamar à atenção para esta decisão, no tempo de crise económica profunda que se está a viver», lembrando a «possibilidade efetiva de, no primeiro trimestre do próximo ano, faltar gás» para produzir energia. «Somos eleitos e temos a responsabilidade de dar exemplos», salientou. Respondendo diretamente à questão do deputado socialista, se voltaria a tomar esta decisão, Jorge Vala disse que sim e «que se houver uma crise energética, será Porto de Mós e serão todos os outros» a fazê-lo.
Foto | Jéssica Moás de Sá