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Dermografismo: “Hoje acredito que é poesia, como se a minha pele tivesse memória”

14 Setembro 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

14 Set, 2023

Hoje «é poesia». Mas nem sempre foi. Como para escrever um poema, foi preciso algum tempo para aceitar e encontrar beleza em ter «uma pele com memória ». É assim que Carolina Silvério, de 22 anos, descreve a sua pele, «com alergia ao toque» por sofrer de uma patologia chamada dermografismo. «Quando algum elemento, alguém ou um objeto, qualquer coisa, entra em contacto com a minha pele, existe uma inflamação muito exagerada », explica. É como se desse para «escrever e desenhar na pele». Além dos sintomas visíveis, estas marcas e vermelhidão causam, em alguns casos, comichão, «mas muito subtil» e por isso nunca foi necessária medicação.

«A nível estético é chato, porque me perguntam constantemente o que tenho na pele, eu já sei o que tenho e consigo ver, umas vezes sinto, muitas vezes não sinto, por exemplo, neste momento estou sentada na areia e sei perfeitamente que quando me levantar, ao contrário dos picozinhos com que toda a gente fica, terei algo muito mais marcado na pele e que demora entre 15 minutos a meia hora a desaparecer», exemplifica. O tempo para que desapareçam as marcas «é o dobro» se se tratar da cara. A cara, o peito (no qual por vezes basta o stress ou o calor para se sentirem efeitos) e o pescoço são os locais que ainda hoje incomodam mais Carolina Silvério, até por estarem mais visíveis e expostos e por se manifestarem com manchas diferentes. Ainda assim, a perceção da doença que tinha aos 13 anos quando a começou a notar e a que tem hoje amadureceu e trouxe-lhe paz de espírito. «Quando percebi as reações na minha pele, inicialmente até fiquei calada, nem disse aos meus pais, tive medo e como era algo que desaparecia, fui simplesmente deixando ver o que acontecia. Depois comecei a pesquisar, fui ao médico e vi o que era e de certa forma comecei a encará-lo então como algo poético». Se ao início «não sabia lidar quando apontavam» as marcas, hoje é diferente: «Durante muito tempo, quando ia a festas e me tocavam sem querer, estragavam-me logo uma parte da noite, escondia-me um bocado, agora realmente não me importo».

O dermografismo também não a impossibilita de fazer de fazer o que quer que seja «nem traz riscos para a vida». Por isso, continua a manter as atividades que sabe que lhe vão trazer mais reações alérgicas. «Antes dizia muitas vezes para não me tocarem, explicava os efeitos», agora faz tudo. Está desaconselhada «a fazer tatuagens por não se saber a reação que a pele poderá ter» e, quanto ao ginásio, «apesar de sair toda marcada», continua a fazer parte da sua vida. Outro dos desafios são «provadores de lojas»: «Quando vou experimentar roupa saio de lá completamente marcada no corpo inteiro». Já quando faz a depilação, assusta as esteticistas, brinca. «Realmente a reação é tão exagerada que as esteticistas ficam logo assustadas e por isso tenho que avisar sempre que é normal», conta. Estes são apenas alguns exemplos que Carolina Silvério partilha, embora todo o seu dia-a-dia seja, por si só, um exemplo, 24 sobre 24 horas, a cada minuto, a jovem está a tocar em algo, mas isso quer dizer também que a todas as horas e minutos a sua pele escreve mais um poema.

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