Um guia que «permite encontrar a planta em determinado sítio do concelho, com rotas definidas, e depois com código QR receber toda a informação e dessa forma continuar a descobrir o território». Foi assim que o vice-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Eduardo Amaral, resumiu a obra Discover Porto de Mós – Rotas dos musgos e líquenes, da associação Vertigem, aquando da apresentação da mesma, no passado domingo, dia 18, no Cineteatro da vila sede de concelho. A data escolhida, durante a época natalícia, pretende, segundo explicou o autarca, ser uma «forma de chamar a atenção para outra maneira de observar esta planta», que é comummente utilizada para enfeitar presépios.
Planta e super-organismo, corrigiu a investigadora do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos e do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, Helena Hespanhol, durante a sua intervenção, explicando que os líquenes são uma associação entre fungos e uma alga ou cianobactéria, que coabitam com os musgos.
«Organismos [que] não se estudam nas escolas», ambos são «bastante importantes», pelo seu papel na fixação dos solos, na criação de pequenos depósitos de água e consequentes micro-habitats, ou, a nível «dos seus usos mais comuns», na produção de corantes e perfumes. Essa falta de investimento na educação sobre os organismos também é referenciada pela investigadora Joana Marques, que refere a falta de especialistas remunerados sobre o tema em Portugal. As especialistas planearam assim «uma proposta de três percursos; dois deles são dentro dos carvalhais e um deles nuns afloramentos rochosos, uma zona mais exposta, com comunidades completamente diferentes», segundo Helena Hespanhol, que aconselha os espectadores a levar «uma lupa de bolso, que é muito importante para» se conseguir «entrar nesse mundo».
A parte técnica deste guia foi entregue a estas duas investigadoras, já que «o mundo científico é fundamental para que possa validar e acrescentar valor», refere Eduardo Amaral.
Promover o turismo de natureza
O guia está integrado no projeto Discover Porto de Mós, «assente numa base de dados que é online» e que disponibiliza, «para o público em geral, toda a informação» levantada pela Vertigem em áreas do concelho – e inclusive em áreas «fora da Rede Natura», realça o presidente da associação, Rui Cordeiro, dando o exemplo da freguesia do Juncal. Segundo o dirigente, «o processo da publicação e de edição da documentação é faseado», sendo esta a terceira publicação em Porto de Mós: em 2019, foi editado um livro e sete mini-guias sobre birdwatching, e em 2021 lançaram o livro Excursões Botânicas, para conhecer a flora e fauna do concelho».
Eduardo Amaral, que é também presidente da ADSAICA, aproveitou para revelar duas novidades: o projeto turístico Aire e Candeeiros, em parceria com os municípios fronteiriços, e o próximo guia da Vertigem, sobre a temática das orquídeas e que já está a ser trabalhado.
Já o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala, agradeceu à Vertigem, na sua breve intervenção, pelo «facto de continuar a estudar e a entregar documentos que representam bem aquilo que é o valor» de «um concelho que tem 30% [da sua área] em parque natural». Depois da sessão, os palestrantes dirigiram-se com alguns membros da plateia até à Valicova, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, para percorrerem uma das rotas presentes na obra.