Quem por estes dias tem passado pela vila do Juncal, certamente que se apercebeu do clima de azáfama que se vive e faz sentir pelos seus cantos e recantos. As luzes e as flores enfeitam as ruas e o largo da igreja, o recinto vai sendo preparado e uma boa franja da população une-se em esforços redobrados para ajudar a montar o arraial mais esperado daquela freguesia, as Festas de São Miguel.
A tradição ditava que todos os anos houvesse um novo par de juízes. Ele, casado e “pai de família”, ela e as suas festeiras, jovens e solteiras. Mas desde 2022 que o modelo se alterou. Este ano não há um ou dois responsáveis, há toda uma comissão composta por cinquentões e trintões, os juncalenses das “castas” de 1973 e 1993. Ao nosso jornal, Ana Batalha, membro integrante deste “núcleo duro”, explica que «na sequência da pandemia houve dificuldade em encontrar novos responsáveis. Quem esteve nomeado para 2020 não assumiu a festa seguinte – quando já se pôde voltar a realizar -, portanto houve um grupo de voluntários, que na sua maioria tinha ou fazia 50 anos, que decidiu “pegar-lhe”. O modelo manteve-se este ano, mas com uma novidade: «Decidimos propor ao Padre António que se juntassem duas gerações distintas. A meu ver, este é um modelo positivo porque todos aqueles que fazem 30 ou 50 anos passam a saber automaticamente que o ano seguinte é deles, o que evita nomeações surpresa, algo que muitas das vezes não agradava aos próprios nomeados», diz.
Rejeitando uma «quebra da tradição», que parece causar «estranheza a alguns juncalenses», Ana Batalha prefere olhar para esta mudança como uma «evolução natural fruto das atuais circunstâncias». «O importante é que a festa se faça, e o facto de estarmos com este modelo não impede que quaisquer juncalenses se juntem e se venham oferecer para organizar uma próxima edição. Isto é tudo pela comunidade», vinca. Se há tradições que vão, há também outras que voltam ou que nascem. Este ano, a comissão de festas decidiu promover o regresso do «histórico» Circuito de Ciclismo de São Miguel e o Cross São Miguel (ver página 15), e apostou ainda no desfile da Marcha do Juncal. Mas além do desporto e da cultura, há uma outra grande proposta para este grupo de “trintas” e “cinquentas”: fazer das Festas de São Miguel um evento sustentável. Para tal, explica Ana Batalha, «vão ser utilizados copos reutilizáveis em todo o recinto, tal como este ano já se fez nas Festas de São Pedro, em Porto de Mós. Como aqui nos gerimos por trocas de fichas, decidimos que cada copo terá um valor de 60 cêntimos, o valor da nossa ficha mais barata».
Num ano que se espera marcado por um regresso de vez à normalidade, a porta-voz salienta o esforço de todo o grupo – em especial a Cristina Dionísio, que aceitou receber a bandeira em nome da comissão – e daqueles que aderiram aos apelos realizados através das redes sociais para ajudar à festa, não sem também deixar agradecimentos ao Município de Porto de Mós, à Junta de Freguesia do Juncal, aos Bombeiros Voluntários do Juncal e à União Recreativa e Desportiva Juncalense pelo apoio logístico prestado.