A mulher tem uma sensibilidade muito importante para este tipo de cargo
É já antiga a luta das mulheres por direitos iguais ao do sexo oposto. Numa fase inicial, o movimento feminista levantou a voz por causas como o direito ao voto para as mulheres, o acesso à educação, a igualdade salarial, os direitos reprodutivos e o direito a possuir propriedade. No dia 8 de março de 1975 foi instituído o Dia Internacional das Mulheres, celebrado na atualidade em mais de 100 países.
O Portomosense falou com Sandra Martins, presidente de Junta de Freguesias de Alvados e Alcaria e única mulher com este cargo no concelho, que abordou a representação feminina na política e os seus maiores desafios. A responsável, agora no seu segundo mandato, sublinhou a importância da presença feminina em cargos governamentais. «Eu acho que é muito importante, até porque nós, mulheres, temos uma visão diferente, se calhar mais a nível de organização. Acho que o olhar feminino é um olhar diferente, portanto penso que as equipas ficam muito mais completas tendo mulheres e é importante elas estarem na política», referiu. «Acho que nas lideranças, nas áreas da saúde e da educação ou noutro tipo de áreas, a mulher tem um sentido e uma sensibilidade que eu acho que é muito importante para este tipo de cargos, até para lidar com as pessoas. E [estas qualidades] poderão ajudar a melhorar as práticas e a vida de todas as mulheres também», acrescentou Sandra Martins.
Quotas de género no cenário político
As medidas implementadas que visaram subir a quota mínima por género nas listas eleitorais foram, segundo a autarca, algo «que resultou». «Embora eu ache que as pessoas devem vir pelas suas capacidades e não pela obrigatoriedade.Percebo que a lei foi criada para se trazer [mais mulheres], porque senão havia situações em que algumas listas, se calhar, não tinham uma única mulher», adiantou. Segundo Sandra Martins, não deveria ter existido «a necessidade de haver a lei», mas tendo em conta que, «muitas vezes, não havia muitas mulheres nos cargos, [esta medida] acabou por ser importante». Para a autarca, é fundamental «ter tempo, ter gosto e ter vontade de fazer alguma coisa pelo sítio» em que se está e «ter uma equipa com a qual nos entendemos bem».
“Apesar de se dizer que há igualdade, ainda não há”
A falta de tempo e de disponibilidade das mulheres para exercer cargos políticos foi uma questão abordada por Sandra Martins, que identificou a desigual distribuição de tarefas domésticas e a responsabilidade que vem com a maternidade como pontos fundamentais. «A primeira vez que fui convidada [para ser presidente] não aceitei, porque os meus filhos estavam numa idade em que já eram autónomos, mas era uma autonomia relativa e eu achei que embarcar nesta aventura que lhes ia tirar horas a eles e isso é um facto», referiu. «Eu penso que para haver mais mulheres na política tem que haver, na própria sociedade, uma maior igualdade de tarefas, para que as mulheres tenham mais disponibilidade para embarcarem nestas atividades. Muito se tem conseguido, mas ainda não é, de forma nenhuma, o necessário para que as mulheres estejam mais disponíveis», adiantou.
A responsável acredita também que «muitas mulheres não têm esta vontade» de ocupar cargos políticos, uma vez que «neste trabalho tem que haver muito espírito voluntário, são muitas horas em reuniões».
Antes de aceitar o segundo convite para o cargo na autarquia, Sandra Martins tinha, anteriormente, sido membro da Assembleia da Freguesia durante um mandato e, através da sua participação ativa, nutria já um interesse pela «colaboração e promoção da freguesia». «Penso que temos feito um trabalho, no sentido de embelezar a freguesia e de criar espaços que permitam às pessoas que lá habitam e também às que nos visitam. Somos uma freguesia muito procurada em termos turísticos e esperemos que assim continue. Não só para os turistas, o nosso foco são as pessoas que lá habitam», concluiu a presidente.