Desde os 12 anos que Miguel Jorge (hoje com 26) sabe que tem uma doença que o vai acompanhar toda a vida e que o obriga a cuidados diários (é insulinodependente): diabetes tipo 1. A diabetes caracteriza-se por um descontrolo dos níveis de açúcar no sangue (glicemia), isto quando o pâncreas é incapaz de produzir insulina devido à destruição das células que produzem esta hormona, destruição causada pelo próprio sistema imunitário da pessoa portadora. Apesar de não ter na família direta quem sofra desta doença, os sintomas que começou a sentir ainda em criança levaram-no a ir à farmácia fazer um teste. «Sentia muita vontade de ir à casa de banho urinar e tinha sempre muita sede», relata o jovem. Ainda hoje são estes os sintomas de que sofre mais, à exceção de «dois episódios de hipoglicemia» mais complicados que o levaram a ter convulsões.
O risco de ter este tipo de ataques é iminente. Todos os dias Miguel Jorge “combate” o próprio corpo, tomando as doses de insulina necessárias. Quando em criança soube que este diagnóstico lhe traria estas limitações, «não foi fácil» sentir-se «diferente dos outros». «Numa idade tão jovem gerir uma coisa em que, caso façamos um simples erro na quantidade de insulina, podemos entrar em coma, é complicado», salienta. A juntar a isto tem de «ter muito atenção à alimentação» e a tudo «o que envolve esforço físico», uma vez que a fadiga extrema é outro dos sintomas que a diabetes pode provocar. «Esta responsabilidade obrigou-me a amadurecer mais cedo», reforça ainda.
Desde os 12 anos que é Miguel Jorge que injeta insulina, a princípio «com a ajuda dos médicos e da família»: «Sempre quis ser eu a fazer para me habituar, para não estar dependente de outras pessoas», explica. Tem de tomar insulina sempre que faz uma refeição, seja ela principal ou não, e a dose está diretamente relacionada com a quantidade de comida que ingere. Em conta tem também os níveis de glicose que se estiverem elevados é necessário dar «uma percentagem de insulina para estabilizar».
Atualmente tudo isto é feito «em piloto automático» e é já «natural» viver com esta doença, mas em certos períodos da vida foi mais complicado, nomeadamente durante a vida académica. «Sobretudo nas saídas à noite, onde são feitos alguns excessos, mas tudo se conseguiu fazer, não vou mentir que me excedi um bocadinho às vezes», confessa, entre risos. Ainda assim, «sem poder fazer uma vida radical em que é permitido beber e comer tudo», conseguiu sempre encontrar um equilíbrio feliz. Também em ambiente profissional (é camionista) sempre sentiu compreensão «por parte de toda a gente» e tem conseguido manter as rotinas necessárias.
Jéssica Moás de Sá | texto