Terminado mais um ano letivo, marcado, uma vez mais, pelo regresso forçado ao ensino à distância, devido ao agravamento da situação epidemiológica em Portugal, fomos ouvir os dois diretores das escolas do concelho de Porto de Mós, que nos fizeram um balanço positivo, apesar de todos os desafios que tiveram que enfrentar, como garantir que toda a comunidade escolar tinha as competências digitais necessárias para as aulas online e, ainda, conseguir manter a motivação e o interesse dos alunos durante esse período.
Rui Cláudio, diretor do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós há sete anos garante que «na generalidade correu tudo bem» embora admita que tenham ocorrido alguns «percalços» aquando do regresso à escola, provocados por casos pontuais de infeção: «Foi muito melhor do que no ano passado, em que tivemos turmas inteiras fora. Desta vez, não houve tanta perturbação no funcionamento das aulas». Também Tânia Galeão, diretora pedagógica do Instituto Educativo do Juncal (IEJ) traça um cenário idêntico, frisando mesmo que a adaptação a esta nova realidade «superou as expetativas»: «Se alguém nos dissesse há dois anos que iríamos viver uma pandemia, que iríamos ter de fazer avaliações, dar aulas, ensinar a ler e a escrever, à distância nós diríamos que era impossível e, de facto, não foi, porque nós conseguimos dar a volta».
Depois de longos meses em que tiveram que aprender em casa, com recurso a um computador, Rui Cláudio considera que o comportamento dos alunos no regresso às escolas, feito de forma faseada entre março e abril, foi exemplar e, inclusivamente, melhor do que aquilo que se verificou no passado. «Os casos de indisciplina foram muito menos do que é habitual», realça. Por outro lado, Tânia Galeão garante que, nessa altura, era notória uma mudança emocional nos alunos, com eles a mostrarem-se «mais cansados e algo ansiosos» o que levou, inclusive, o IEJ a marcar uma «escola de pais». «Nós sentimos que os alunos vieram claramente mais impacientes, a reagirem de uma forma muito impulsiva», afirma. A diretora do IEJ não deixa de destacar o papel dos pais na resolução desta questão, que considera terem sido «excecionais», e com quem os professores foram trabalhando «sempre em sintonia». «Acho que conseguimos dar a volta. Tanto que agora, aquilo que sentimos é que estas últimas semanas foram ótimas, as crianças andavam muito felizes e serenas. Vamos de férias de coração cheio», admite.
Primeiro estranha-se, depois entranha-se
Um ano e meio depois desde que a pandemia chegou a território nacional, o uso da máscara passou a fazer parte do nosso quotidiano e apesar de alguma repulsa inicial já todos parecemos estar familiarizados com aquelas que são as regras emanadas pela Direção-Geral da Saúde, a começar pela faixa etária mais jovem. «Até se notaram com responsabilidade e civismo, no que conserva às regras que foram necessárias implementar por causa da pandemia. Não tivemos casos de desobediência do uso da máscara», refere Rui Cláudio, reconhecendo, contudo, que devido à «ânsia de convivência», a que os alunos tiveram privados, era «quase impossível» colocá-los “em bolhas”, separados nos intervalos.
Por sua vez, Tânia Galeão considera que houve uma melhoria muito grande na implementação das regras por parte dos alunos, comparativamente a 2020. «Eu acho que é um bocado como a expressão que diz “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. O ano passado tínhamos que chamar muitas vezes a atenção, agora este ano letivo isso não aconteceu. Eles cumprem», admite, acrescentando que, embora haja uma higienização constante, o IEJ dispõe de material disponível nas salas para que estes se «sintam seguros» e que, por vezes, são os próprios alunos a desinfetar as mesas.
O ensino à distância e as repercussões na saúde mental
Tanto Rui Cláudio como Tânia Galeão são unânimes na ideia de que as aulas à distância não substituem o ensino presencial. O diretor do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós conta que após o regresso à escola, tentou-se «minimizar as dificuldades que o ensino à distância acarreta», uma compensação que, lembra, estava limitada pelo número de horas que os alunos podem estar na escola. Apesar dessa tentativa de compensar o que possa ter ficado para trás, Rui Cláudio frisa que as consequências [do ensino à distância] não se conseguem «de todo, anular» e alerta para o facto de essas repercussões terem que ser minimizadas num futuro próximo. «Nunca é a mesma coisa. Em termos de resultados escolares não se notou que isso tenha prejudicado os alunos, mas em termos de aprendizagem acredito que sim e que, nos próximos dois anos tenhamos que adotar medidas para compensar as aprendizagens que não foram adquiridas», afirma.
Já a diretora pedagógica do IEJ, apesar de não descurar a importância das aprendizagens, prefere colocar a tónica na saúde mental. «As consequências maiores tem a ver com a questão emocional e social dos alunos. Se estes estiverem bem psicologicamente, as aprendizagens também se conseguem trabalhar e tudo flui», sublinha, reiterando: «Se tivermos os alunos bem, eu sinto que pouco se perdeu, sinceramente».
O ano letivo 2020/2021 ficou ainda marcado por uma alteração ao calendário escolar que por causa da pausa letiva extraordinária ocorrida no segundo período teve que prolongar por mais uns dias. Embora a maior parte já esteja de férias ou a preparar-se para os exames, os alunos do pré-escolar, 1.º e 2.º ciclo apenas terminam o 3.º período no passado dia 8. Uma decisão que Tânia Galeão diz perceber mas à qual se mostra contra, defendendo que «todos os alunos já deveriam de estar de férias»: «Eu considero que as aprendizagens foram recuperadas e que essa questão não está em causa. Eles já estão com a cabeça no descanso, porque eles precisam desse descanso», justifica.