Diretos nas redes sociais: a viagem virtual que transformou as fragilidades nas oportunidades

24 Novembro 2020

Jéssica Moás de Sá

A pandemia obrigou a que muitos estabelecimentos fechassem, mas isso não os impediu de encontrar estratégias para chegar ao público e vender. Nos últimos meses, começou a ser cada vez mais natural, que nos ecrãs dos nossos telemóveis, aparecessem alertas de diretos nas redes sociais. De um lado, temos uma loja de brinquedos e puericultura e do outro, uma loja de roupa.

Por ser recente, tenho de fazer a divulgação por várias vias

Nisa Anastácio deixou há dois anos o seu emprego, para começar de forma integral um negócio. A loja Ni Brinca, agora física, foi, durante algum tempo, apenas um part-time: «Trabalhava numa escola como técnica de contabilidade, mas gostando muito do mundo dos brinquedos e das crianças, arranquei nesta área em regime part-time, normalmente ao fim-de-semana e sem loja física». Depois, sentiu a necessidade de tomar «uma decisão» mais definitiva e optou por abandonar por completo o seu emprego «e agarrar com pés e cabeça» este projeto. Estando ainda a dar os primeiros passos numa loja física, em Serro Ventoso, de onde é natural, não foi de uma forma fácil que encarou a pandemia que impôs um conjunto vasto de restrições.

Apesar de admitir «não gostar nada» de estar em frente à câmara, não deixou que isso fosse um impedimento para encontrar, nos meios digitais, uma “arma”. «O objetivo [dos diretos] era a divulgação, porque estando a loja um pouco afastada do comércio de vila ou mesmo do comércio serrano com mais movimento, tinha que arranjar forma de chegar às pessoas. Como é uma loja recente, tenho de encontrar várias vias para que as pessoas conheçam os meus produtos», explica. Habitualmente seleciona um conjunto de produtos para mostrar, mas os clientes «trocam as voltas»: «Tenho uma grande variedade de artigos, as pessoas interagem no direto e perguntam por vários produtos, o que acaba por “baralhar”, não mostro apenas o que tinha selecionado», diz entre risos. Esta interação constante é vista com bons olhos pela lojista, porque permite «mostrar mais produtos» e saber exatamente o que os clientes procuram.

Uma das maiores vantagens é «angariar público que não está tão perto», sobretudo tendo em conta o facto da «loja estar muito isolada». O “boca a boca” continua a ser essencial para Nisa Anastácio, mas para arranjar clientes de outras zonas a «partilha em grupos» nas redes sociais «é fantástica». Com esta ferramenta, Nisa Anastácio confessa que acabou por não sentir um impacto tão forte da pandemia: «As pessoas estavam isoladas em casa e esta forma de comunicar ajudou a que comprassem artigos para trabalhar em casa com as crianças. Houve uma venda constante».

Fechou-se a porta da loja, abriu-se uma janela

A New Sportlive, na vila de Porto de Mós, tem seis anos e sofreu uma atualização de conceito, com o «cunho pessoal» das proprietárias e irmãs, Marlene e Gisela Ferreira. Se antes esta era uma loja de roupa dedicada ao desporto, agora está muito longe de ser apenas isso: «Temos um estilo desde o casual chic, street wear até à roupa mais clássica para homem, senhora e criança. Temos também calçado. Continuamos a ter material de desporto, porque temos procura, mas estamos direcionadas para uma onda jovem e moda». Estas mudanças na loja «procuram ir ao encontro das tendências» e se falamos de tendências, os diretos no Facebook também se tornaram numa. Foi mesmo por isso que Marlene Ferreira, que está a tempo inteiro na loja, sentiu que esta era uma boa aposta.

«Convidei a minha irmã para fazermos um direito, lancei o “barro à parede”, se ela me tivesse dado para trás, nunca tinha acontecido, porque sozinha não fazia», conta entre risos, Marlene. Ambas concordam que o que torna os seus diretos diferentes é mesmo o facto de serem duas, caso contrário, tornam-se «monocórdicos». «Uma vantagem que também tentámos trazer foi o facto de podermos vestir e despir a roupa por sermos duas. As pessoas agradeceram imenso, poderem visualizar a roupa vestida», explica Gisela.

Têm um alinhamento escolhido para os diretos, «para que sejam harmoniosos». Uma das estratégias que utilizam é criar diretos temáticos: «Uma vez trazemos looks low cost, outras vezes de nova coleção, por exemplo», explicam, tentando chegar a diferentes públicos. O facto de terem «um tipo de roupa abrangente em termos de estilo e tamanhos» dificulta a escolha porque se torna impossível «mostrar tudo», frisa Marlene. Mas, apesar de terem pré-definidos os modelos que vão mostrar, não preparam nada em termos de discurso. «Espontaneidade é connosco. Tudo surge no momento, nada está combinado», garantem as irmãs, que dizem que o grau de parentesco também ajuda, porque pelo facto de se conhecerem muito bem, «às vezes basta um olhar» para saberem o que a outra está a pensar. A principal preocupação que têm é serem «divertidas», até porque já assistiram a diretos em que «é apenas debitar roupa» e não consideram essa a melhor forma de captar o público.

Nos diretos já estiveram pessoas dos «Açores, França, Canadá e Cabo Verde», exemplo de que chegam além fronteiras. Os frutos desta ferramenta têm aparecido: «Às vezes não aparecem na venda no próprio direto, mas ao longo das outras semanas». Sentiram a pandemia, «até porque houve um mês em que a loja fechou», mas ainda assim reconhecem que «havendo imaginação» se consegue contornar as consequências negativas. Os diretos de Gisela e Marlene Ferreira têm ainda outra novidade: «Temos sempre um sorteio, um miminho para a nossa audiência». «Nós pedimos ajuda às pessoas para divulgar a loja, mas não o pedimos gratuitamente», concluem.

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