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Do “alto” dos seus 9 anos, Rodrigo quer ser o melhor

30 Maio 2019
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

30 Mai, 2019

Foto: Jéssica Moás de Sá

Provavelmente ainda não articulava todas as palavras na perfeição, nem dominava plenamente o equilíbrio do seu corpo quando, aos três anos, Rodrigo Barros, natural da Corredoura, subiu pela primeira vez para uma moto. A “culpa” foi do pai, Valdemar Barros, um admirador de motocross que encontrava neste desporto um «hobbie». Valdemar e um sobrinho com o qual partilhava este passatempo, encaravam o motocross «como uma aventura de fim de semana» pela qual se foram «apaixonando». Para o pai de Rodrigo foi importante transmitir esta paixão ao filho para «lhe incutir um gosto» e por acreditar que o motocross é um «desporto excelente por estar em contacto com a terra, com a água e com a natureza». O pequeno Rodrigo «foi gostando cada vez mais» das motos e dos «saltos, velocidade e do barulho» que este desporto envolve. O empenho foi tanto que o que era apenas «uma brincadeira» tornou-se num palmarés de conquistas para o atleta, agora com nove anos.

A primeira prova em que participou foi em 2012, num troféu regional em Sintra, mas desde então, Rodrigo Barros já foi campeão de motocross e supercross e conquistou, em várias provas, posições de destaque. Em 2016 foi distinguido pelo Município com uma placa de reconhecimento pelo desempenho conseguido no supercross. Este ano está em segundo no campeonato nacional de motocross, a 24 pontos do primeiro quando ainda faltam duas corridas.

A mãe, Márcia Moreira, reconhece que o motocross tornou o Rodrigo mais «independente e responsável» e também mais «evoluído [em termos de desenvolvimento] que as outras crianças». A escola continuou «sempre a ser a prioridade» e o Rodrigo já sabe que «quando tira más notas» falta às provas de motocross, embora, conta a mãe, «nunca tenha tirado uma negativa». No ambiente escolar, o Rodrigo sente-se algo «deslocado» porque muitos dos seus colegas não compreendem o desporto que pratica, confessando que se sente «mais confiante» com «os amigos do motocross».

O jovem piloto imagina o seu futuro profissional no mundo de duas rodas e os pais observam no filho «o potencial» necessário para isso. Tanto Valdemar como Márcia destacam o «psicológico muito forte» que o Rodrigo tem como uma mais valia neste meio. Exemplo disso, foi a reação a sucessivas lesões que o afastaram das pistas. Apesar de ter envolvido um «trabalho psicológico para devolver confiança» ao Rodrigo, para o pai é um motivo de «orgulho», depois destes problemas físicos, o filho ter «voltado a andar de moto». Márcia Moreira diz que em nenhum momento o Rodrigo quis desistir, porque na sua mente está o objetivo de «ser o melhor».

“Vivemos para o motocross”

O Rodrigo treina todos os fins de semana na pista de Pataias, única na região e que é gerida pelo pai. Valdemar Barros começou por ser o treinador do filho, mas a exigência das provas fez com que fosse necessário arranjar treinadores mais adaptados à competição. Durante a semana, o piloto frequenta também três a quatro vezes por semana o ginásio, para atingir «uma preparação física», explica a mãe, «que lhe permita aguentar a exigência» das provas. O pai ressalva que a evolução do filho também tem sido fruto da «força» que ganhou com o ginásio que o prepara «para impactos maiores em caso de uma queda».

Foto: Jéssica Moás de Sá

Os pais confessam que, gerir a carreira de Rodrigo, não tem sido uma tarefa fácil porque exige dedicação total, também por parte deles: «Agora não temos vida, é tudo para o pequeno». Valdemar Barros descreve que «os fins de semana deixaram de existir» porque são inteiramente passados em treinos do Rodrigo. Muitas vezes, o regresso a casa faz-se apenas «ao domingo à noite», sendo necessário preparar tudo para uma nova «semana de escola». As férias também «não têm existido», admite a mãe, porque quando «acaba o motocross, começa o supercross».

Mais exigente ainda é a gestão financeira a que este desporto tem obrigado. Entre os maiores gastos estão as viagens e a compra e manutenção das motos. Valdemar encarrega-se da parte mecânica, permitindo uma ligeira poupança no orçamento. Ainda assim, explica o pai, «quem faz um campeonato nacional ou europeu tem que ter uma carteira bem grande». O Rodrigo tem patrocinadores, o que lhe permite ter alguns descontos em material mas, ainda assim, os pais admitem que o investimento é grande. Para as viagens, tanto a nível nacional como para o estrangeiro, têm «uma carrinha transformada em autocaravana» para poderem ter «condições para tomar banho, cozinhar e ter o mínimo de coisas» para estarem confortáveis. A carrinha permite ainda levar todo o material necessário para as provas. Márcia e Valdemar já pediram alguns apoios institucionais, mas nunca obtiveram resposta positiva nesse sentido. O pequeno atleta reconhece que o esforço dos pais «é complicado» mas garante que tudo faz para os «impressionar».

Os pais não querem pressionar o filho a vencer, embora a mãe reconheça que quer ver no filho «esforço» durante as provas. Esse esforço «é mais importante que as vitórias» e é também assim que pensa Rodrigo Barros: «Não é por ficar em primeiro ou em segundo, importa-me que me esforcei e que tive o apoio e acompanhamento dos meus pais, os meus apoios». Os pais sentem «um orgulho enorme» no filho e o «o que ele está a fazer, na luta pelo campeonato» é uma «vitória» para Valdemar e Márcia pela «evolução» que apresenta.

Entretanto, o Rodrigo vai continuar a entrar nas pistas, não sem antes se benzer e «pedir a Deus ajuda», ritual que cumpre antes de cada prova e os pais vão continuar a sofrer «sem demonstrar» ao filho, mas com a certeza que o vão «acompanhar quando ganha e quando perde».

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