E as Festas que nunca mais chegam…
A capacidade de adaptação do ser humano à realidade de cada momento vê-se nas pequenas e nas grandes coisas mas não deixa de ser surpreendente. A situação que me ocorre neste momento não será grande coisa para ilustrar este pensamento. Provavelmente, nem poderá entrar no capítulo das tais “pequenas coisas” dada a sua dimensão “micro” no contexto global e no que a esta temática diz respeito mas confesso que acho curioso como é que em um ano e pouco conseguimos aceitar como normal e inevitável a não realização das Festas de São Pedro (e tomo-as como exemplo de algo mais vasto, claro).
Da primeira vez foi estranho, muito estranho. As Festas eram o grande momento de convívio e de reencontro dos portomosenses. Faziam-nos falta, parecia muito difícil viver sem elas. Agora, passado um ano e depois do muito que já vivemos nestes longos e loucos meses, a notícia de que, pelo segundo ano consecutivo, não vão ter lugar, tem sido recebida com toda a naturalidade.
Não significa que as pessoas não sintam a sua falta e que não precisem até de uns dias para sair da rotina, descomprimir e festejar o que houver para festejar, mas já perceberam que à luz do momento que vivemos ainda não é possível fazê-lo do modo como estávamos habituados. A par da perceção de que as coisas estão diferentes houve, claramente, uma adaptação a esta nova realidade mas quando tudo mudar, e esperamos que seja ainda a tempo do São Pedro de 2022, lá estaremos na rua, prontos a festejar e, estou em crer, como se este período quase não tivesse existido.
Entre os estudiosos destas matérias não há consenso, embora a maioria considere que depois de tamanha revolução nas nossas vidas nada ficará igual. Eu, por mim, e enquanto leigo na área, estou mais inclinado para o lado do pensamento minoritário: acredito mais na nossa capacidade de nos adaptarmos às circunstâncias do momento que a uma mudança estrutural na nossa forma de agir e, principalmente, de pensar.
Se a pandemia estiver controlada no espaço de um ano tenho dúvidas que daqui para a frente tudo vá ser diferente. O mais provável, e pegando no exemplo das Festas, é que voltemos a fazer quase tudo igual e se, neste caso, daí até não deverá vir grande mal ao mundo (embora seja importante pôr em prática aquelas regras de higiene e de convívio social com que vimos sendo bombardeados há mais de um ano), há outras coisas com muito mais impacto nas nossas vidas e na própria sociedade que convinha que mudassem e para melhor, fruto das aprendizagens que, eventualmente, tenhamos feito durante este período tão difícil.