E como tudo o que começa, também acaba, hoje é tempo de me despedir de todos vós, enquanto diretor deste jornal.
Foram 20 anos de muito trabalho, de alegrias e tristezas, de coisas boas, más e outras assim-assim. No fundo, estes 18 anos, em que estive em efetividade de funções, e os outros dois, noutro período, enquanto diretor interino, foram o espelho do que é a vida de qualquer um de nós: umas vezes amiga, outras, madrasta, mas sempre cheia de desafios e de aprendizagens. Ganhei e perdi amigos, conheci muita gente boa e outra que nem por isso, mas olhando para trás, penso que os ganhos suplantam, de longe, as perdas, embora algumas tenham sido particularmente duras. Surpreender-me com a natureza humana foi algo que me acompanhou do primeiro ao último minuto, prova de que mesmo que pensemos que nada nos surpreende, a vida encarrega-se de nos mostrar que, afinal, há sempre mais alguma coisa a aprender com os outros, assim o saibamos fazer.
Enquanto diretor de “O Portomosense”, a minha Bíblia foi sempre o primeiro editorial deste jornal assinado pelo seu fundador, o saudoso João Matias, o senhor que, um dia, com a frontalidade que sempre lhe reconheci e apreciei, me disse: “Quando começaste, escrevias muito mal, agora estás melhor”. Vindo de João Matias, aquilo que podia ser visto como uma nota menos positiva, soube a elogio e dos bons.
De facto, vi sempre no primeiro editorial, a definição clara das linhas dentro das quais teria de trabalhar. João Matias definiu muito bem o que seria o seu jornal, aquilo que os portomosenses poderiam esperar dele e se há coisa que sempre defendi, é que não podemos defraudar as expectativas e os compromissos assumidos com os nossos leitores. Devemos, naturalmente, evoluir, acompanhar os tempos, mas sem cortar com o passado, com as nossas raízes. No fundo, tal como enquanto pessoas, manter os valores de base, aqueles de que não prescindimos mesmo, mas ir crescendo com a experiência e a par do mundo. Portanto, ao longo destes 18 anos, “mais dois”, houve muita coisa que mudou, mas sempre com a preocupação de nunca abandonar o essencial, de nos mantermos dentro das linhas definidas pela tal Bíblia interna.
Trabalhar em prol do concelho de Porto de Mós foi sempre a prioridade e julgo que isso foi claro e deu bons frutos. As opções foram minhas, mas sempre muito discutidas com toda a minha, ou as minhas equipas, e se a responsabilidade do que possa ter corrido menos bem a assumo por inteiro, porque pela natureza das funções, em última instância, as decisões finais teriam de ser sempre minhas, o eventual mérito divido-o, com todo o gosto e uma enorme gratidão, com todos os elementos que passaram e que ainda hoje integram a nossa redação.
Quase a terminar deixo um sincero obrigado a todas as pessoas e entidades públicas e privadas que comigo colaboraram ao longo de todos estes anos e à Catarina Correia Martins, a nova diretora de “O Portomosense”, expresso os meus votos dos maiores êxitos para o desafio que agora abraça.
E porque sou apreciador confesso de gestos simbólicos, deixo um agradecimento especial ao meu amigo Armindo Vieira de quem fui estagiário e que me ensinou as primeiras letras da difícil arte de fazer jornalismo (e todos sabemos a importância das “bases” na formação de qualquer profissional), ao João Neto, pelo voto de confiança que depositou em mim ao propor-me para diretor, o que à luz da realidade da época acredito que não tenha sido uma decisão fácil, esperemos que nunca se tenha arrependido. Agradeço, ainda, ao António Almeida, um dos rostos da CINCUP quando lá entrei, que, entre muitas outras coisas, me ensinou que, além da necessidade de termos sempre vestida a camisola das causas em que acreditamos, temos de ter bem presente que mesmo fora de serviço representamos uma casa, uma instituição, uma causa e que, por isso, todos os nossos comportamentos contam. Por último, expresso a minha gratidão ao Dr. Pedro Santiago, desde sempre presidente da Assembleia Geral da CINCUP, por toda a colaboração prestada e que em muito extravasou as competências do cargo que, com inteiro mérito, ocupa.