É bem melhor irmos a banhos…
Noutros tempos, nesta época, o país ia a banhos. Hoje, a esta altura, parece que já toda a gente se banhou e é pena.
Se o país continuasse a ir a banhos, podia ser que o período dedicado à corrida autárquica diminuísse e, encurtando-se essa fase “porque sim”, porque as pessoas tinham de ir a banhos, e não por imposição legal, podia ser que assistíssemos a menos cenas literalmente tristes. Nalguns casos, deprimentes e noutros, deploráveis mesmo.
A algumas pessoas fazia-lhes muito bem ir a banhos. Mesmo que fossem na Nazaré, já representavam uma mudança por algumas horas em relação à sua rotina normal e o mudar de ares, dizem os especialistas, traz sempre benefícios. Por outro lado, o ritual do banho, na sua essência, remete-nos para um ato de limpeza e de descontração. Ora, sendo certo que não é expectável ver alguém de sabonete ou gel de banho a ensaboar-se nas águas do mar, o ir ao banho já de algo modo nos deixa mais “limpos” e tem ainda o benefício de nos descontrair, e bem que muita boa gente precisa de se descontrair tal a tensão que transporta em si.
De quatro em quatro anos, muita gente se transfigura e há uns quantos, demasiados por sinal, que perdem o bom senso e, no limite, amigos, abrindo ainda guerras familiares sem sentido. Depois, feitas as contas, ficam com tudo isso às costas para resolver e muitos do poder nem o cheiro. A sua função foi agitar as águas. Os lugares, esses, estavam reservados para outros, da mesma equipa, que se souberam proteger porque para quem lá quer chegar, só interessa levantar ondas q.b.
A campanha eleitoral ainda nem sequer começou e já se verificam excessos de vária ordem, mas a incidir, em grande parte, no ataque e na ofensa pessoal. Em privado, vários leitores têm-nos dado nota de alguns discursos a raiar a ameaça pessoal e profissional feita agora através das redes sociais, na internet. O meio parece ser excelente para dizer muitas coisas que não há coragem para dizer pessoalmente, mas depois há quem se esqueça que é tão fácil partir para a ofensa e para a ameaça mais ou menos velada, como tirar uma foto à conversa tida no chat, gravar uma conversa telefónica que a determinada altura se revela ofensiva para uma das partes, e por aí adiante. Maravilhas da técnica, dirão uns. “Abre-olhos” e eventual travão para abusos, dirão outros.
Portanto, quem estiver tentado a ir por caminhos mais estreitos e perigoso (algo que desaconselho de todo) é conveniente tentar perceber antes se o seu interlocutor é info-excluído ou ainda usa equipamento da quase Pré-História tecnológica. É que agora há aplicações para tudo e mais alguma coisa e os equipamentos estão cada vez mais avançados, embora, verdade seja dita, para se fazer o famoso “print” não é necessária grande tecnologia. Confesso a minha ignorância relativamente ao peso legal que este tipo de “prova” possa ter, mas também aqui há muita gente que, em vez de ir pela via tradicional, opta por devolver a gentileza pelos tais caminhos estreitos e perigosos e muito desse material acaba nalguma página de internet ou é difundido em privado, contacto a contacto, fazendo até mossa maior que uma muito tardia decisão judicial (se é que o caso chegaria a tanto).
Por tudo isto, será que vale a pena chegar a tanto? Não será melhor aproveitar o que resta deste verão meio atípico e ir ainda uns dias a banhos à Nazaré, às Paredes (da Vitória, por sinal…) ou em tantas outras praias excelentes que temos à porta de casa? Uma ida à costa alentejana e ao Algarve, também não é de pôr de parte a quem o puder fazer. Ir a banhos é bem melhor e muito mais saudável que entrar em guerras por causa da política, e com isso fazer perigar amizades de décadas e esse bem igualmente maior, que é a paz familiar.