O Cineteatro de Porto de Mós foi, mais uma vez, palco da sessão solene do 25 de Abril. Relembraram-se momentos da história, que remonta a 1974, fizeram-se analogias com o presente e foram enfatizadas as dificuldades que permanecem e que urgem resolver, com a participação de todos, a começar pelos jovens, referidos na sessão, como uma faixa etária pouco participativa, a nível democrático. Este ano, a sessão contou com um convidado especial, o antigo ministro da Educação, Júlio Pedrosa, que destacou o papel fundamental do ensino descentralizado na preservação da democracia.
Quem tomou da palavra, logo no início da sessão foi a presidente da Assembleia Municipal de Porto de Mós, Clarisse Louro, que, feitos os devidos agradecimentos, começou por evocar os «Capitães de Abril», no entanto, a mensagem deixada pela presidente, neste dia, não foi apenas de louvores, foi também de preocupação pelos tempos atuais: «Quando comecei a alinhavar ideias para esta reflexão sobre a data histórica, fiquei bloqueada nas dificuldades do país. Onde está o direito à Saúde, à Habitação, à igualdade de oportunidades e a tantos outros que pensávamos ter como adquiridos?», questiona. Clarisse Louro reconhece que é preciso continuar a «lutar por eles», relembrando que «a Democracia nunca poderá ser dada por adquirida e irreversível».
Pela primeira vez a discursar numa sessão solene do 25 de Abril, a presidente Jovem Autarca, Isa Ferreira, considerou a celebração desta data «no caso dos jovens, como uma forma de agradecer a conquista, sendo uma oportunidade para refletir sobre a importância dos valores e de como se pode continuar a defendê-los». Ciente de que os «desafios atuais da juventude portuguesa», são muito «distintos daqueles que eram os dos jovens de há 50 anos», Isa Ferreira acredita «na capacidade e na responsabilidade dos jovens» de hoje, para criar «mudanças significativas na sociedade», e por isso aproveitou o momento para incentivar «a participação ativa dos jovens na vida política e social do país», essencial «para garantir que os direitos conquistados não se percam».
Representantes partidários não tomam a Democracia por garantida
Rita Miguel, representante do Partido Socialista (PS), deu voz ao discurso que preparou para celebrar o dia da Revolução de Abril. A deputada lembra que, à altura deste momento da história, «ainda não era nascida», e que só tem conhecimento dele por meio das memórias contadas, daqueles que «lá estiveram», mas reconhece «que o que aconteceu continua a ser muito importante e vale a pena» relembrar o marco e passá-lo aos mais novos, bem como aquilo que representa. Muitos dos «direitos de hoje», considera, foram conseguidos «graças ao 25 de Abril», por isso «é triste ouvir que Abril nada diz às gerações mais jovens», lamenta a deputada, reforçando a necessidade de dar valor à Democracia, reforçando, à semelhança de Clarisse Louro, que «não é um dado adquirido» e que o «25 de Abril não é só mais um feriado». O 25 de Abril é «um ponto de viragem, um salto no desenvolvimento político e social do país» e, por isso, «deve e merece ser celebrado e lembrado, sempre», defende.
A representante do Partido Social Democrata (PSD), Dulce Custódio, aproveitou a sessão solene para expressar as falhas existentes no modelo atual, «resultado dos últimos anos de um socialismo arrogante». «Tão longe que estamos de tudo o que se sonhou e lutou», lamentou a deputada, reforçando que é preciso «fazer vingar os valores de Abril, no país, no concelho e na comunidade». E isso, frisa, «faz-se aqui precisamente na casa da Democracia e exige de cada um de nós uma voz ativa e responsável». «Temos o dever de fazer parte da solução, a vida que foi sonhada na madrugada do 25 de Abril, depende de cada um de nós e tem que ser muito mais que um romance de espingardas e cravos», finalizou.
A deputada não inscrita Sandra Sousa não discursou na sessão, por não ter conseguido comparecer à mesma.
Educação: a arma mais poderosa dos valores democráticos
Em destaque na sessão solene do 25 de Abril, este ano, esteve o antigo ministro da Educação, Júlio Pedrosa, que começou a sua apresentação por agradecer o convite feito pelo presidente da Câmara Municipal, Jorge Vala, para celebrar o marco histórico. No seu discurso, o ex-ministro recorda a história da Educação, fazendo uma crítica ao ensino centralizado do Estado Novo e defende uma maior intervenção do poder local: «Vários municípios estão a envolver-se na Educação de modo exemplar, escolhendo alguns importantes eixos de intervenção para promover a sua melhoria». O antigo governante defendeu ainda «que a transferência de competências para as autarquias continua a ser uma oportunidade a não perder para introduzir as mudanças necessárias». Assim, nas palavras de Júlio Pedrosa, «os municípios e os responsáveis pela governança local deverão eleger a Educação como um tema agregador de uma estratégia que ilumine os processos de descentralização». No final do seu discurso o ex-ministro deixou um repto à audiência: «O que é que nós podemos fazer juntos, autarquias, cidadãos, famílias, educadores, instituições educativas, para realmente melhorar a Educação?», desafiou.
O encerramento da sessão coube ao presidente da Câmara, que durante o seu discurso evocou os 49 anos de Democracia e salientou «a importância dos valores democráticos passados às gerações mais jovens». Ao mesmo tempo que criticou o regime salazarista, o autarca advertiu para o risco de retrocesso democrático, associado ao esquecimento da História: «Vamo-nos tornando dependentes da nossa liberdade e não vislumbramos que esta possa ruir a qualquer momento». Neste sentido, Jorge Vala considerou imprescindível «evocar, a cada ano e a cada oportunidade, a essência de Abril», apontando «a Educação como a arma mais poderosa de preservação e fortalecimento dos valores democráticos conquistados nos últimos 49 anos». A finalizar a sua intervenção, o autarca prometeu «continuar a dar voz a Abril».
Fotos | Rita Santos Batista