Querem-se bem ponderadas as palavras que pretendem compor este elogio, que não é só meu, mas de todos nós, colegas, amigos e familiares de António Júlio de Sousa Pinção, mesmo fustigado com o seu humor, de uma subtil mordacidade amassada numa ternura, elegante, que estimava muito. Bem o sabemos!
De certa forma, sem me querer pôr em bicos de pés, estas palavras pretendem ser um tributo de todos a uma figura que marcou, pela lisura, muito mais que a sua própria geração. Um homem ímpar na elegância dos sentimentos, não tenho dúvidas em afirmá-lo.
Para mim, que não tenho a sabedoria dos homens capazes de deixar bom rasto, é uma honra, profundamente triste, evocar nestas páginas, a perda de um Amigo e dos sorrisos que semeava.
A morte chega sempre cedo, como diz o poeta. Cedo demais. Sempre. Elogiar um Amigo muito querido, nestas circunstâncias, pode parecer um ofício redundante. Mas aqui não!…
Era um puto de mão-cheia, dentro de um deslumbrante colecionador de juventudes.
Disse a um amigo comum, magras horas depois da sua morte: sabes, o Toju morreu… Caíram-lhe as lágrimas. De imediato. Sem qualquer palavra… Diz tudo!
Neste particular momento, para estarmos mais próximos do nosso Toju, é nossa obrigação guardar as sementes dos seus sorrisos, misturadas na turbulência dos seus vastos encantos, numa certa saudade do futuro, como diria Teixeira de Pascoaes. Haveremos de regá-las com bons líquidos para que se enraízem numa estima eterna.
Ao leme do barco desses sorrisos cristalinos ia sempre um homem inquestionavelmente bom, talentoso e de um carinho sem limites.
Tinha uma personalidade emotiva, que teimava esconder, dentro de um coração apaixonado pelo mundo, pela vida e pelos mais próximos e, até, por qualquer um lhe aparecesse no caminho.
À conversa com outro amigo, caíram-lhe as palavras, na recordação de uma família de bem-dispostos criativos, onde o Toju brilhou.
Um homem que também chorava quando esse mesmo coração lhe embaraçava as palavras.
Partiu para lugar incerto, mas decerto bom, onde já estão velhos companheiros de jornada.
Deixo aqui um extrato do tributo de Miguel de Sousa Tavares à sua mãe Sophia de Mello Breyner, que se aplica aqui na perfeição:
(…)
E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
(…)
Toju: Vais andar por aqui muitos e muitos anos. Muitos!
E, já agora, vai um copo cheio de imensa gratidão?!…
Haveremos de nos ver por aí!…
Um abraço.