Alcides Oliveira exerce há quase quatro anos a função de presidente da Junta de Freguesia de Mira de Aire. Nesta entrevista revela que se irá recandidatar por uma força política diferente daquela por que foi eleito mas, mais uma vez, como independente. O autarca destaca ainda alguns dos principais problemas da freguesia, como a falta de emprego e, defende a necessidade de haver uma intervenção “grande” na Estrada Nacional 243.
Está a escassos meses de completar o primeiro mandato à frente da Junta de Freguesia de Mira de Aire. Qual o balanço que faz?
O balanço que faço é positivo. Eu vinha com determinados objetivos mas que por vicissitudes várias não os cumpri todos, nomeadamente, por causa da pandemia que atravessamos, dos recursos que temos e dos procedimentos administrativos que se têm de efetuar. A somar a isso, desde outubro de 2020 até fevereiro de 2021, a única funcionária que temos esteve de baixa e durante esse tempo as coisas, em termos de secretariado, estiveram praticamente paradas.
Gostaria que muito mais tivesse sido feito mas que, até ao momento, não foi e por esse motivo não vou completamente satisfeito. A Junta de Freguesia de Mira de Aire, assim como as restantes, para fazerem obras de vulto, necessitam de alguma colaboração da Câmara Municipal que, apesar de ter sido uma entidade parceira, não tem recursos para fazer tudo aquilo a que nos propusemos.
Quais são as obras que ainda ficam por realizar?
Uma obra que gostaria de ver realizada está relacionada com a Estrada Nacional 243 que se encontra em muito mau estado e necessita de uma intervenção grande, principalmente no edificado de Mira de Aire, ou seja, desde o princípio até ao fim das casas. Essa estrada, que já não estava boa, é bastante utilizada por camiões de transporte de pedra, que aí transitam em elevado número, e tem vindo sempre a piorar. Além disso, as águas pluviais deixam a estrada em muito mau estado e quem se ressente são, essencialmente, os habitantes que vivem nos dois lados da rua. As queixas são muitas.
Outra é a questão do saneamento, porque nos deveríamos de avançar para uma terceira fase. Contudo, essa não é uma obra que compete à Junta, terá que ser sempre lançada pela Câmara mas, segundo o presidente, está a ser tratada no sentido de haver uma candidatura a um apoio qualquer que surja.
Outra fonte de problemas é o encaminhamento das águas pluviais que vêm da parte superior da vila, pelas estradas fora, em direção ao Polje de Mira-Minde e que não estão a ser devidamente acomodadas. Existem alguns locais que são um grande manancial de problemas.
Estamos a escassos meses das eleições autárquicas. Vai recandidatar-se?
Sim, vou recandidatar-me, mas, desta vez, pelo PSD e novamente como independente. Sou militar de carreira, atualmente em situação de reforma, e aquilo que me fez candidatar há quatro anos e o que agora me recandidatar é o facto de ter algum tempo disponível e de poder ceder algum desse tempo ao serviço da Junta de Freguesia, sem qualquer cor partidária por trás.
Durante estes últimos quatro anos, considera que a freguesia evoluiu?
O grande motor das pessoas é terem um emprego, se não houver emprego as coisas complicam-se para elas e para a economia da freguesia. Em Mira de Aire temos um grave problema em termos de criação de emprego e é óbvio que se as pessoas vivem com dificuldade no seu dia a dia, já lhes sobra muito pouco para investirem seja naquilo que for.
Em termos de Junta de Freguesia temos feito algumas obras, só que com o orçamento que temos quando tapamos de um lado, destapamos do outro. A Junta não tem capacidade para fazer uma obra de 30 mil euros porque se a fizermos, depois não vamos ter capacidade de realizar as coisas pequenas que vão surgindo. Assim, vamos fazendo aquilo que é possível, como recuperar e fazer alguns passeios pedonais e encaminhar as águas pluviais em locais mais prementes e perigosos.
Fizemos um grande investimento na Igreja Velha, atual centro de exposições, onde está a ser feita a recuperação da talha dourada no âmbito do Orçamento Participativo de 2020 e que foi mais um sorvedouro de dinheiro. Para investirmos ali, deixámos de investir noutro lado, mas se não o fizéssemos, o edifício iria chegar a um ponto em que seria muito complicado de recuperar porque já havia infiltrações, as madeiras estavam todas com bicho e teve que ser tudo tratado. Além disso, também preparámos a terra no último talhão que temos disponível no cemitério e tudo tem a sua despesa.
Acredita que a Área de Reabilitação Urbana (ARU) que está a ser elaborada para Mira de Aire poderá ser a oportunidade que a vila precisava para ganhar uma nova vida e para que esta volte a ser atrativa para quem lá queira viver?
A recuperação e beneficiação da Estrada Nacional 243 é essencial para que as pessoas das habitações que rodeiam essa via tenham vontade de recuperar as suas casas porque se não acodem ao edificado, que está a necessitar imperiosamente de obras, aquilo vai acabar por cair e vamos ficar como uma imagem ainda pior do que aquela que temos. À semelhança do que aconteceu e está a acontecer em Alvados, nós temos tido alguma procura de casas para compra de pessoas que as querem recuperar e ficar cá a viver. Só que raramente as pessoas pegam no edificado da estrada principal porque basta dormirem lá uma noite, que ao ouvir passar os carros e os camiões, alguns deles em velocidades exacerbadas, para facilmente perderem a vontade de irem para lá viver.
À semelhança de outras freguesias do concelho de Porto de Mós, Mira de Aire também se debate com o envelhecimento da sua população. Esta é uma preocupação da autarquia?
É óbvio que é uma preocupação. Eu fui o coordenador da freguesia para os Censos 2021 e sei que houve menos população recenseada do que em 2011. Se isto não muda, qualquer dia ficamos com muito pouca gente. Quando os jovens vão estudar para as grandes cidades, onde há mais facilidade em arranjar em emprego e uma oferta de trabalho muito mais rica, eles nunca mais regressam. E quando os próprios filhos da terra não se sentem atraídos a regressar onde nasceram é muito complicado depois ter a devida contrapartida dessa diminuição com um aumento de procura por quem quer comprar casa e passar a viver aqui.
Se o Município pretende que, de facto, haja um aumento de população e uma oferta de emprego na generalidade das freguesias têm que ser criadas condições melhores do que aquelas que existem atualmente.
Mira de Aire foi, em tempos, uma freguesia com bastantes indústrias e onde trabalhavam centenas de pessoas. Hoje, a realidade é bastante diferente. Considera que seja possível reforçar o tecido empresarial com mais e melhores empresas?
Nas circunstâncias atuais será complicado que isso aconteça, porque a burocracia existente e as condições necessárias para instalar uma empresa agora são completamente diferentes de há 70 anos. Neste mandato, mais nenhuma empresa se instalou na nossa Zona Industrial (ZI), aquilo praticamente não teve desenvolvimento nenhum. O terreno onde está instalada é muito inóspito. Nós somos um território que está, essencialmente, implantado em cima de pedra e as empresas para se instalarem em qualquer lado da freguesia têm logo um investimento grande à cabeça para preparar o terreno e instalar aí a sua empresa.
Por outro lado, nós temos uma grande necessidade em Mira de Aire que é a existência de uma média-superfície de comércio porque as pessoas daqui e das aldeias em redor ou vão a Porto de Mós ou deslocam-se a Minde. Eu não tenho nada contra Minde mas seria muito melhor que o dinheiro que as pessoas gastam ficasse em Mira de Aire em vez de ir todo para lá.
O seu mandato, tal como de todos os outros autarcas ficou condicionado em parte, pela COVID-19. Como é que tem lidado com a pandemia?
Ao longo dos meses, consoante as necessidades da população, a Junta esteve disponível para ir fazer compras pelas pessoas e dar-lhes algum conforto, em caso de necessidade. Ao executivo da Junta, a pandemia foi mais um serviço prestado à população e é assim que tem de ser entendido.
Mira de Aire tem um longo historial em termos culturais. A construção da Casa da Cultura veio contribuir a realização de iniciativas culturais ou ainda está muito aquém do desejado?
Agora está muito aquém. Em condições normais, havendo ali aquela infraestrutura a ocupação do espaço teria de ser dinamizada. Até à chegada da pandemia, houve alguma dinamização com ensaios e espetáculos, mas mesmo assim, aquele espaço merecia uma maior utilização. Tem que se arranjar uma maneira de fazer uma ocupação maior e disponibilizar as instalações a algumas associações da freguesia que nem sede têm.
Embora a Junta não tenha a ver com isso diretamente, entende que o facto de ter sido criada uma associação que junta Mira de Aire e Minde é sinal que apesar das freguesias vizinhas pertencerem a concelhos e distritos diferentes, podem trabalhar juntas e ajudarem-se mutuamente?
Alcanena e Porto de Mós nunca estiveram de costas voltadas, assim como Mira de Aire e Minde, embora em décadas passadas tivessem existido, possivelmente, alguns desentendimentos. Mas isso foi tudo ultrapassado, até porque os dias que atravessamos carecem de entendimentos e não de desavenças. Esta nova associação que surgiu pretende dar um novo envolvimento ao Polje, que está nas duas freguesias, e é bem-vinda porque é uma área que precisa de algum trabalho de manutenção e que o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) seja um parceiro facilitador e não um parceiro complicador.
Em termos de turismo, Mira de Aire parece assentar muita da oferta apenas nas Grutas. Acredita que é possível aumentar a oferta e com isso levar os turistas a visitar outros espaços da freguesia?
O Polje tem alguns trilhos e caminhos que poderão ser aproveitados para quem nos visita. O turismo de Natureza é um nicho que convém explorar e essa terá que ser a aposta do executivo num próximo mandato, ou seja, arranjar maneira de puxar as pessoas também cá para baixo, não tirando a importância que as Grutas têm.
Quais são os lugares que quem se desloque à freguesia de Mira de Aire não pode deixar de ver?
A talha dourada da Igreja Velha, quando estiver concluída, a Igreja Matriz, onde está uma das maiores tapeçarias do mundo, a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte e a Capela de São Silvestre são outros dos pontos que merecem ser vistos. Além disso, temos as Grutas de Mira de Aire e o Museu Industrial e Artesanal do Têxtil (MIAT) que carece que as pessoas o vão visitar. Temos ainda a Nascente da Pena, um espaço icónico de Mira de Aire que precisa de uma intervenção.