Em entrevista… Clarisse Louro

Autor: | 1 Jan 2019

Em entrevista… Clarisse Louro

1 Jan 2019

A entrevistada da primeira edição de 2019 d’O Portomosense é a presidente da Assembleia Municipal, Clarisse Louro. Pouco mais de um ano depois de ter iniciado o seu mandato, Clarisse Louro faz um balanço e uma avaliação do que está a ser feito neste órgão autárquico. Sem “papas na língua”, a presidente analisa a atuação de deputados municipais e do próprio executivo camarário, sem esquecer o funcionamento da Assembleia Municipal e a escassa participação do público.
Sobra ainda tempo para uma breve passagem pela vida profissional e pessoal de Clarisse Louro, assim como pelos assuntos por que se bate desde a campanha eleitoral.

Há cinco anos foi apontada como possível candidata à Câmara pelo PSD, o que não se veio a concretizar. Agora deu a cara pela Assembleia Municipal (AM). Confirma que houve um longo namoro que só agora resultou em casamento?

Não houve namoro nenhum. Fui convidada para a Câmara mas era algo que não constava dos meus objetivos. Sou professora do ensino superior e isso sim é o meu projeto profissional e de vida. Agora fui candidata porque o Jorge Vala me convidou. Fiquei honrada e refleti durante algum tempo porque quando nos candidatamos, especialmente na política, expomo-nos e eu não tinha necessidade de me expor. Tenho uma carreira sólida, uma vida profissional estável, gosto muito do que faço e sinto-me realizada. Por outro lado, não foi fácil em termos familiares, tanto o meu marido como as minhas filhas não acharam muita piada à ideia. No entanto, pensei que estava na altura de, de uma outra forma, ajudar o meu concelho e sendo o Jorge [Vala] uma pessoa de quem gosto e em quem confio, sentia que se fosse com ele as coisas iriam correr bem porque nestas coisas também é preciso sentirmos que a pessoa que vai connosco é competente. Eu já não sou nenhuma criança e não posso colocar o meu nome em “xeque” de qualquer modo. Aceitei porque é um lugar não executivo.

O desafio executivo não a fascina?

Eu gosto de fazer coisas e se não me sentisse realizada em termos profissionais possivelmente até gostaria de me candidatar e tinha muita coisa para fazer mas para isso teria de abdicar da minha carreira profissional, de que gosto muito e onde levo a cabo vários projetos. Entretanto, fui convidada pelo presidente do PSD, Rui Rio, para presidir à comissão que a nível regional está responsável pela apresentação de propostas na área da Saúde e é outro projeto que abraço com muito gosto porque é a minha área profissional, onde me doutorei, e se um dia ele for primeiro-ministro, gostava de ter a oportunidade de lhe dizer o que gostava que o país fosse em termos de saúde.

Qual o balanço que faz deste primeiro ano de mandato?

Faço um balanço positivo. É uma AM tranquila em que os deputados falam e respondem com tranquilidade e onde o presidente da Câmara vai preparado, preparado, preparado. Tem havido diversidade de opiniões (que deve haver) mas às vezes questiono-me…

Acha pouco?

Acho pouco. Dá a sensação que estamos num interrogatório. É importante que questionem o presidente mas discute-se pouco o concelho. Andamos há anos a falar da Central mas só ouvi questionar se a empresa responsável pela obra faliu ou se há verba suficiente, mas alguém perguntou o que é que Porto de Mós quer que a Central seja? Parece-me que não! Fala-se da água e do saneamento e parece que ainda estamos no terceiro mundo. Alguém já questionou se a forma como estamos a fazer saneamento na era das novas tecnologias, é a mais correta? Outro exemplo: Fala-se muito de festas e festinhas mas já alguém perguntou qual o objetivo das festas e se isso faz parte de um plano integrado? Não. Questiona-se o dinheiro gasto para se chegar à conclusão que, afinal, ainda se gasta menos…

Incomoda-a esta forma de trabalhar em termos políticos?

É extremamente importante haver diversidade de opiniões e Deus nos livre de estarmos todos a abanar a cabeça, a dizer que sim. É importante cada um ter a sua opinião e poder manifestá-la, mas não estar sempre a interrogar em sentido negativo ou até destrutivo. Isso é que me incomoda seriamente. É por isso que há uma descredibilidade total entre a classe política em geral, não se constrói. No mundo académico isso não acontece, se uma coisa não está bem damos soluções e aqui era importante que o executivo tivesse outras ideias, que não apenas a sua, para analisar.

No debate nas autárquicas disse que se estivesse no lugar de um munícipe que chegasse à Assembleia e visse “que só serve para rasgar elogios ao executivo e onde nunca se põe nada em causa” provavelmente também estaria pouco motivada para participar. Salvaguardadas as devidas distâncias não é um pouco nisso em que estamos a cair?

É evidente que o PSD tem de elogiar o presidente porque são da mesma linha política mas também o questiona. Compete às outras bancadas fazer o contraditório, questionar se esses elogios têm razão de ser, não é o criticar por criticar, porque isso soa mal, é destrutivo e não leva a lado nenhum. As pessoas estão cansadas porque o que passa é a crítica negativa do “não se fez isto, não se fez aquilo”. A oposição tem o direito de criticar mas também o dever de apresentar soluções. Eu nunca ouvi uma solução na AM. Aliás, há pessoas que nunca falam e eu acho que deviam falar mas parece-me que as assembleias nem sempre são trabalhadas. Não se faz o trabalho de casa porque se se fizesse havia muita coisa para discutir.

Considera que os lideres de bancada terão, nessa perspetiva uma responsabilidade acrescida?

Os lideres de bancada são pessoas com muita experiência política e penso que preparam as assembleias, pelo menos, sei que o do PSD o faz mas esse está num papel mais tranquilo porque o seu partido está no poder. A oposição tem de se preparar melhor e aqui o preparar melhor não é haver apenas duas ou três pessoas que levam questões, mas usar a palavra noutro sentido, dar-lhe mais competência técnica e científica, mais conteúdo porque é esse conteúdo que nos faz pensar, senão é politiquice por politiquice e isso não nos leva a lado nenhum.

Uma das queixas em relação à AM é que tem sessões demasiado longas. No início do mandato a situação melhorou mas estamos a voltar ao mesmo. Há demasiada tolerância na gestão dos tempos? O que é que está a falhar?

Os tempos estão a ser cumpridos e não está a falhar nada. Cada partido tem o seu tempo definido e este é dividido pelas pessoas que pedem para falar, ora, se numa bancada intervierem uma ou duas vai parecer que falaram muito, mas enquanto controlarmos o tempo desta forma não lhes vou cortar a palavra, não faz sentido. Tenho que deixar falar mas depois, claro, fala-se, por vezes, por falar. As pessoas repetem-se, repetem-se e estamos sempre a ouvir o mesmo discurso. O essencial era que pensassem que tendo esse tempo de antena deviam preparar um discurso importante para a comunidade, onde se discutissem ideias e se questionasse o presidente da Câmara não só sobre o que fez ou deixou de fazer mas das suas ideias para determinada área.

Numa das sessões insurgiu-se contra o extenso número de pontos da Ordem de Trabalhos e disse que não se repetiria mas na sessão seguinte até houve mais. Isto significa que não há volta a dar?

Não, não há volta a dar. O presidente da Câmara tem obrigatoriamente de levar determinados pontos a determinadas assembleias e depois há mais uma situação ou outra que tem de ir também. Se eu dividir os pontos [para não serem tantos] tenho de fazer uma assembleia extraordinária noutra data e isso custa muito dinheiro dado que cada deputado tem direito a uma senha de presença e portanto temos de controlar os custos e isso passa por condensar as intervenções. Uma coisa que tem contribuído para que as sessões não se prolonguem por tanto tempo é termos, para já, e infelizmente, poucas intervenções do público, e então passamos logo para o ponto seguinte.

O público nas sessões é escasso e intervém pouco. Também aqui não há volta a dar?

Aqui há: divulgando, divulgando, divulgando e mostrando-nos, mostrando-nos, mostrando-nos e explicando às pessoas o que é uma assembleia municipal. Ainda hoje estive numa visita a lares de idosos e instituições que cuidam de crianças e aproveitei a oportunidade para lhes explicar. Eu penso que já começam a perceber um bocadinho, pelo menos já sabem que a AM pode contribuir para ajudar a resolver os problemas, e eu tenho pessoas que me questionam com problemas que encaminho para o senhor presidente, e isso para mim é muito gratificante.

Excetuando as sessões, os deputados são pouco vistos noutros momentos de relevo concelhio e autárquico. O que pensa sobre isto?

Acho que é uma lacuna enorme dos políticos porque entendem que é só em campanha eleitoral que devem aparecer e isso tira-me do sério. Quando se está em campanha aparece tudo, encontramo-nos todos e parecemos uns loucos mas a política não pode ser assim e os cidadãos já o perceberam. Se não fosse presidente mas deputada estaria presente em todos os locais para onde me convidassem. Quando as pessoas votam em nós, não votam só em quem lidera a lista, votam em quem concorreu e é por isso que quem foi eleito tem a obrigação de estar nos atos públicos. Hoje, por exemplo, na visita às instituições estive sozinha (à exceção dos presidentes de Junta) apesar de ter convidado todos os lideres de bancada. Sei que é sexta-feira e que as pessoas trabalham mas amanhã, sábado, temos novas visitas agendadas e estamos no final da tarde e ainda ninguém disse que ia comigo.

Em termos da AM há quem diga que os presidentes de Junta participam pouco. Concorda?

Questiona-se um pouco se os presidentes de Junta devem fazer parte das AM com direito a voto. Eu defendo que sim mas quando um executivo camarário funciona bem e trabalha com os presidentes de Junta para tornar o concelho coeso e resolver os problemas, o papel do presidente de Junta na AM fica um pouco esvaziado. Em Porto de Mós é fácil a um presidente de Junta falar com o presidente da Câmara e há, ainda uma reunião mensal entre eles, portanto não terão a necessidade de levar à AM, o problema do tijolo ou da rua que não foi alcatroada.

Tinha intenção de criar um gabinete de apoio ao munícipe. Chegou a fazê-lo?

O gabinete funciona todas as últimas sextas-feiras do mês, da parte da manhã, por marcação, no entanto tem tido muito pouco sucesso. Tenho recebido pontualmente uma ou outra pessoa mas hoje as pessoas privilegiam os “e-mails”, as redes sociais e o telefone. Tenho recebido muitos “e-mails” e telefonemas a dar-me conta de coisas que estão menos bem. Como tenho uma boa relação institucional com o senhor presidente converso com ele e está sempre disponível para me ouvir e tentar resolver essas situações.

Uma das suas bandeiras foi a da descentralização das AM mas até agora só fez duas. Porquê?

Quero continuar a descentralizar as AM porque acho muito importante que passem por todas as freguesias e não vou terminar este mandato sem o fazer, só que há sessões que por um motivo ou outro não é possível descentralizar. A próxima será descentralizada. Já fomos a Serro Ventoso e ao Alqueidão da Serra mas não há um critério previamente definido. Serro Ventoso foi a exceção: é a minha freguesia e fazia muita questão de fazer esta primeira sessão lá.

Como correram estas duas?

Muito bem. Falou-se dos problemas da freguesia e levei lá as IPSS locais para que dessem a conhecer aos deputados e a toda a gente, aquilo que fazem e os problemas com que se defrontam. Foi uma boa experiência e é para continuar.

As sucessivas oposições têm-se queixado de que a Mesa da AM é bastante mais tolerante na gestão do tempo das intervenções dos presidentes de Câmara, do que dos deputados. O que pensa desta crítica?

Não sabia que a faziam mas não faz sentido, o presidente tem de responder às questões que lhe colocam, não tem mais tempo que o que lhe é devido. Eu posso dizer-lhe para falar menos mas também é importante que explique bem as coisas para que todos percebam o que se está a fazer.

Por vezes, alguns deputados queixam-se da receção fora de prazo da documentação referente à AM. Há essa falha?

Penso que não. Há algumas situações em que o senhor presidente manda os relatórios por uma questão de transparência, mas todos os outros têm ido na altura certa garante-me o secretariado. É evidente que pode acontecer uma situação ou outra em que há um atraso mas não é por isso que os senhores deputados deixam de poder fazer o seu trabalho.

Acha que, por ser a primeira presidente mulher, trouxe algo de novo a esta AM?

Não trouxe nada de mais nem de menos por ser mulher. Há mulheres competentes e incompetentes. Há homens competentes e incompetentes. A competência não tem a ver com género, não há qualquer evidência científica que nos permita afirmar que por ser homem ou mulher as coisas são diferentes. Aquilo que se faz tem a ver com aquilo que a pessoa é, com o seu caráter e com a sua competência. Embora pense assim, concordo com a existência de quotas na política porque é uma área onde o “macho” impera e se não houver quotas as mulheres não podem mostrar se são competentes.

Portanto, não é por ser mulher que as sessões são conduzidas de um modo diferente?

Comportamento gera comportamento. O senhor presidente é um homem calmo, em nenhuma sessão levanta a voz e isso leva a que quem ouve também não o faça. Eu sou uma pessoa que, por natureza, não grita, não preciso, não há necessidade. Claro que há coisas que me tiram do sério, mas como não há necessidade de maltratarmos o outro, não há necessidade de sermos agressivos, porque agressividade puxa agressividade. Quando somos competentes, não precisamos de nos afirmar pelo levantar da voz.

Disse que a AM não mais se vai pronunciar sobre o caso do alegado plágio [numa moção aprovada no anterior mandato] até que o Ministério Público tome uma posição sobre o assunto, mas pode a Mesa impedir algum deputado de falar seja sobre o que for?

Esta questão do plágio é daquelas coisas que me tiram do sério, como boa académica que sou. Plágio é crime, e com isto, quero fazer uma ressalva, não estou a dizer que houve ou não houve plágio. Mas se houve, é dos crimes mais baixos e tem que ser penalizado. A questão é que eu não estava em funções quando tudo aconteceu. Quando entro para o cargo, o suposto visado envia-me um “e-mail” a dizer que “já que está aqui uma presidente, que também é professora”, gostaria muito que esta situação fosse resolvida e explicou que se sentia honrado por a sua tese de mestrado ter sido útil mas que a única coisa que pedia era ser citado nesse documento e aquilo que eu disse foi que eu não conseguia fazer nada quanto a essa situação e que devia explicar isso numa AM, e foi isso que ele fez.
Posteriormente, eu disse que a maneira de resolvermos isto era remeter o caso para o Ministério Público porque é a única entidade que me poderá dizer se aquilo é crime ou não e foi isso que foi feito. Agora aqueles deputados querem falar sobre o quê? Se querem discutir, politicamente, se é correto um senhor que era líder de bancada e que se calhar tinha na altura uma avença com a Câmara, andar a citar se as pontes devem ser ou não de interesse municipal, ou se querem voltar atrás na decisão, à vontade, agora de plágio não, porque não vou permitir que se esteja a opinar sobre uma coisa que não é da competência da AM.

No entanto, o deputado Rui Neves (PS) acusou-a de algum modo de ter dado o assunto encerrado na AM mas depois ter contribuído para que a discussão continuasse na Câmara?

Confesso que na altura em que o senhor deputado me apresentou, com uma falta de respeito, uma cópia do documento que enviei para o Ministério Público, a perguntar se sabia que papel era aquele, eu não percebi o que queria dizer e não me expliquei bem. A senhora presidente da AM deu o assunto por encerrado mas no dia em que enviou o documento para o Ministério Público pediu [ao secretariado] para dar conhecimento ao presidente da Câmara porque ele tem de ter conhecimento destas situações. O que fiquei a saber é que o senhor presidente, como era seu dever, informou o executivo na reunião de Câmara. O que foi incorreto foram os senhores vereadores que, ilegalmente, fizeram fotocópias desse documento. Se sou vereadora tenho o dever do sigilo e não vou tirar fotocópias de documentos apresentados nas reuniões. Eu como presidente da AM disse que não voltaria a falar do assunto e não falei, agora o que se faz a seguir tem de se ter muito cuidado. As politiquices não podem entrar nestas coisas porque senão andamos aqui em faltas de sigilo, ética e moral em assuntos muito complicados e em que o feitiço se pode virar contra o feiticeiro. Eu não gosto que entrem em jogos comigo.

É defensora da criação de grupos de trabalho no seio da AM e penso que chegou a propôr a criação de alguns mas numa assembleia pequena como a nossa faz sentido avançar por aí?

Julgo que faz. É extremamente importante criarem-se comissões especializadas para trabalhar determinados assuntos. Acho de uma riqueza enorme, mas ainda temos que crescer muito, deixar a “politiquice barata” e de “uns são de uma área e outros de outra e eu estou aqui porque sou desta e tenho que atacar o outro que não é”. Quando criamos estas comissões especializadas é para trabalhar áreas específicas e de certeza que na AM temos pessoas que nas suas áreas profissionais, são altamente competentes. Então essa competência tem que ser para se unirem e pensar o que é melhor para o concelho e deixarem-se de politiquices.

E qual é o contributo que pode dar nesse sentido?

Tem razão, não posso só pôr a carga toda nos outros e não em mim. Eu já tentei mas tenho de tentar mais porque às vezes também me chateio. Por exemplo, ainda hoje fiquei aborrecida por ter andado sozinha a visitar as instituições e não saber como será amanhã. Também gosto de estar no meu sofá, cuidar da minha vida pessoal e profissional, mas neste caso, se andássemos juntos estabeleciam-se laços de amizade e afetividade e assim trabalha-se melhor. Da minha parte acho que também não tenho dado tudo, tenho que lutar um bocadinho mais para que isso aconteça, reconheço.

Sendo a cara de várias instituições consegue fazer a separação entre o que é a presidente da AM e a dirigente associativa e académica?

Sim, consigo separar bem as coisas mas não tenha dúvidas de que o município também ganha, por exemplo, em eu ser diretora de uma instituição com assento em todos os órgãos do Instituto Politécnico de Leiria onde, ocasionalmente, contacto com secretários de Estado e ministros e a quem falo logo de Porto de Mós. A atual ministra da Saúde, por exemplo, conhece bem o concelho e o problema da falta de médicos porque trabalhei com ela dois anos, num grupo, e eu falava-lhe sempre desta questão. Ainda há pouco foi convidada para ir à minha escola e me perguntou se não queria que viesse também a Porto de Mós.

Enquanto pessoa ligada à área da saúde como é que analisa a situação a nível concelhio?

Penso que têm sido dados passos enormes. O senhor presidente tem trabalhado muito bem com a vereadora da Saúde e Ação Social. Estão a ser pensadas duas novas Unidades de Saúde Familiar, uma em Mira de Aire e outra em Porto de Mós, e vamos ter a unidade móvel de saúde, portanto há aqui um conceito de prestação de cuidados de saúde diferente. No caso da unidade móvel é o médico e o enfermeiro que vão ao encontro dos idosos e não o contrário. Se tenho idosos em casa que não conseguem vir ao centro de saúde, somos nós que temos de ir até eles, isso de ficar à espera dos utentes acabou, o próprio hospital já está a fazer isso.

Tem defendido que a solução para a falta de médicos no concelho, passa obrigatoriamente pela constituição de Unidades de Saúde Familiar (USF) mas há clínicos que discordam…

Discordam mal e estão mal informados. O conceito de centro de saúde deixou de existir e as unidades tal como as conhecíamos são para terminar, aliás, o Governo já devia ter terminado todas e os senhores doutores quer gostem, quer não gostem, vão ter de o fazer porque a lei assim o diz. A USF é a única maneira de termos médicos no concelho porque tem uma visão diferente da prestação de cuidados de saúde e os médicos passam a trabalhar por objetivos e a ganhar mais. Deram-se passos gigantescos a este nível e por isso é que tanto a Câmara como os médicos estão empenhados na constituição de mais estas duas USF. Este grande passo tinha que ser dado em Porto de Mós e fico muito feliz e tranquila por o estar a ser. Tudo farei para que não haja alguém sem médico de família. Gostaria também que percebessem que isto não obriga ao encerramento das extensões de saúde. Se estão mal assim podemos pensar na sua reorganização.

Os idosos, principalmente, os que vivem mais isolados têm sido desde sempre uma das suas principais preocupações. Daquilo que conhece acha que são bem cuidados?

Sim, são. A Câmara tem uma política do envelhecimento ativo muito importante com o estabelecimento de protocolos com o IPL, a Universidade Sénior e a Associação Tempos Brilhantes, entre outras, com base nos quais a vereadora tem programado uma série de atividades de apoio aos idosos e à família. É evidente que ainda há espaço para fazer mais, mas uma das preocupações deste presidente (e daí eu estar com ele neste projeto autárquico) é o bem estar da comunidade. Isso é muito mais importante que estar preocupado com o buraco ou o alcatrão, porque se as pessoas estiverem bem cuidadas é meio caminho andado para ter uma comunidade satisfeita e com boa qualidade de vida.

Isidro Bento | texto
Catarina Correia Martins | fotos
Jéssica Moás de Sá