Em Entrevista… Jorge Paulo Carvalho

Autor: | 13 Abr 2021

Jorge Paulo Carvalho é presidente da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga há dois mandatos. Antes da unificação de freguesias, tinha sido presidente da Freguesia da Mendiga e fala-nos das diferenças entre estar no comando de uma ou duas freguesias. Nesta entrevista, o presidente faz um balanço positivo destes oito anos, não sabendo para já se se recandidatará a um novo mandato.

Está há dois mandatos à frente desta União de Freguesias, sente que cumpriu os principais objetivos?
Penso que o Executivo cumpriu minimamente, mas é claro que há coisas que ficam sempre por fazer. Penso que fizemos obras de grande valia para a Freguesia, a que muita gente pode não dar valor, mas que são estruturas fundamentais como os cemitérios, que já dão para 20 ou 30 anos, e as casas mortuárias que ficam prontas neste mandato, nas capitais da Junta de Freguesia. Com estas obras as coisas ficam mais ou menos estruturadas nesta altura.

Tem a possibilidade de se candidatar a mais um mandato, pretende fazê-lo?
Ainda não sei, ainda não consigo responder a essa pergunta. Há muita coisa ainda a ponderar, eu precisava de descansar, mas ainda não sei mesmo o que vou fazer.

E se ficar, quais são ainda as metas que tem por cumprir?
Muita coisa ainda falta fazer, mas como fizemos investimentos massivos nestes dois mandatos, penso que agora podemos embelezar um pouco mais a Freguesia. Ainda devíamos fazer uma obra que penso que será necessária que é um Centro de Saúde mais moderno, novo, para as duas terras. Teríamos que arranjar um sítio no centro, não sei quais os passos que irão ser dados pela Direção-Geral da Saúde, mas acho que é algo fundamental para a Freguesia ficar com as infraestruturas todas como deve ser. É a minha opinião nesta altura, mas eu não mando e obviamente o presidente de Junta não vai gastar 200 ou 300 mil euros num Centro de Saúde como deve ser para depois não ter médico, mas penso que é por aí. Depois, podemos embelezar a terra, há muita coisa a fazer, muitos passeios, muitas limpezas, muitos caixotes do lixo que têm de ser mudados, muitas placas da estrada que têm de ser organizadas como deve ser, imensas coisas para fazer ainda.

Foi presidente da Junta Freguesia da Mendiga entre 2009 e 2013. Quais as grandes diferenças entre gerir apenas uma Freguesia ou uma União de Freguesias?
Quando fui eleito pela Mendiga foi mais fácil porque as coisas são bastante diferentes. Uma União de Freguesias não é fácil, na altura em que se deu essa mudança, pela forma como foi feita, nós levámos com as balas e os tiros todos, salvo seja, ouvimos muitas críticas mas a culpa também não foi nossa, foi do Governo Central que impôs. É muito mais difícil, são muito mais pessoas, mais ideias, mas penso que agora temos as coisas bem encaminhadas. Se for ver, a Junta de Freguesia tem investido bastante dinheiro no Arrimal, se calhar também precisava mais um bocado, mais até do que na Mendiga. Várias obras estão feitas no Arrimal, por exemplo, de alcatroamento, esta é a minha opinião, se calhar as pessoas não entendem isto.

Económica e socialmente, tem sentido que a União de Freguesias tem crescido de forma sustentada?
Sim, penso que sim. A Junta de Freguesia tem um orçamento de 600 mil euros, que acaba por ser pouco e as coisas têm que ser bem geridas e acho que têm sido bem feitas. Penso que temos sabido trabalhar, tanto eu, como os governos anteriores que estavam na Mendiga e no Arrimal que foram fazendo as coisas a pouco e pouco, embora os fregueses achem sempre que é insuficiente. Ainda vamos alcatroar mais uma estrada no Arrimal neste mandato e fazer mais umas obras que estão já combinadas, penso que as coisas ficam bem encaminhadas. Como digo, falta muita coisa, há muita coisa a fazer. Penso que a partir de agora temos que nos centrar mais em ajudar as pessoas. Se cá ficar, é preciso segurar os caixotes do lixo para não abalarem com o vento, é preciso fazer muitos passeios, criar outras condições às pessoas e deixar as grandes obras, que ficaram feitas. Temos associações, casas mortuárias, cemitérios preparados, penso que as coisas ficaram no bom caminho.

Podemos afirmar que o envelhecimento e a consequente desertificação é um dos problemas mais graves que enfrentam?
Sem dúvida. Houve tempos, por exemplo no meu tempo de juventude, em que eu e muitos amigos fizemos aqui uma casa, hoje em dia, os meus filhos e outros já não param por aqui, porque não foram criadas as condições para haver emprego especializado. Eles foram estudar e têm de sair daqui, para Leiria, para Lisboa, têm que ir para outros lados, vai ser assim o futuro e vão ficar os mais velhotes por aqui. É um problema que temos e cada vez vai ser mais difícil trazer coisas para a Freguesia porque temos menos população.

Ao longo dos últimos anos falou-se da importância que poderia ter uma zona industrial nestas terras. Considera que poderia ser possível instalar um núcleo de empresas na Freguesia?
Podia ser possível e já deveria ter sido. Se vier, vem com 30 anos de atraso. Agora vou ser um bocadinho duro, o problema é termos aqui e sermos governados pelo Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, há coisas que não se justificam, muitas vezes não passa por eles, também passa pelas Câmaras, mas já podia ter sido dado esse passo há muitos anos. Nesta altura já vem tarde, mas ainda viria em boa altura.

O que é que faltou para avançar com esse processo?
Eu penso que é falta de vontade política, a Junta de Freguesia não tem possibilidade para fazer uma coisa dessas, agora a Câmara, os executivos que por lá têm passado, o atual não vou criticar porque não teve tempo ainda, mas outros tiveram. Ainda se pensou em começar a fazer mas depois parou-se e não se fez nada. Era muito importante para a Freguesia, mas é como digo, se vier, vem 30 anos atrasado.

A indústria da pedra é uma das que permanece. Tem ainda hoje o peso que já teve em tempos?
Ainda tem muito peso, temos muitas pedreiras de blocos e sai muita pedra. A calçada reduziu um bocado, mas nesta altura, eu vou à minha serra e se quiser um metro de calçada, não tenho lá nenhuma partida, é sinal que ela está a sair toda. A Junta de Freguesia e aqui tenho que considerar também o PNSAC, é um parceiro fundamental nas pedreiras de calçada porque tem que ser tudo legalizado agora, as normas estão diferentes, houve muita gente que teve que abandonar, mas as que estão a trabalhar, estão a trabalhar bem, estão a pagar à Junta e estão a faturar mais cá.

Há na União de Freguesias alguns elementos marcantes (como as lagoas, o Arco da Memória, os Telhados de Água), de que forma estes elementos têm contribuído para atrair pessoas?
Têm atraído pessoas, para já pelas obras em si e depois como foi feito aqui o Viver Porto de Mós na Lagoa Grande e nos Telhados de Água, acho que foi uma mais-valia. Agora as coisas têm estado confinadas e não podemos fazer nada, mas as lagoas são sítios maravilhosos que temos na Freguesia e que precisam de algum investimento também, temos essa intenção. Já foi feito algum investimento, mas gostávamos de fazer mais, mas tem que ser ponderado por causa do PNSAC, porque não é um espaço urbano, é selvagem. Temos lá uma parte em que água com o vento, vai mexendo a terra e entretanto temos uma serventia para terrenos que está cheia. Temos que fazer algum investimento, isto é o principal. Mas se começarmos a pensar nas lagoas, pensamos num passeio, uns bancos, umas árvores, temos tanta ideia para lá fazer, assim o deixem e assim haja investimento para isso.

Tem sentido a comunidade envolvida nas dinâmicas da Freguesia ao longo destes anos?
Penso que sim, as pessoas vão sempre pedindo mais isto e mais aquilo, como é evidente, mas tem havido uma boa relação. A Junta também tem feito as coisas, não tem pedido muito às pessoas, mas quando tem pedido terrenos para alargamentos de estradas, as pessoas têm feito o papel delas. Passámos alguma dificuldade com a união das freguesias, aquele primeiro ano foi mais complicado, mas acho que as coisas agora estão sanadas e no bom caminho.

Mas é um povo bairrista, que gosta muito das suas terras?
Sem dúvida. Aqui na serra, na minha Freguesia, temos as nossas “capelinhas”. A Marinha da Mendiga tem uma associação, a Mendiga também, o Arrimal também, o Alqueidão do Arrimal não, mas tem uma Igreja, as coisas estão todas organizadas, as pessoas são muito bairristas. É um bom sinal.

Enfrentou, enquanto presidente de Junta, um dos maiores desafios para todos os autarcas, uma pandemia. Como tem sido este período e quais têm sido as maiores dificuldades?
A maior dificuldade é ver as pessoas a fazerem aquilo que não devem e termos que repreender. Tem sido bastante difícil, estivemos alguns meses sem médico e agora temos destacada uma médica que nos tem ajudado muito, tem sido maravilhoso para União de Freguesias, tem estado a trabalhar muito bem. Em relação ao confinamento, há os cafés, os restaurantes, as pessoas querem trabalhar e precisam e depois há situações complicadas, mas para isso existem as autoridades competentes para as resolver. Tem sido bastante difícil e tenho muito medo, na nossa Freguesia, temos dois ranchos, temos várias associações, tudo está parado, sem faturar, são casas que têm contas para pagar e está a ficar muito difícil, mas a Junta está cá para ajudar e tem ajudado conforme pode.

Teme que essas associações, no final da pandemia, não consigam manter-se ativas?
Tenho algum medo, mas a Junta tem feito tudo o que pode para isso não acontecer. Os subsídios que estavam destacados, mesmo sem haver os eventos, temos cumprindo a nossa missão de transferir o dinheiro, não é bem o mesmo valor, porque não existe o evento, mas o dinheiro tem ido parar às associações tal e qual. É muito triste, é uma situação muito complicada.

Tem um conhecimento vasto sobre estas terras, o que distingue esta União de Freguesias de outros lugares?
Temos coisas maravilhosas nestas serras, paisagens lindas, mas aquilo que saliento mais são as lagoas, o Arco da Memória, as lapas que ainda são um pouco desconhecidas, e temos mais coisas por descobrir e estamos a trabalhar para isso acontecer. O confinamento tem posto as freguesias da serra mais a descoberto, está sempre muita gente na serra e a conhecer os caminhos nos seus passeios higiénicos, agora têm mais tempo. Até me vão dizendo umas críticas que antes não diziam porque não costumavam ir para estes sítios, mas construtivas, fazem muito bem.

Sempre foi para si um objetivo tornar-se presidente da Junta de Freguesia?
Chegou a uma altura que sim. Sentia que tinha essa missão e sinto-me muito rico com esta União de Freguesias, ao princípio não foi fácil para mim nem para a família, mas nesta altura acho que é um conhecimento enriquecedor das coisas e do que temos aqui.

Se pudesse convencer os jovens a manter-se na terra, o que diria?
Os jovens conhecem-me e sabem perfeitamente que sempre os apoiei em tudo e continuo a apoiar. Devíamos ter aqui mais alguns centros para emprego, porque as coisas mudaram muito, os cursos e a vida mudou muito e não temos cá nada para se adaptarem. Mesmo assim, este ano estão-se a construir umas sete ou oito casas novas, há quem queira voltar às origens. Isto é um sítio maravilhoso para viver, estamos perto de Lisboa e de vários sítios, temos um banco, a Junta, os correios, um posto médico, a vida aqui é maravilhosa e há pessoas que vêm e dizem o mesmo. O mercado e o confinamento também têm trazido mais pessoas para cá, há casas velhas que estão a ser recuperadas, pessoas a comprarem, as coisas têm mudado um bocadinho. Não é nada de outro mundo, mas tem-se notado.