Madjer é, acreditamos, um nome conhecido para a maior parte dos leitores de O Portomosense. O antigo jogador de futebol de praia, agora coordenador para esta modalidade na Federação Portuguesa de Futebol, que deu uma palestra no Instituto Educativo do Juncal (IEJ), falou também em exclusivo ao nosso jornal.
O Madjer venceu tudo o que havia para vencer, individual e coletivamente. O talento é importante, mas é fundamental dizer aos jovens que sem trabalho nada se consegue?
Eu acho que essa é a principal mensagem que se deve passar. Podemos ter muito talento mas se não nos rodearmos das pessoas certas para trabalhar, não conseguimos atingir os nossos objetivos. Tive a felicidade de, ao longo destes anos, ter estado rodeado de pessoas de excelência, a todos os níveis, tanto colegas de trabalho como fisioterapeutas, treinadores, que fizeram com que, a nível coletivo, se tenham atingido os objetivos principais. Esta é outra mensagem que devemos passar: quando estamos inseridos numa modalidade coletiva devemos pôr o ego coletivo à frente do ego individual. Todos devemos ser sonhadores mas temos que ter sonhos com bases e alicerces fortes, ou seja, devemos sonhar com os pés bem assentes na terra. Vamos encontrar muitas dificuldades, nem tudo é fácil, só com muito trabalho conseguiremos ultrapassar esses obstáculos.
Terminou a carreira aos 43 anos. É preciso muita disciplina física e mental para jogar até tão tarde?
É preciso toda a disciplina do mundo e mais alguma, quem quer ter essa longevidade a nível de carreira desportiva tem de seguir à risca várias fasquias que vão sendo colocadas. Consoante avançamos na idade, mais dificuldades vamos ter em acompanhar a nível físico as modalidades em que estamos inseridos. Por isso, temos de ser muito disciplinados mas acho que temos que o ser em tudo na vida. O desporto dá-nos essa disciplina.
Atualmente é coordenador para o futebol de praia na Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Em que é que ter sido jogador o ajuda a desempenhar estas funções e o que é que tem tentado mudar?
Quando me foi feito o convite pela FPF, assim que terminei a carreira, pensei logo que seria o casamento perfeito. Estive 22 anos ligado a esta modalidade, sei perfeitamente as lacunas que tem, as dificuldades que atravessámos. Enquanto jogador, e numa parte mais amadora, os jogadores da seleção nacional chegavam a montar os campos, levavam as águas e lavavam os equipamentos em casa, que é coisa que hoje em dia não acontece, mas que foi fruto de um crescimento. Foram dores iniciais de crescimento que continuamos a ter.
A FPF costuma fazer este tipo de atividades nas escolas de forma a incutir o desporto nos jovens?
Fazemos vários tipos de ações junto das escolas e das universidades. Sabemos que o futebol de praia é um pouco mais difícil de incutir em termos de desporto escolar, tendo em conta que muitas escolas não têm acesso a uma caixa de areia ou a uma praia mas, de qualquer forma, isso não quer dizer que não se incuta o que é o espírito do futebol de praia, o que é, o que pode trazer para o dia-a-dia destes jovens, por exemplo, a nível de saúde e bem-estar.
O futebol de praia é uma modalidade em crescimento?
Cada vez temos mais gente interessada. Infelizmente por conta de uma pandemia, cada vez temos tido mais procura porque os campeonatos pararam, a formação parou durante muito tempo e os jovens querem regressar. Tenho um exemplo em casa, tenho um filho com 18 anos que, na altura com 16, sofreu do mesmo mal que a maior parte desta juventude e que ficou meio perdido. Em termos de FPF, também queremos criar condições para, cada vez mais, termos jovens a praticar.
O desporto pode ter essa função de ajudar a passar por momentos mais difíceis como uma pandemia e agora uma guerra?
Acho que o desporto é um complemento bastante importante. Não só nos períodos de guerra e pandemia mas desde sempre. Sempre fui apologista, e a FPF também o é, das carreiras duais. Não nos dedicarmos a 100% ao desporto e deixarmos os estudos, nem nos dedicamos 100% aos estudos e descuramos o desporto. As carreiras duais permitem uma mescla entre os estudos e o desporto que nos dá a saúde e o bem-estar mental.
Para quem se está a iniciar na modalidade e não só, no desporto em geral, que conselhos deixa aos jovens?
Até me torno um pouco repetitivo, mas costumo deixar sempre a mesma mensagem, que é: em tudo na vida temos que sonhar e temos que ir em busca dos nossos sonhos, mas tendo sempre em atenção que vamos ter muitas dificuldades para os atingir. Nunca desistam dos sonhos que têm, independentemente da área, sonhem e não desistam.