Em Entrevista… Margarida Santos

26 Maio 2021

Catarina Correia Martins

A presidente de Junta da Calvaria de Cima, Margarida Santos, em entrevista a O Portomosense faz um balanço do mandato, destacando as obras no centro de saúde, levadas a cabo pela autarquia. Salientando também a dinâmica empresarial, afirma que se trata de uma freguesia em permanente crescimento e que considera estar «no bom caminho». A recandidatura nas autárquicas é uma questão ainda em análise.

Depois de ter estado à frente da freguesia em circunstâncias muito próprias [na sequência do falecimento do seu antecessor], termina agora o seu primeiro mandato completo. No final destes quatro anos considera que se pode falar de “missão cumprida”?
Nunca é missão cumprida porque ficam sempre coisas por fazer. Estes últimos quatro anos foram muito difíceis, mas fizemos muita coisa. Logo no início tivemos que abraçar um projeto muito necessário, de grande responsabilidade e sob muita pressão do coordenador da Unidade de Saúde Familiar Novos Horizontes. Se não avançássemos com as obras de ampliação e remodelação do nosso centro de saúde, a unidade encerrava e iam médicos, enfermeiros e administrativos, para a sede do Juncal, situação que nos causou algum transtorno, não queríamos que isso acontecesse no nosso mandato. Pusemos mãos à obra, ampliámos e remodelámos o espaço que a Junta cedeu para o efeito. É um centro de saúde de excelência, com muito boas condições. Para nós foi, realmente, um orgulho. Já anteriormente tínhamos adquirido dois lotes para construirmos a nova sede da Junta e arranjarmos condições para passar para lá também o posto dos CTT. Com orçamento limitado – o nosso é de pouco mais de 100 mil euros –, tivemos muitas dificuldades em gerir estas duas obras. Foi um começo de mandato extremamente difícil. Conseguimos, ainda, organizar os nossos cemitérios, anteriormente eram umas campas para cada lado, e o nosso tesoureiro, Adriano Silva, fez um trabalho de excelência. Este é o balanço dos últimos quatro anos: os recursos são poucos e acho que fizemos o nosso melhor.

O que é que lhe falta fazer e que ainda é possível no que resta deste mandato?
Queríamos adquirir um terreno para ampliar o cemitério da Calvaria de Cima, que está com falta de espaço, mas temos tido algumas dificuldades. As pessoas com terrenos confinantes querem muito dinheiro e não faz sentido aplicarmos uma verba tão grande quando aqueles terrenos têm um valor limitado. Temos tido alguma dificuldade em negociar, mas vamos tentar deixar esse projeto concluído. Andamos a identificar todas as ruas da freguesia que não tinham placas toponímicas, é um trabalho exaustivo, porque nós é que estamos a fazer as placas, mas está no bom caminho. Gostaríamos, também, muito de acabar as obras da sede da Junta. No rés-do-chão, andamos a colocar tijolo e a rebocar, mas ainda temos toda a envolvência do edifício por finalizar. Vamos fazer todo o possível por deixar a obra concluída e legalizada, que também é uma preocupação deste executivo.

As eleições autárquicas estão aí à porta, já decidiu se vai recandidatar-se?
Neste momento, as coisas a esse nível ainda não estão bem definidas mas sinto-me muito cansada. Ser presidente e funcionária da Junta não me é nada favorável. Tenho sempre que assumir um papel de responsabilidade o dia todo e isso é muito desgastante. Também ao nível dos apoios do Município, não têm sido tantos como desejávamos e merecíamos. Só temos um funcionário de rua e sem o apoio da Câmara, com máquinas para limpezas de diversos caminhos, isso torna o nosso trabalho muito mais difícil e não me estou a ver, neste momento, com condições para abraçar mais um projeto de quatro anos. Vou ponderar, mas está a ser difícil assumir. Sinto-me cansada, estou quase na idade da reforma, tenho outros projetos, mas vou ponderar, depende da equipa.

Como tem sido gerir estes dois papéis, de presidente e funcionária?
Tem sido muito difícil porque as pessoas vêm aqui e eu não consigo não resolver as questões. É desgastante. Os nossos fregueses são uns privilegiados porque conseguem ter um presidente a tempo inteiro, embora não remunerado como presidente a tempo inteiro. Quando um freguês se desloca a esta Junta, dificilmente sai de cá sem a sua situação resolvida. Tento sempre ser presidente a tempo inteiro, não consigo ser de outra forma. Sem dúvida que a população está muito bem porque tem um presidente a tempo inteiro, noutras freguesias não se nota isso.

Os fregueses podem contar consigo, pelo que diz. E a Junta, pode contar com a população? É uma comunidade que se envolve na dinâmica da freguesia?
Nem muito, não são muito participativos, mas se eu solicitar, sinto o feedback das pessoas.

A Calvaria de Cima é das freguesias que mais têm crescido em várias áreas, muito impulsionada também pela vinda de pessoas de fora. Como é que esse crescimento tem “chegado” à população? Para quem é de cá, tem repercussões económicas e sociais?
Acho que sim. A nossa freguesia, a nível de área, é a mais pequena do concelho, mas foi uma freguesia que se desenvolveu muito. Mesmo nesta altura de pandemia, foi uma das que não parou a nível económico, as nossas empresas e comércio nunca pararam. Como presidente de Junta, apercebi-me que no setor industrial e comercial, conseguiram sempre adaptar-se. Há algumas empresas em teletrabalho e lay-off, mas não pararam, optaram por outras formas de venda.
É uma freguesia com um grande potencial a nível empresarial e comercial e tem duas grandes superfícies comerciais fruto do crescimento a nível industrial, comercial, da construção… Devido a todas essas empresas e à necessidade de mão-de-obra, qualificada ou não, radicaram-se aqui muitos emigrantes e pessoas de vários locais do país. Vieram para aqui com a família, compraram habitação e mesmo nas escolas andam muitas crianças de todas as nacionalidades, emigrantes que vieram e se radicaram nesta zona… São moldavos, ucranianos, chineses, brasileiros… O que sentimos neste momento é necessidade de habitação, que há pouca para venda e para arrendar. Se houvesse empresas de construção que fizessem umas habitações económicas, para classe média, de certeza que as venderiam com muita facilidade.

Todo o concelho se tem alavancado um pouco no turismo para crescer, no entanto, a Calvaria terá um outro impulsionador, que são as indústrias, as empresas não industriais e as superfícies comerciais. Não sendo, exclusivamente, responsabilidade da Junta, o que tem sido feito para tornar a freguesia atrativa ao ponto de muitas famílias quererem mudar-se para cá?
Temos um centro de saúde de excelência, em que as pessoas sentem segurança, temos bons médicos. Praticamente não precisamos de sair da freguesia para fazer a nossa vida normal, porque temos minimercados, lavandaria, clínicas, temos café, toda uma panóplia de comércio, esteticistas, cabeleireiros, temos todas as condições. E temos bons acessos, o acesso à A8, à A19, o IC2… Temos tudo aqui.

Enfrentou, enquanto presidente de Junta, um dos maiores desafios para todos os autarcas, uma pandemia. Como foi este período? Quais as maiores dificuldades?
Foi uma preocupação constante, mas acho que as nossas instituições foram uma mais-valia. Tenho que referir a Casa do Povo da Calvaria, como uma instituição muito útil, com várias valências como apoio domiciliário e centro de dia e que também assegura os almoços das escolas e tem a seu cargo o ATL. Tanto a Casa do Povo como a Conferência de São Vicente de Paulo, deram-nos algum conforto. A Casa do Povo estava à frente do apoio ao domicílio e lidava com os nossos idosos. Eram eles que me davam o feedback de como é que estavam os nossos idosos e sem dúvida que foram um grande apoio. A Conferência de São Vicente de Paulo, com o apoio do Município e da Junta, sempre ajudou as pessoas carenciadas, que agora são mais, tinha tudo muito bem identificado. Sem dúvida que foram uma mais-valia e reduziram a preocupação da presidente de Junta.

Fora da pandemia, a Calvaria tem alguma dinâmica associativa. Considera que o movimento associativo é importante?
É realmente muito importante. Temos associações na freguesia de grande prestígio, como a Associação de Serviço e Socorro Voluntário de São Jorge, com diversas valências de louvar; o Condestável que sempre fez um bom trabalho de apoio a ocupar os jovens com a atividade de futsal; a Associação Nova Vida onde as pessoas podem ir para conversar e conviver um pouco; a associação do Salão Convívio dos Casais de Matos, também com esta valência de um espaço onde as pessoas se juntam para conviver, também é importante e há também a Casa do Povo e a Conferência de São Vicente de Paulo, de que já falei. Sem dúvida que temos associações de grande prestígio para a freguesia e que são uma mais-valia.

A freguesia está cortada “ao meio” pelo IC2 e parece que a realidade da Calvaria é um pouco diferente da de São Jorge. Há, de facto, esta divisão? As pessoas realmente são diferentes e juntam-se pouco?
Já foi pior. Já se notou mais haver aqui uma rivalidade, porque, em tempos, os habitantes de São Jorge tinham gostado que a sede de freguesia tivesse sido lá. A maioria das empresas estão localizadas em São Jorge, as pessoas da Calvaria, muitas delas, deslocam-se para as empresas de lá e essa área da freguesia sempre foi a mais forte a nível comercial e industrial.
Incentivámos as pessoas a inscreverem-se no Centro de Saúde da Calvaria [muitas delas estavam inscritas na Batalha], porque estava a funcionar melhor, e as pessoas começaram a vir e a participar mais, mesmo nas festas anuais, que são os “cinquentões” que organizam. Devido à situação de limitação de construção por causa da zona protegida, houve muita gente de São Jorge, malta mais jovem, que apostou em vir viver para a Calvaria e isso fez com que a mentalidade das pessoas de São Jorge se abrisse mais perante a Calvaria.

Um dos marcos históricos do país está representado na sua freguesia com a Fundação Batalha de Aljubarrota e o Centro de Interpretação. Porém muitas têm sido as discordâncias com a população, sobretudo relativamente ao plano de pormenor daquela zona. Qual a posição da Junta relativamente a este assunto?
A Junta de Freguesia sempre esteve envolvida nesta preocupação e ao lado dos moradores. São moradores castigados por coisas mal explicadas, que acho que hoje já se perceberam um bocadinho melhor. As pessoas já perceberam melhor toda a dinâmica e todos os interesses da Fundação e acho que a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) e a Câmara fizeram ali alguma pressão e sem dúvida que eles estão a fazer o Plano de Pormenor e bem, para definir e para as pessoas sentirem mais segurança, para saberem o que podem ou não fazer, nas suas propriedades e habitações. Espero que a Câmara convoque a Junta e a população também para termos conhecimento e podermos dar dicas.
Agora surgiu a situação das medidas preventivas, acho que teve a ver com algumas imposições da DGPC, que não traziam benefício nenhum para a população, antes pelo contrário. Unimo-nos à população e à comissão de moradores e numa Assembleia Municipal tivemos a colaboração de todas as Juntas, estivemos unidos e foi tudo muito bem explicado pela comissão de moradores. Todas as freguesias perceberam que aquelas medidas não faziam sentido, pelo menos para esta altura, e foram chumbadas. Não trouxe qualquer problema para o Plano de Pormenor, que vai continuar e bem.
As pessoas de São Jorge já estão mais elucidadas sobre a situação, são pessoas um bocado revoltadas porque veem as suas casas sem grandes condições e é tudo muito burocrático para fazer qualquer alteração ou melhoramento. As pessoas que ali moram também já estão com alguma idade e é tudo difícil, as pessoas desanimam. Acho que estamos no bom caminho, esperamos que a Fundação entenda tudo isso e que se façam coisas diferentes. Não é deitar a baixo todas as casas velhas, acho que isso não faz muito sentido, acho que podem ser aproveitadas para [venda de] artesanato, dar alguma dinâmica, com coisas da altura. Acho que se devia ter tido mais esse espírito. Apesar de ser uma batalha de grande importância e não retirando o valor que o CIBA tem, a população não pode ser sacrificada. A Junta vai estar sempre disponível para estar do lado da população.

O que distingue a Calvaria de Cima das outras freguesias do concelho?
É a dinâmica que temos, temos muita envolvência. É uma freguesia com muita movimentação. As pessoas têm tudo para estar bem aqui. Nota-se crescimento e acho que vamos no bom caminho.

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