Em Entrevista… Nuno Ribeiro
Nuno Ribeiro foi mais um dos talentos que o programa The Voice Portugal deu a conhecer e que, em pouco tempo, ganhou bastante projeção. As letras intimistas das suas canções, escritas pelo próprio, são uma das suas principais marcas distintivas. Entre os seus principais sucessos está a “Tarde Demais”, “Por Ti” e a mais recente “Dias Cinzentos”. Para Porto de Mós promete um concerto que vai surpreender os fãs.
Como surgiu o interesse pela música?
Comecei a ter interesse pela música aos 6 ou 7 anos, porque o meu pai sempre tocou guitarra e piano como hobbie. Cheguei a fazer alguns casamentos em família, porque o meu irmão também tocava bateria e a minha irmã cantava. Aos 16 anos, decidi inscrever-me no The Voice. Na altura, o meu pai e os meus irmãos não concordaram e tive que falsificar a assinatura de inscrição porque era menor. Eles tinham medo das desilusões se não corresse bem. Quando fui ao programa, percebi que queria fazer disto profissão.
O The Voice tem sido um excelente palco para muitos artistas. O que é que marca mais um jovem com 16 anos: o mediatismo ou a possibilidade de trabalhar com gente conhecida, como o seu mentor Mickael Carreira?
As duas são importantes. Num dia ninguém nos conhece, no outro, sentimos um grande impacto entre as pessoas e temos de gerir. Esse impacto vai passar rápido porque, se não continuarmos a trabalhar, acabamos esquecidos. Essa é a parte fulcral, a seguir ao programa, temos que aproveitar esse mediatismo. Aproveitar ter como mentor o Mickael, as aprendizagens que vamos tendo com outros artistas e usar tudo de bom que o programa dá para investir na própria carreira.
Qual é a sensação de ser reconhecido na rua?
Admito que na altura foi muito, muito estranho. Aliás, tive alguns problemas porque, no início, algumas pessoas diziam que eu era um bocado arrogante ou que não falava muito com as pessoas e era pura timidez. Eu não estava habituado, tinha 16 anos, tinha uma vida normal e, de um dia para o outro, as pessoas começam a conhecer-me. Hoje em dia encaro isso de uma maneira muito positiva porque são as pessoas que nos fazem continuar neste ramo. Acabo por criar muitas amizades com pessoas que gostam do meu trabalho, com fãs. Sempre que dou concertos, e em Porto de Mós acho que não vai ser exceção, fico super amigo também das pessoas da organização. Sou um tagarela, gosto muito de falar e, hoje em dia, gosto até muito dessa parte da comunicação.
Até que ponto foi decisivo ter a oportunidade que muitos não têm de, logo no início da carreira, trabalhar com o Mickael Carreira e com o David Carreira, com quem fez alguns trabalhos? Foi um privilégio?
Sim, sim. Foi muito importante até pela parte de, quando nós entramos neste ramo, todos temos uma imagem, uma perspetiva de como isto é, e depois percebemos como é de facto. Há toda uma parte de gestão de carreira, de espetáculo, de lançamento de videoclipes, de lançamento de músicas. No início, pensava que nós fazíamos as músicas, que elas chegavam às pessoas e que só isso fazia um artista e, infelizmente ou felizmente, não é verdade. Há muitas outras coisa à volta.
Há muito trabalho para além do glamour que se vê de fora?
Sim. Há muito trabalho atrás da música, há muito trabalho de escritório, de programar o que queremos fazer, qual a nossa identidade de artista. Essa convivência com eles ajudou muito, porque em termos de família é capaz de ser a mais conhecida e já teve que, muitas vezes, contornar situações e gerir muita coisa. Consegui aprender muito com eles nessa fase.
E depois como é que foi o processo para lançar as primeiras músicas? Foi sempre o Nuno Ribeiro a fazer força para lá chegar ou também foram pessoas próximas a incentivar?
Felizmente, sempre tive e tenho as mesmas pessoas ao mesmo lado. Obviamente que fui conhecendo e ganhando muitos amigos dentro da área e artistas como o David Carreira, os Calema, os Anjos, muitos artistas que gosto e que já admirava, depois tenho um núcleo familiar e de amigos desde a minha infância que nunca se modificou. Esses são verdadeiramente as pessoas com quem tem um maior elo de ligação, que tenho que ter sempre na minha vida e são esses que, quando as coisas não correm tão bem, dão aquele apoio e que, quando correm bem, também dizem para ter calma e não achar que está tudo ganho. São o equilíbrio na minha vida e sempre foram muito importantes em fases que, às vezes, não são tão fáceis e deixamos de ter motivação. Uma carreira na área da música é muito instável. Há momentos em que tudo corre bem e outros em que tudo corre mal, se nós tivermos aquelas pessoas que nos dão a “pancadinha” nas costas e dizem que está sempre tudo a correr bem, não vai haver equilíbrio. Sou grato por ter pessoas verdadeiras, que me digam o bom e o mau, isso faz-nos evoluir.
Em 2019 é lançado o primeiro disco. O que destaca desse primeiro trabalho?
Esse disco foi feito por mim e pelo produtor Vítor Silva e por trás dele há muitas horas de conversa. Acho que passei mais tempo a trabalhar fora do estúdio do que dentro, porque perdi mais tempo em conversas a perceber o queríamos fazer do que a fazer as canções. Depois do lançamento, também comecei a produzir e, desde então, tenho sido eu a produzir as minhas músicas. Às vezes é difícil explicar a um produtor exatamente o que queremos, se for eu a produzir, sei o que está na minha cabeça.
E se calhar tornam-se mais genuínas?
Sim… Se bem que eu adoro trabalhar com outros produtores e até estou numa fase em que faço muito isso. Acho que é muito importante sair do mesmo círculo e da mesma bolha. De vez em quando, tenho de ir ao estúdio e tenho de fazer uma música sozinho, porque acho que é quase como o meu momento, como alguém ir ver o mar.
Quem é o principal responsável pelas letras das suas músicas?
Fui eu, até aos dias de hoje, que fiz as letras todas das minhas músicas e que também compus. Depois tenho sempre uma pessoa, que é o meu pai, por quem têm de passar as letras. Sempre foi assim desde pequenino também, já quando eu tentei começar a escrever mais novo, ele dava-me sempre ali uma ajuda e continua a ser assim e vai continuar a ser assim.
As letras têm sido um dos pontos fulcrais das suas músicas. Por exemplo, a letra da música Dias Cinzentos chama a atenção. De onde vem a inspiração?
Essa música vem de uma fase em que não estava tão bem a nível pessoal, tive um jantar e depois fui para estúdio com dois colegas e um deles começou a desabafar e vai mesmo bater àquela parte “como é que eu posso dizer a quem me dá tudo, que não vou poder ficar aqui” e, juntamente com a história que ele me contou e com aquilo que estava a sentir naquele momento, surgiu a Dias Cinzentos. É das músicas mais despidas e honestas que escrevi até hoje.
Sairá em breve um segundo disco?
Sim. Não posso prometer que seja este ano, mas entre este e o próximo. Estamos a planear lançar um álbum em que metade seja com as músicas que as pessoas já conhecem e outra com músicas novas. Estamos a prepará-lo com carinho, por isso é que está a demorar mais.
Quais as principais diferenças que podemos esperar em relação ao primeiro disco?
Acho que acabei por amadurecer um bocadinho, o que é normal porque já passou algum tempo do lançamento do primeiro disco, em 2019. Já não vai ser aquele Nuno só das baladas e tudo na mesma estética. Estou a começar a explorar também alguns géneros diferentes, até pela própria convivência com artistas e influências que fui ganhando de estilos de música. Acho que as pessoas vão ficar um bocadinho surpreendidas com alguns géneros em que vou começar a entrar e eu também estou curioso pela reação que vão ter.
Depois da pandemia, há uma força maior para mostrar o Nuno Ribeiro, além do artista de estúdio, nos concertos?
Acho que sim. Temos falado entre equipa que se tivéssemos feito uma tour nos anos em que estivemos em pandemia, o concerto teria sido totalmente diferente do que vai ser agora porque tivemos muito tempo para o preparar. Há malta de Porto de Mós que não vai estar à espera do concerto que vai receber, porque apesar de ter muitas baladas, o meu concerto tem muita energia e uma aposta na parte audiovisual, de pirotecnia e de fogo, espero surpreender.
Para quem conhece o Nuno Ribeiro, principalmente das baladas, pode esperar o inesperado. É mais ou menos isso?
Sim. Obviamente que vão ouvir essas baladas, mas depois no concerto em si, na totalidade, tentamos passar muita energia, até porque foi tanto tempo que estivemos em casa que acho que agora, se fosse para a estrada com um concerto mais tranquilo, as pessoas não apreciavam tanto. As pessoas estão a precisar de animação e mudámos o show também nesse contexto, de conseguir dar alegria e que as pessoas saiam com uma energia positiva.