Em Entrevista… Quinta do Bill
A banda Quinta do Bill nasceu nos anos 1980 e é reconhecida ainda hoje por temas que marcaram gerações. O sucesso da música “Filhos da Nação” fez o grupo dar o salto, continuando na estrada até aos dias de hoje. O vocalista da banda, Moisés – que nos cedeu esta entrevista – e o baixista, Paulo Bizarro, são dois dos fundadores e continuam no grupo. Este ano a banda celebra os seus 35 anos e vem até às Festas de São Pedro mostrar o seu calibre em palco.
Como é que surgiu a ideia de criar os Quinta do Bill?
A ideia nasceu numa escola de música, onde eu estava a dar aulas e, em simultâneo, era aluno. Comecei a frequentar uma aula de jazz, onde conheci o Paulo Bizarro e o Rui Dias, o primeiro guitarrista. O Paulo Bizarro, na altura, fazia umas músicas e tinha a ambição de fazer uma banda, convidei-os e resolvemos formar um grupo. Depois foram aparecendo mais músicos.
Dos fundadores da banda, o Moisés e o Paulo Bizarro são os que ainda continuam a fazer parte dos Quinta do Bill. O que é que os faz continuar juntos neste projeto?
Continuamos com muita vontade e com muita paixão pela música e felizmente as pessoas continuam a convocar-nos para espetáculos, por isso enquanto houver energia, saúde e público, andaremos em cima dos palcos.
O sucesso dos Quinta do Bill começa em que momento?
Nos anos 1980, a grande possibilidade que os jovens tinham para mostrar os seus trabalhos era nos concursos de música moderna e, uma vez que havia uma série deles no país, pensámos em concorrer, incluindo ao mais famoso da época, o Rock Rendez Vous, uma sala mítica, onde passava tudo o que era música portuguesa e internacional. Enviámos uma cassete e fomos selecionados. Foi aí que começou a nossa exposição no panorama musical português.
O que é que na altura distinguiu os Quinta do Bill?
O nosso som era diferenciador e conseguimos ter exposição, essencialmente nas rádios. As nossas músicas não eram propriamente só rock, eram o rock misturado já com tradicional e com muita música de influência celta.
Atualmente é crítico em relação às linhas que as rádios seguem, optando por músicas mais comerciais e onde o instrumental não tem lugar (esse que era um ponto forte da vossa banda). Acredita que, no contexto atual, alguns dos vossos sucessos não teriam tido lugar na rádio?
Hoje há felizmente alternativas nas redes sociais, que para todos os efeitos possibilitam que se possa divulgar e expor o que se vai fazendo. De certa forma, consegue-se chegar às pessoas através das redes. A nível de rádio as coisas realmente estão difíceis, porque é muito mais filtrado e não é muito fácil conseguir ser divulgado na rádio. Realmente é outra realidade, relativamente à altura em que começámos. A linha editorial das rádios alterou-se um bocadinho e apostaram mais em determinados géneros.
Quem é o Bill e de onde veio o nome da banda?
A escolha acabou por ser sinónimo do local onde estávamos a ensaiar, na Quinta de Valdonas, nos arredores de Tomar. Bill era a alcunha do dono e como nos tinha cedido o espaço, achámos engraçado colocar esse nome à banda. Atualmente a quinta é até mais conhecida por Quinta do Bill do que por Quinta de Valdonas.
Os Quinta do Bill ajudaram, de certa forma, a colocar Tomar no mapa. Sentiram muitas dificuldades por virem de fora dos grandes centros?
Sim, isso era uma realidade da altura, assim como o foi posteriormente, para conseguir editar e gravar. Era, de certa forma, mais fácil expor ou passar na rádio, contudo existiam algumas resistências de tudo o que não fosse do chamado “universo urbano” e, para todos os efeitos, os Quinta do Bill vinham da província. A partir do momento que lançámos o primeiro disco, as coisas tornaram-se mais fáceis e, em 1994, com o lançamento dos Filhos da Nação a banda conseguiu dar o salto.
E foi um salto mesmo muito grande. Não havia quem não conhecesse os Quinta do Bill…
Nem nós estávamos à espera do sucesso que foi a canção. Começou a passar em tudo o que era rádio, a toda a hora e, na sequência disso, os concertos começaram a aparecer. A partir daí, até aos dias de hoje, nunca deixámos de estar na estrada. Todos os anos temos uma turné.
Cantar Os Filhos da Nação no Porto ou em Lisboa deve espoletar reações diferentes, sendo que o hino do FC Porto é uma adaptação dessa vossa música. Sentem essa diferença?
A reação é diferente, mas nós batemos sempre o pé. Tocamos muito no Norte, desde Minho ao Grande Porto, no entanto nunca deixámos de tocar o original, nunca cantámos com outra letra que não fosse a original e as pessoas percebem isso, porque independentemente das versões que a canção já teve, nomeadamente feitas por tunas e por filarmónicas, nós não abdicamos, nem nunca vamos abdicar da nossa original.
Essa canção passa sempre nos vossos concertos, ou já aconteceu não a passarem por já estarem cansados dessa música e quererem apresentar outras faixas?
Nunca aconteceu em nenhum concerto. Os Filhos da Nação é uma canção obrigatória nas nossas atuações. Eu acho que as pessoas não nos iriam perdoar, se deixássemos de o fazer. É um bocado como os Rolling Stones não tocarem o Satisfaction e como os U2 não tocarem o One, são canções obrigatórias.
Os Quinta do Bill sempre se assumiram como banda de palco. Em 35 anos o que é que mudou nos concertos ao vivo?
Não mudou muito, porque ficámos de tal maneira viciados em assumir o palco como uma verdadeira celebração, que continuamos a apostar muito e a sentirmo-nos muito bem com imensa dinâmica em palco. Enquanto houver energia e saúde, queremos continuar a fazer uma grande festa nas nossas atuações.
Em relação ao tipo de público que têm hoje, há uma continuidade das pessoas que assistem aos concertos ou há uma nova geração que vai descobrindo a banda?
Acho que temos malta das novas gerações e das anteriores. Os pais começam a trazer os filhos e os avós os netos, vai passando de geração em geração. Não sentimos que tenhamos uma plateia envelhecida, muito pelo contrário, tem muita malta nova.
Os Quinta do Bill são cabeças de cartaz nas Festas de São Pedro. O que se pode esperar deste espetáculo?
Estivemos aí há 10 anos e recordo-me perfeitamente que era um público simpático e atrevido. Vamos levar para Porto de Mós, mais uma vez, um concerto de festa e celebração.