Em Entrevista… Rosinha
Rosa Maria talvez não lhe diga nada, mas Rosinha já lhe deve ser mais familiar. O seu nome artístico foi escolhido precisamente quando em 2007 lança o seu primeiro álbum de originais, o disco “Boca no Pipo”. As letras com trocadilhos cheios de humor são a marca que a distingue, humor esse que promete trazer ao concerto que dará nas Festas de São Pedro.
Como era a sua vida antes de ser a Rosinha que toda a gente conhece?
Exatamente igual. A única diferença é que estou menos tempo em casa, mas é exatamente igual. A minha vida antes era música. Fazia bailes, portanto, já vivia da música. Não estando em trabalho, estou em casa com os meus gatos, cães, o meu porco, por aí.
E uma vez que a sua vida sempre foi música, como é que a vida artística começou para si e em que fase?
Quando eu tinha 10 anos, abriu uma escola de música em Pegões Velhos, de onde sou natural, e fui uma das miúdas que quis ir para lá. O acordeão era o instrumento de que mais gostava, porque, sendo eu do campo, tinha mais acesso a ranchos folclóricos e festas tradicionais e o acordeão despertava-me muito interesse. Passados uns aninhos comecei a fazer bailes, 17 anos depois gravei o primeiro disco e cá estou eu.
O acordeão e as letras das músicas um tanto ou quanto provocadoras, chamemos-lhe assim, são dois dos pontos em que a sua carreira e a do Quim Barreiros se tocam. Isto é coincidência?
Possivelmente. O que faço agora como Rosinha, já fazia enquanto Rosa Maria. Fazia a mesma coisa, mas não com originais. Cantava covers de outras pessoas, só que já apimentava um bocadinho nos meus bailaricos, tentava pôr uma piada no meio dos refrões para arrancar uma gargalhada. Portanto, sempre fui assim, isto não é uma coisa pensada para que funcione assim. Eu estou realmente neste “projeto Rosinha” porque sou assim, não formámos uma Rosinha malandra que estuda um texto e que consiga dizer umas piadas.
Rosinha, desde 2007 que praticamente todos os anos sai um disco novo…
Todos os anos!
Como é que isto é possível? De onde é que vem tanta inspiração?
A inspiração vem das coisas mais banais do dia-a-dia, anedotas e piadas que eu ouço e não só eu. O mérito é do meu produtor, o Páquito. Ele escreve e compõe, eu limito-me a dar ideias. Por exemplo, estou aqui em Pegões, no meio do campo e ao meu redor tenho os meus pássaros, uma cadela e oito gatos, com isto já tenho músicas. A música O Meu Gato Lambe-me a Passarinha, por exemplo, apareceu exatamente assim, porque os gatos dão-se super bem com os pássaros, os pássaros bicam nos gatos e os gatos lambem os pássaros. Por exemplo, na música Fica Sempre No Coador, eu estava a coar um molho de uma carne e realmente aquilo ficou tudo entupido e eu pensei “Ah, coador, isto parece-me bem”. A que eu acho mais piada nasceu quando eu estava a gravar um disco em Lisboa e nessa altura o meu pai já estava muito mal. Para voltar para casa, eu passava pela casa dos meus pais e vi, eram perto das três da manhã, a luz da casa deles ligada, pensei que o meu pai estava pior e parei. Entrei em casa e estava a minha mãe a fazer bicos, as rendas que ela gosta de fazer em volta dos panos. No outro dia, cheguei ao estúdio e contei a história. Continuei a gravar e quando saí, o meu produtor diz-me assim: “Ouve lá esta letra”. O Ela faz bicos, neste caso é a minha mãe. No início tinha algum problema porque as pessoas não entendiam o que dizia, hoje já percebi, o problema não está no que digo, está no que as pessoas ouvem, são coisas completamente diferentes (risos).
Mesmo nos anos de pandemia lançou um disco. Isso deve-se à sua necessidade de trabalhar ou também ao compromisso que sente para com o seu público?
As duas coisas, mas mais pelo compromisso e pelo respeito que tenho pelas pessoas que me seguem, que me apoiam e que estão sempre comigo. Durante estes dois anos ninguém fez nada, não havia concertos, teatros, não havia nada. Até as pessoas que trabalham em escritórios estavam em casa a trabalhar, portanto eu ainda ponderei se valeria a pena, mas foi uma ponderação muito rápida. Claro que vale a pena porque as pessoas estão em casa. Todos os anos gravo um disco. Se vendesse excelente, mas se não vendesse, a intenção é fazer para as pessoas que gostam e que se divertem com as minhas brincadeiras e eu devo isso às pessoas que continuam a estar comigo. Respeito muito e nem consigo expressar a gratidão que tenho para com essas pessoas, são elas que fazem com que eu exista.
E esse apoio do público também se vê, de alguma forma, no facto de todos os seus discos serem premiados…
É verdade, felizmente sim. Fico super feliz quando os meus discos são discos de ouro, principalmente numa época em que não se compram muitos discos. Hoje em dia, através das redes sociais e de todas as redes que há de música, é muito mais fácil a pessoa chegar a um computador ou a um telemóvel e sacar uma música ou ter Spotify. Mas na realidade e felizmente as pessoas continuam a comprar os meus discos, é verdade que quando estou a gravar, não é isso me preocupa, nem sequer me está na cabeça se vai ser disco de ouro, mas quando é, é fantástico. Fico super feliz e agradecida. A intenção quando gravo um disco é continuar a chegar às pessoas e principalmente que as pessoas ouçam, se riam, se divirtam, usem as letras e os refrões para brincarem uns com os outros. Isso é que me deixa verdadeiramente feliz.
Sem dizer o nome, o que é que o próximo disco traz de novo?
O meu registo é muito característico, sou muito das nossas marchas, dos nossos acordeões, do nosso vocabulário popular, dos nossos trocadilhos, portanto mantenho essa linha obviamente. O que é que eu tento fazer todos os anos? No início quando comecei a gravar discos não eram como são agora, ou seja, hoje todos os instrumentos são gravados ao vivo, claro que isto para quem ouve e para quem não conhece música, é tudo igual. Para mim, hoje em dia posso orgulhar-me de ter um disco, todo ele gravado com músicos ao vivo, não é a música de “plástico”, como na gíria chamamos, com sintetizadores e essas coisas. Eu tento já há uns anos, ir variando em ritmos, não na abertura do disco, porque é uma marca minha, mas no decorrer do disco tentar meter ritmos diferentes e este ano, mais uma vez, o consegui fazer.
Com certeza teremos oportunidade de o ouvir porque este é um ano de regresso aos palcos. Para as suas apresentações ao vivo, como é que se costuma preparar? Tem alguma superstição?
Tenho. Falo sempre com o meu pai antes de subir a palco e o meu pai já faleceu há 10 anos. Faleceu fisicamente, mas continua comigo, portanto eu nunca subo ao palco sem falar com ele. É a única coisa que faço que poderá ser diferente, de resto é o meu aquecimento vocal, a minha adrenalina porque há sempre dor de barriga antes de subir ao palco, que passa logo na primeira música felizmente, mas até subir… (risos).
Vamos poder vê-la aqui em Porto de Mós. O que é que o público pode esperar de si?
Muita brincadeira e boas gargalhadas. Espero que quando as pessoas saírem do concerto, tenham essa sensação de boa disposição e de bem-estar. Ouço com alguma regularidade e deixa-me imensamente satisfeita que digam: “Belo bocado que passei aqui com esta maluca”, adoro (risos). Esta noite já levarei o meu disco e alinhamento novos.