Envelhecer em casa
Uma conferência sobre envelhecimento ativo e saudável, realizada há poucos dias em Porto de Mós, veio pôr o dedo na ferida relativamente a várias questões que envolvem os nossos mais velhos.
A iniciativa partiu de um grupo ligado a um partido político e como seria de esperar a maioria dos oradores falou mais de política que do tema em concreto mas, entre estes, houve uma intervenção, feita por uma especialista (que presumo independente em termos de filiação partidária) que quebrou essa tendência e se destacou pela pertinência das ideias trazidas à discussão.
E o que disse, então, a Professora Luísa Pimentel, do IPLeiria? Disse, por exemplo, que a vontade dos idosos deve ser respeitada. Por muito dependentes que alguns possam estar em termos físicos, mantêm os seus direitos intactos. Têm o direito de escolher aquilo que querem ou não fazer. No entanto, não poucas vezes são tratados como crianças, sem capacidade de discernimento, nem autonomia.
A infantilização dos idosos dá-se, por vezes, também ao nível das atividades em que se veem envolvidos e o exemplo deixado pela docente é ilustrativo. Um desfile de Carnaval tanto pode ser um momento de alegria e de descontração, como um sacrifício (que nem todos terão liberdade para rejeitar), não porque não estejam interessados em interagir com os restantes membros mas porque não estão para aí virados ou nem faz parte do seu feitio entrar em grandes folias. Há que saber respeitá-los tanto num caso como noutro.
Igualmente, não podemos esquecer que cada um tem o direito a expor-se publicamente ou mesmo entre pares, do modo que quiser. Para nós, pode ser engraçado ver um idoso a envergar uma fatiota que nada tem a ver com a imagem clássica dos nossos idosos. É carnaval e supostamente ninguém leva a mal, mas na verdade pode haver quem leve. Alguns podem sentir que estão a ser ridicularizados e disso ninguém gosta, e daí a necessidade de haver cautelas extra por parte dos cuidadores.
Para último deixei talvez aquele que será, a este nível, o maior desafio que temos pela frente enquanto sociedade, o chamado “Ageing in Place”, “a capacidade de continuar a viver em casa e na comunidade ao longo do tempo, com segurança e de forma independente”.
Tal como Luísa Pimentel disse na sua intervenção, poderá parecer estranho defender-se o envelhecimento em casa uma vez que no corrupio da vida diária as famílias têm cada vez menos tempo para os seus idosos, no entanto, é precisamente esse conceito que começa a ganhar cada vez mais adeptos.
Manter os idosos ativos e integrados na vida da comunidade obriga a várias mudanças e ao envolvimento de todos mas acredito que é a melhor solução. Naturalmente, haverá sempre muita gente institucionalizada porque nem todos, mesmo com ajudas várias, conseguirão viver sozinhos, no entanto, este “Ageing in Place” é também um desafio e uma oportunidade para as entidades do chamado terceiro setor, nomeadamente, as IPSS, bem como para os privados. O apoio domiciliário é uma excelente resposta social mas novos tempos exigem novas soluções e sendo certo que a necessidade aguça o engenho estou em crer que mais tarde ou mais cedo é isso que irá acontecer.
O desafio para o terceiro setor e privados passa também, e como foi dito nesta conferência, por levar os idosos institucionalizados a participar na vida da sua comunidade de origem. É bom que as portas dos lares e similares se abram com frequência para a comunidade, como há muito acontece, mas melhor ainda nesta perspetiva de “Ageing in Place” é conseguir que os idosos venham à rua e participem nalgumas das atividades que fizeram sempre parte da sua vida até deixarem as suas casas para irem para os lares.