A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Porto de Mós assinalou no passado dia 12 de maio, 70 anos de serviço à comunidade e O Portomosense publica na sua edição de 14 de maio um suplemento que partindo dessa efeméride dá a conhecer um pouco da história desta associação e da ação desenvolvida pelo seu corpo de bombeiros.
Desse conjunto de trabalhos que pode ler na edição impressa, já nas bancas, retiramos o relativo à equipa de resgate e salvamento, um grupo preparado para intervir sempre que o socorro a uma vítima não possa ser feito apeado, nomeadamente em grutas e algares mas também em pedreiras e, inclusive, do interior de prédios.
Servir a população em tudo aquilo que for possível, desde que esteja no âmbito das suas competências, tem sido palavra de ordem para os Bombeiros de Porto de Mós. A preocupação de estar ao lado da comunidade e, a par do seu tempo, vem, de facto, desde os primeiros anos e tem tido expressão das mais diversas formas. A criação e manutenção de uma equipa devidamente preparada e treinada para ações de resgate em grande ângulo é um bom exemplo disso mesmo.
Há cerca de 30 anos, elementos dos corpos de bombeiros de Porto de Mós, Mira de Aire, Juncal e Batalha participaram na primeira formação do género na região, conscientes de que em pleno Parque Natural, com inúmeros algares e grutas, seria importantíssimo adquirir competências na área do resgate “não convencional”, ou seja, naquele que é impossível fazer unicamente apeado, recorrendo antes, em grande medida, a técnicas que são comuns à espeleologia.
Esse curso, conta Miguel Abreu, adjunto do Comando, e um dos bombeiros da corporação de Porto de Mós com larga experiência nesta área, foi o embrião de um grupo de resgate em grande ângulo entretanto formado, precisamente para acudir a essas eventuais ocorrências de maior complexidade técnica, porque «para se fazer socorro no interior de uma gruta é preciso muita gente e bem preparada». Entretanto, as “quintinhas”, que tanta divisão têm criado entre corporações de bombeiros, «começaram também a aparecer e com a saída de alguns elementos e o final do financiamento que até aí existia, começaram as separações». Mais tarde, com a criação da Escola Nacional de Bombeiros apareceram cursos nesta área e aí, mais uma vez, os voluntários de Porto de Mós voltaram à formação seguindo com a sua equipa para a frente.
Há cerca de dois anos, no decurso de outra formação com um elemento dos bombeiros de Alcanede, a ideia de ter um grupo de resgate de dimensão interconcelhia ganhou de novo força, até porque agora o nível de perigo aumentou substancialmente: «Há cada vez mais pessoas na serra a fazer caminhadas ou desportos radicais, portanto a eventual queda em algares ou para zonas de muito difícil acesso é um risco muito presente». O grupo é constituído por cerca de duas dezenas de elementos dos bombeiros de Porto de Mós, Alcanede, Minde e Santarém (cerca de 12 são de Porto de Mós), que treinam, por norma, duas vezes por mês, e estão preparados para fazer resgate de pessoas e animais. «Atuamos em qualquer sítio em que não se consiga fazer um resgate apeado normal e em segurança, como ravinas e poços, inclusive podemos resgatar uma pessoa de um prédio, pela janela ou pelo telhado, recorrendo a técnicas e a equipamento próprios», explica.
«Há cenários mais fáceis, outros mais difíceis. É importante ter treino e dominar as técnicas. Tirar uma pessoa do interior de um poço é relativamente fácil, a coisa complica-se no caso em que o resgate é feito, por exemplo, numa gruta com vários poços de mais de 50 metros de profundidade (e o que nós temos mais por aqui são algares), por isso é que nalguns casos basta que intervenha apenas a equipa de resgate local e noutros é necessário mobilizar todo o grupo e mesmo assim não é tarefa fácil», reforça aquele elemento.
A nível concelhio, a equipa de Porto de Mós já foi chamada a intervir várias vezes, mas «apenas para retirar pessoas já cadáveres, por exemplo, do interior de poços e em que a indicação que há das autoridades competentes é para que o corpo seja mexido o menos possível». «Participámos também nas buscas de pessoas desaparecidas e em que se suspeitava que pudessem ter caído para algum poço ou algar, e durante todos estes anos já resgatámos vários animais», conta.
Quem já assistiu a uma ação deste género ou, pelo menos, a um simulacro, cedo percebeu que se trata de uma operação demorada, Miguel Abreu, explica o porquê: «A segurança tanto das vítimas como de quem presta auxílio é fundamental em qualquer ação levada a cabo pelos bombeiros e, neste caso, que trabalhamos com cabos e em condições particularmente complicadas, a preocupação é acrescida. É demorado montar todo o equipamento e a operação em si, pela delicadeza que comporta, não se compadece com pressas. Tudo tem de ser feito com muito cuidado».
A preocupação primeira é, naturalmente, a segurança da vítima e dos bombeiros envolvidos, mas depois de acordo com o cenário há outras. «Quando o resgate é numa gruta tentamos, na medida do possível, respeitar todo o habitat lá existente e não estragar nada da sua beleza natural e para isso recorremos a técnicas que não usamos se for em espaço exterior», refere.
Ninguém deseja que uma situação destas aconteça, mas Miguel Abreu não tem dúvidas de que o grupo, seja na sua versão à escala local, seja regional, está bem preparado para atuar na área em que tem conhecimento, experiência e material adequado para o efeito. É para isso que todos treinam com frequência e procuram formação junto dos melhores e quando o grupo está todo reunido, ninguém liga se vem deste corpo de bombeiros ou daquele porque estão todos irmanados na mesma missão.