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“Era importante fazer-se uma biografia séria de Silva Marques”

12 Maio 2019
Isidro Bento

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Isidro Bento

12 Mai, 2019

Pacheco Pereira enalteceu a figura e o percurso de vida de Silva Marques (foto: Isidro Bento)

«Silva Marques é uma daquelas personalidades de quem se justificava fazer-se a biografia», defendeu José Pacheco Pereira na palestra sobre o 25 de Abril e a importância da memória que proferiu no dia 23 de abril, no Cineteatro de Porto de Mós, no âmbito das comemorações dos 45 anos do 25 de Abril.

O historiador e conhecido comentador político, veio a Porto de Mós inaugurar duas exposições em memória de José Augusto da Silva Marques, antigo vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República, seu amigo de longa data já falecido, e falar sobre a importância da memória e foi nesse contexto que afirmou ser «importante que se fizesse uma biografia séria sobre Silva Marques, o primeiro presidente da Câmara de Porto de Mós eleito em democracia».

De acordo com Pacheco Pereira, o antigo deputado, natural da Cruz da Légua, «combinava uma grande coragem, inclusive, coragem física e também uma grande retidão. Além disso tinha mau feitio e essas três coisas, de um modo geral, funcionam bem em pacote», frisou, destacando ainda «um humor que matava» e a coragem de que deu mostras «quando em dois ou três momentos da história do PSD houve quase pancadaria, como no célebre congresso dos elitistas políticos liberais em que ia começando tudo à pancada no palco e Silva Marques estava na primeira fila pronto para o que desse e viesse».

Um aspeto «ainda, em grande parte, desconhecido, mas que a seu tempo se conhecerá», é o papel que o antigo deputado «desempenhou no afastamento do partido, de pessoas que tinham cometido fraudes», referiu, acrescentando que «Silva Marques odiava aquele tipo de comportamentos e era intransigente com essas pessoas», e a este nível nada se lhe podia apontar.

As exposições O nascimento de uma democracia e A palavra é “Corte-se”, de homenagem ao conhecido político portomosense, chegaram a Porto de Mós pela mão da Associação Cultura Ephemera, uma entidade sem fins lucrativos, sediada na vila da Marmeleira (Rio Maior) que gere o arquivo e biblioteca privada de José Pacheco Pereira, onde estão reunidos espólios, acervos, livros, periódicos, manuscritos, panfletos, fotos e objetos sobre a história contemporânea nacional mas também internacional. O Ephemera, como recordou o seu criador é coisa única em Portugal e raro a nível internacional. O «arquivo privado mais público de Portugal», como gosta de o apelidar, está já, em parte, disponível na internet, são 24 mil pastas, já vistas por quase quatro milhões de pessoas, quase 30% fora de Portugal.

«Nós [Ephemera] somos uma espécie de propagandistas da memória», explica Pacheco Pereira, acrescentando que «é fundamental para a democracia ter memória» e «a existência deste arquivo e de outros ajuda as pessoas a perceber não só que as coisas não são tão simples como parecem, como têm uma história muitas vezes conflitual no passado».
Para o também comentador político, «no fundo a questão da democracia é muito simples: ou se dá poder às pessoas ou se tira, e o esquecimento tira poder». «O esquecimento ajuda as pessoas a falar pior, a terem menos noção da relatividade das coisas da história, a não compreender que os fenómenos são complexos por natureza e as pessoas também», afirmou, dando Silva Marques como exemplo. «Silva Marques é tudo menos um homem simples, aquilo que é comum nele é a coragem e a retidão porque se a gente o for julgar por ser um antigo elemento do Partido Comunista, por ser antigo esquerdista, um PPD e um PSD, nada disso dá a dimensão de Silva Marques, o conjunto é que dá porque ele não se esquecia da sua história e sabia perfeitamente que aprendeu em cada um dos momentos da sua própria história, sobre as fragilidades humanas, sobre o comportamento das pessoas em situação de risco, e isso dava-lhe uma enorme capacidade de fazer julgamentos sobre as pessoas, algo que vem da experiência e esta tem muito a ver com a memória».

Para que se possa fazer a história do Portugal contemporâneo são necessários materiais e por isso Pacheco Pereira fez durante toda a palestra sucessivos apelos para que as pessoas «não deitem nada fora» e resistam à tentação de «escolher o que não tem importância» porque «na realidade quase tudo tem importância», disse. «Nós salvamos todas as semanas papéis de pessoas, uns mais importantes que outros, livros, revistas, jornais, papéis clandestinos, cartazes, folhas de balanço e quando juntarmos tudo isso teremos uma ideia mais rica do funcionamento da História», concluiu.

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