Tem apenas 18 anos, mas a forma tranquila como Renato Simão encara a sua doença, espinha bífida, faz crer que tem mais. A espinha bífida é uma anomalia congénita do sistema nervoso que se desenvolve nos primeiros meses de gestação. O tubo neural tem um defeito na formação que pode afetar a medula espinal e o cérebro. Há quatro tipos da doença: oculta, defeitos fechados do tubo neural, meningocelo e mielomeningocelo. Portanto, o grau de afetação varia consoante o tipo de espinha bífida. No caso Renato Simão, natural de Cabeça Veada, apenas tem mazelas no pé e perna direita, dificultando a sua locomoção. «Tanto pode afetar as mãos, os braços, pode afetar qualquer parte, no meu caso é só uma perna, mas o mais comum até é ser nas duas, acabo por ter uma forma mais simples da doença», explica.
Já conta pelos dedos de uma mão o número de operações que fez, uma delas com 12 horas de vida. Já foi operado à coluna, ao joelho e ao pé, com visíveis melhorias. «Principalmente a do pé vê-se uma grande diferença em relação a ao apoio do pé, vê-se diferença no andar, a locomoção é totalmente diferente», frisa. O jovem confessa que a operação mais complicada que fez foi quando tinha 7 anos: «Porque é aquela idade em que só nos queremos mexer e andar atrás uns dos outros e de repente tive que estar 15 dias numa cama, não me podia mexer quase nada». No entanto, em todas as restantes, garante, «passou bem» esses momentos. Além das cirurgias, fez durante «muitos muitos anos» fisioterapia que «também ajudou bastante». «É uma forma de fortalecer os músculos e é como se fosse um complemento às cirurgias, ou seja, com as cirurgias ficamos de uma forma mas se quisermos melhorar nem seja um bocadinho, fazemos alguns exercícios de fisioterapia», esclarece.
Nunca se sentiu marginalizado ou «descriminado e deixado de lado» pela sua forma diferente de andar. «Nunca tive dificuldades em fazer amigos», frisa. Por isto, mas também por ser uma doença com a qual já nasceu, acredita que a consegue encarar mais facilmente: «Sempre lidei muito bem mesmo, mesmo nas aulas de educação física em que tinha avaliações e exercícios adaptados, nunca foi uma coisa que me afetasse psicologicamente. É totalmente diferente nascer assim ou viver 18 anos sem nada e depois ter um acidente e ficar assim, porque aí negamos a doença», reflete.
Renato Simão também se considera um «sortudo» por ter manifestações menos acentuadas da doença: «Há quem não se consiga mexer mesmo, que precise de uma cadeira de rodas, quem tenha complicações na bexiga, complicações que eu não tenho». No seu caso foi sendo «tudo controlado desde novo, o que fez com que as coisas melhorassem minimamente». Agora, Renato Simão sabe que tem “um contrato vitalício” com a doença. «Em princípio, no meu caso, os sintomas não devem piorar, mas também não vão melhorar, já não dá para fazer muito mais, mas não me assusta saber que vou viver assim o resto da vida», diz.
No fundo consegue olhar para a doença e pensar que «nem limita assim tanto». «No meu caso, consigo andar e fazer quase tudo normalmente, há pessoas bem mais dependentes e que têm de limitar a vida em função de certos tratamentos», realça. «Eu nunca tive que fazer isso e tenho sorte, isso sei eu bem que tenho sorte», diz, de sorriso dos lábios.