Uma é a “Estrada das Voltinhas”, outra, a “Estrada da Vergonha”, porque «toda a gente diz que aquilo é um vergonha que lá está». Foi assim que um dos populares da Cabeça Veada, na União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, as intitulou, na última reunião camarária pública, precisamente na Mendiga. O tema tem levantado algum descontentamento por parte dos habitantes da aldeia serrana, que se veem a par com duas situações distintas no que toca ao ordenamento das faixas de rodagem.
A “das voltinhas”
Atravessa a Serra dos Candeeiros e as pedreiras fronteiriças à aldeia, e está cortada, obrigando as pessoas a «ir à Bemposta para ir outra vez para o pé de Valverde, para o extremo do distrito», pelo que José Alberto, o habitante da Cabeça Veada que trouxe a discussão para cima da mesa, pergunta-se se, tendo «vários pontos para haver alternativas, não são aceites», e «qual a razão» para tal, firmando que este era um caminho público muito antes de lá existirem pedreiras e que, «para beneficiar dois ou três senhores capitalistas, prejudica-se o povo desde o Arrimal, Marinha [da Mendiga], Cabeça Veada, Mendiga».
Em resposta, o presidente do Município, Jorge Vala, explicou que foi a Direção-Geral de Energia e Geologia que «deu ordem para encerrar o caminho, porque configurava perigo para quem lá passava». «Nem sequer avisou a Câmara que o caminho ia ser cortado», disse, referindo que «o presidente também não vai abrir o caminho» sozinho, e dando o exemplo que aconteceu em Borba, em 2018, quando derrocou uma estrada sobre as pedreiras, e o vereador da oposição, Rui Marto, também recordou tal desastre, pedindo que se faça «uma avaliação do que está em causa».
A “da vergonha”
O tema, como recordou a socialista Sofia Pereira, já está em cima da mesa pelo menos desde março de 2023, quando chegou à reunião de Câmara quase «a iniciar o processo de levantamento topográfico». Traduzindo por miúdos: os populares não queriam os camiões que chegam das pedreiras a atravessar a Estrada Principal do lugar, num problema «que tem décadas», diz Jorge Vala. Ora, a solução encontrada, ainda no papel, também não parece satisfazer os moradores, que até a intitularam de CREC – Circular Rodoviária Externa da Cabeça Veada. Fala-se de pouca segurança perante as toneladas de peso que os camiões carregam numa inclinação acentuada, mas Jorge Vala voltou a refutar a questão e a atirar as responsabilidades para o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF): «Não conheço as razões porque o ICNF emitiu um parecer, não para aquele traçado, mas emitiu um parecer daquele traçado, ou seja, não foi inventado pela Junta de Freguesia, é uma sugestão que o ICNF deu, segundo sei, como a única alternativa possível».
Ainda assim, a Câmara quer estar «envolvida na tentativa de encontrar outra solução de encaminhamento do trânsito, que está em cima da mesa. A razão deste investimento que está a ser feito é precisamente porque achamos que não faz sentido, entre um conjunto vasto de casas, passarem de uma forma sistemática camiões carregados de pedra, mas que transtornam qualquer tecido urbano consolidado.
Foto | Bruno Fidalgo Sousa