Durante a tarde do dia 5 de maio, estudantes do curso de Comunicação e Media da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria (IPL) e também alguns da Escola Secundária de Porto de Mós puderam conhecer Os vários mundos dentro do jornalismo, numa conferência que versava sobre essa temática. Para os ajudar a entender melhor os meandros da profissão, contaram com o testemunho de quatro profissionais da área, onde cada um descreveu um pouco do seu percurso, partilhou algumas características inerentes ao exercício desta atividade e contou episódios que já presenciou. O Cineteatro de Porto de Mós foi o local escolhido para acolher a sessão cujo painel era composto por quatros jornalistas: Elisabete Cruz (Jornal de Leiria e Agência Lusa); José Durão (Correio da Manhã); Pedro Miguel Santos (Fumaça) e Carlos Almeida (Região de Leiria).
Ser jornalista “não é nada fácil”
Após a sessão de boas-vindas deu-se início à conferência, com o único elemento feminino do painel. Elisabete Cruz é jornalista do Jornal de Leiria há mais de 24 anos, mas foi no seu trabalho enquanto colaboradora da Agência Lusa – função que exerce há uma década – que mais incidiu: «O nosso objetivo é dar a conhecer o que acontece em muitas localidades, muitas vezes desconhecidas para a maioria dos portugueses», explica.
Enquanto correspondente da Lusa é responsável por cobrir parte do distrito de Leiria (da Marinha Grande até Pedrógão Grande) e afirma que a nível regional a «proximidade às fontes», que não existe a nível nacional, nem sempre é uma vantagem. «Estando-se mais próximo, facilmente podem ficar chateados com aquela notícia que não demos ou porque escrevemos algo menos simpático», conta, deixando uma ressalva: «Os jornalistas, não estão contra ninguém. A nossa função é denunciar situações para que quem está no poder possa responder sobre o que está a acontecer».
Elisabete Cruz afirma que na Lusa, a única agência de notícias em Portugal, «o lema é estar sempre em primeiro», mas sem nunca descurar o rigor. «Entre a pressa e o rigor, o rigor está sempre primeiro. Um erro nosso vai ser replicado por toda a gente, por isso o objetivo é errar o menos possível», justifica. A terminar, a jornalista quis deixar uma mensagem aos «futuros jornalistas»: «Pensem bem no que querem fazer, isto não é nada fácil. Sou jornalista desde os 18 anos e não me vejo a fazer outra coisa, mas não há horários e não pensem que vão ganhar muito dinheiro. Mas se gostam, tentem, é uma profissão muito bonita», reconhece.
“O mais importante nas notícias é o que não está lá”
José Durão, colaborador do Correio da Manhã desde 2017, compara a tarefa de fazer uma notícia a «cozinhar». «Não podem fazer uma coisa que leva seis horas em três. É impossível. O problema é que as notícias precisam do mesmo tempo para serem rigorosas, verdadeiras e bem feitas e os meios que temos para as publicar exigem que saiam 90% antes do que é suposto», considera. José Durão recorre a outra comparação para sustentar a ideia: «Uma notícia é quase como uma obra em Lisboa, vai-se fazendo, devagarinho. Pode ser que isto agora seja verdade e depois logo se vê». Esta é uma prática comum que, acredita, «destrói a credibilidade» de vários profissionais da área. O jornalista alerta que numa notícia «o mais importante é o que não está lá» e, por isso, fala da necessidade de os jovens de hoje – os profissionais de amanhã – conseguirem olhar para um texto e se questionarem. José Durão deixa ainda um conselho aos estudantes que pretendam ser jornalistas: «Se a vossa primeira experiência de jornalismo for quando acabarem o curso, vocês ainda nem começaram a aprender. Tentem fazer qualquer coisinha antes».
Pedro Miguel Santos – que já tinha estado na conferência da manhã – começou por parabenizar O Portomosense e a Rádio Dom Fuas, que ainda hoje lhe servem como referência quando quer saber o que se passa na sua terra (a Corredoura). Enquanto partilhava a sua experiência profissional, falou sobre a ida para Lisboa e a sua passagem pela Visão: «Foi um privilégio porque aprendi e convivi com pessoas que tinham trabalhado em eventos históricos inacreditáveis. Depois, quando me fartei de estar lá e de ser falso recibo verde, pensei: Acabou-se o jornalismo, vou trabalhar para outro lado», conta. Estava longe de imaginar que mais tarde iria participar na construção de um novo órgão de comunicação social que nada tinha que ver com as experiências que viveu anteriormente. Durante seis anos fez parte do Fumaça, um projeto que «rejeita velocidade e notícias a metro» e onde se acredita que é possível «definir os termos em que se faz a investigação e o jornalismo». «No Fumaça, 53% das despesas são pagas pelas pessoas», revela.
A completar o painel esteve Carlos Almeida, jornalista do Região de Leiria, onde cobre sobretudo os concelhos da Batalha, Porto de Mós e Marinha Grande, que aproveitou para deixar uma crítica: «As pessoas, muitas vezes, não têm a perceção do valor social daquilo que o jornalismo faz». O jornalista fez ainda uma analogia entre as notícias e água, brincando com a perceção que as pessoas têm das notícias. «A água está em condições para ser bebida mas nós em boa parte das vezes bebemos água engarrafada porque sabe melhor, se bem que em termos de pureza vai dar tudo ao mesmo. Em relação às notícias, não, achamos que é tudo igual e ninguém está disposto a pagar. Com a diferença que as análises da água estão online, as notícias é uma sorte, ou aprendemos a escolhê-las ou estamos desgraçados», considera.
Fotos | Rita Santos Batista