O extrato da camarinha pode ter propriedades anticancerígenas. Esta é uma das conclusões do projeto IDEAS4life (Novos Ingredientes Alimentares de Plantas Marítimas) da Universidade de Coimbra, coordenado pela investigadora portomosense, Aida Moreira da Silva, e por Maria João Barroca. Na nota de imprensa onde foram divulgados os primeiros resultados deste projeto, é explicado que foram desenvolvidas experiências que permitiram concluir que os «extratos de camarinha conseguem inibir a proliferação» de células cancerígenas, tendo a experiência ocorrido em «linhas celulares do cancro do cólon». Um dos aspetos positivos desta descoberta é o facto de se ter comprovado que «o extrato obtido a partir das folhas da camarinheira» é mais «eficaz do que propriamente o extrato das bagas camarinha»: «O que é muito interessante, atendendo a que as folhas existem durante todo o ano, enquanto as bagas são sazonais», esclarecem as investigadoras.
O projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e realizado por uma equipa da Unidade de Investigação e Desenvolvimento de Química-Física Molecular, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, vai continuar e os investigadores pretendem agora realizar testes in vitro, alargando a aplicação do extrato das folhas da camarinha a células de outros tipos de cancro. As investigadoras dizem que é objetivo «recuperar as bagas ancestrais, que eram usadas como antipirético e vermicida».
Em janeiro de 2019, ainda numa fase embrionária do projeto, Ainda Moreira da Silva explicou a O Portomosense que é também uma das apostas desta investigação explorar a vertente gastronómica da camarinha, algo que o comunicado da faculdade voltou agora a reforçar. A investigadora salientava na altura que a camarinha, juntamente com a salicórnia, também incluída nos estudos, poderiam vir a ser «uma mais-valia para a população no futuro» e que era importante «valorizar estes recursos endógenos». Nessa fase inicial de recolha, frisa que, no caso da salicórnia, havia uma parceria com uma empresa pasteleira de renome, para a elaboração de bolachas. Já quanto às camarinhas, havia o «interesse de chefs da parte gourmet de usar a camarinha por si só ou como era usada antigamente, como geleia».
Esta investigação conta também com a participação de investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através da Rede de Química e Tecnologia e do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. O projeto arrancou em julho de 2018 e tem a duração de três anos.