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“Excursões Botânicas” para descobrir a flora do concelho

1 Julho 2021
Isidro Bento

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Isidro Bento

1 Jul, 2021

Excursões Botânicas é a mais recente proposta da associação Vertigem e do Município de Porto de Mós para todos aqueles que queiram conhecer o território do concelho. O livro apresentado no passado dia 19 de junho, no cineteatro, desafia o leitor a partir à descoberta da flora local, em nove percursos distintos identificados como: Arrimal, Alvados, Bezerra, Mira de Aire, Cabeço da Fórnea, Juncal, Candeeiros, Planalto da Mendiga e Chão Nogueira. Quem aceitar o desafio pode, ainda, decidir se quer descobrir a flora existente nestas zonas, por tipo de solo, paisagem, habitat ou tipo de vegetação ou, se preferir, ir à procura de espécies específicas.

De acordo com Rui Cordeiro, o presidente da Vertigem, e o principal rosto deste projeto, «o livro não substitui o guia de campo» sendo uma ferramenta para a descoberta do território do concelho “à boleia” da sua flora. «As pessoas que gostam da natureza, de fotografar plantas, podem ter aqui um documento útil para visitar Porto de Mós, até porque no livro apenas estão representadas 236 espécies das 576 potencialmente presentes», sendo que ao longo deste trabalho foram registadas, referenciadas e fotografadas cerca de 450», sublinhou no decorrer da sessão de apresentação.

«O livro propõe ao utilizador ser ele próprio um agente de informação e por isso existem páginas para as pessoas tomarem os seus apontamentos. Por exemplo, se encontrarem uma planta que não está referenciada no livro, podem tomar nota e fotografá-la e mais tarde comunicar com a própria Vertigem e com o projeto Discover Porto de Mós e se não a tivermos registada, sê-lo-á, e a pessoa poderá adicioná-la depois na lista de espécies constante do livro», adiantou.

Os critérios adotados para a seleção dos nove percursos tiveram em conta a conjugação de fatores como áreas em tipos de solos, habitats e orografias diferentes, áreas naturalizadas em terrenos baldios com percursos sinalizados e distribuição espacial equitativa. «Os percursos são diversos, podem ser maiores ou mais pequenos e a pessoa pode ir lá e visitar apenas uma parte ou percorrê-lo todo».

Durante a mesma sessão, Rui Cordeiro explicou que a obra Excursões Botânicas é, apenas, uma das componentes de um projeto mais vasto iniciado em 2016, numa parceria entre a Vertigem e a Câmara. «Criámos esta ideia do descobrir Porto de Mós [e daí a designação Discover Porto de Mós] e começámos a armazenar a informação recolhida ao longo dos anos numa base de dados online onde guardamos dados sobre a fauna, flora, atividades como o Tokandar, património paleontológico e outras áreas de estudo. Com base nisso já temos um trabalho feito sobre os briófitos, que são musgos, a flora vascular, que tem como um dos resultados a edição deste livro, e os líquenes».

«Desde 2016 para cá tentámos sair com algumas edições em formato edição parcelar, ou seja, reunindo parcelas de informação relativas a determinada temática. Por exemplo, a propósito do Tokandar, editámos um folheto em português e inglês para se perceber um pouco do património local, e na parte do birdwatching fizemos sete mini-guias e um livro», acrescentou.

Segundo o presidente da Vertigem, «já em 2020 foi criada a base de dados para dar a conhecer a flora e a vegetação do território e sempre a pensar numa perspetiva de turismo de natureza». «Não estamos a falar de algo académico ou muito técnico. Tentámos encontrar um modelo que tenha uma linguagem mais facilitada, acessível ao comum dos cidadãos e que vá ao encontro das perguntas dos que visitam este território. As pessoas querem vir cá e têm, através deste documento, uma informação que explica não só o que existe mas por que existe aqui», justificou.

Durante a sua apresentação, Rui Cordeiro deixou, ainda, uma série de notas curiosas. Depois de ler o livro A Nação das Plantas, de Stefano Mancuso, onde se ficciona um mundo onde as plantas têm uma nação e se dividem em territórios como se fossem municípios, o autor não tem dúvidas que «caso esse mundo existisse, no território correspondente ao concelho de Porto de Mós, a bandeira seria de certeza amarela, a cor dominante entre as flores que aqui é possível encontrar, e o brasão não teria um guarda-rios mas, por exemplo, um inseto». Outra nota curiosa é a de que um espanhol pode observar aqui 20 plantas que não encontra no seu país, enquanto no caso de um francês serão 49, ou seja, cerca de uma em cada 10 espécies constituiriam uma novidade para um turista vindo de França.

Em momentos diferentes da cerimónia, o presidente da Câmara e também o vereador do Ambiente e do Turismo, respetivamente, Jorge Vala e Eduardo Amaral, agradeceram a Rui Cordeiro todo o trabalho que tem feito em prol de Porto de Mós, não só ao nível da associação Vertigem mas também como investigador e promotor do património natural do concelho. Ambos os autarcas deixaram claro que a parceria no âmbito do projeto Discover Porto de Mós, é para continuar, prevendo-se que outras publicações e ações de divulgação e promoção vão surgindo, até porque a Câmara entende esta vertente como fundamental no sentido de dar a conhecer o que existe, para que possa ser preservado pela população, mas também para atrair turistas ao concelho.

Conferência debate biodiversidade

A sessão que serviu para lançar o livro Excursões Botânicas foi também aproveitada para uma conferência subordinada ao tema Valorizar a biodiversidade para o progresso e desenvolvimento das comunidades, que teve como oradores, João Paulo Fidalgo Carvalho, professor, investigador e presidente da representação portuguesa da Pro Silva – Integrated Forest Management; Rui Pombo, diretor regional de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e Domingos Patacho, dirigente da associação ambientalista Quercus.

Na abertura, o presidente da Câmara, disse que «a biodiversidade é um tema muito caro» ao seu executivo porque «além de promover a natureza do ponto de vista da biodiversidade existente no nosso território, tem havido também a promoção do turismo de natureza e, sobretudo, a educação ambiental» e na sua perspetiva só se defende o património natural «se houver uma interligação muito grande com as pessoas e estas perceberem o que está em causa».

Jorge Vala deixou claro que a exploração de pedra «é um fator económico decisivo» no concelho pelo que terá de andar de mãos dadas com o ambiente e ser integrada no geoparque que se espera que venha a ser criado num futuro próximo. Sem nunca se dirigir diretamente ao diretor regional, o autarca frisou que é importante gerir bem os vários elementos presentes no território e daí ser «um defensor acérrimo da cogestão das áreas protegidas». Segundo o edil os municípios têm de assumir as suas responsabilidades a este nível e têm capacidade para ser «parceiros do ICNF» porque «os autarcas de hoje sabem decidir e sabem defender a sustentabilidade ambiental».

No final de uma longa intervenção, Rui Pombo não deixou Jorge Vala sem resposta. O diretor regional do ICNF disse que «o modelo de cogestão tem virtudes e defeitos», defendendo, contudo, que este deve ser testado trazendo «os atores locais, as autarquias, as associações de desenvolvimento local e a academia» para a gestão destas áreas. Com isso chega também, no seu entender, «uma nova visão da gestão, divulgação, promoção e recuperação destes mesmos habitats», sendo certo para si que as questões de regulação e fiscalização caberão ao Estado.

O diretor regional disse também que a cogestão pode ainda não estar oficializada no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros mas o contacto permanente com os parceiros locais é desde há muito uma realidade.

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