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FabLab promove sessão sobre empreendedorismo

26 Janeiro 2023
Isidro Bento

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Isidro Bento

26 Jan, 2023

Ações de sensibilização há muitas, mas são poucas as que conseguem prender a atenção dos jovens do princípio ao fim. Narrativa de um empreendedor, a ação promovida pela Associação FabLabs Portugal em parceria com o FabLab de Porto de Mós, no dia 13 de janeiro, no Cineteatro, teve esse mérito, fazendo com que os alunos do 12.º de todo o concelho seguissem, com grande atenção, as intervenções dos vários oradores.

O primeiro, Luís Oliveira, da Yoga em Cortiça, começou logo com um ensinamento: «A vida é feita de avanços, recuos, encruzilhadas, caminhos e pessoas inesperadas e é de todas essas experiências e influências que nascem e crescem os projetos empresariais». No seu caso, passou pela música, tornou-se professor de yoga e foi por causa desta atividade milenar que regressou às raízes familiares para desenvolver blocos e tapetes em cortiça. Depois de ter nas mãos o tapete de yoga que um dos seus amigos intitulou de “1.0”, pensou em como o tornar “2.0” e mais tarde “3.0”, e essa foi outra aprendizagem que partilhou: «Tem de haver uma preocupação constante no aperfeiçoar daquilo que colocamos no mercado». Luís Oliveira confessa-se «fascinado com todas as ferramentas disponíveis e o apoio que alguém que queira criar um produto com base na fabricação digital pode obter num fablab», desafiando os jovens a agendarem «uma visita e descobrirem o muito que tem para oferecer».

O segundo orador foi Carlos Santos, da Tetralogia, uma empresa da Batalha, que explicou as várias etapas a percorrer para ter um negócio de sucesso. Tudo começa com identificar uma necessidade e criar a respetiva ideia de negócio. A seguir deve-se munir do know-how necessário e perceber bem aquilo que as pessoas efetivamente querem. A aposta seguinte é no desenvolvimento de uma boa rede de contactos, defendeu.

Ser empreendedor passa por procurar a constante evolução do produto e estar atento às novidades dos mercados nacional e internacional. Uma vez que nada se consegue sozinho quando se está a começar um negócio, há sempre alguém que tem uma competência que nós não temos mas que nos pode ser muito útil, lembrou. Para se manter uma empresa «é fundamental ter boas contas» e a dada altura surge a necessidade de partilhar conhecimento. «Quer estejam a trabalhar sozinhos ou numa organização não tenham medo de partilhar conhecimento», aconselhou. A perseverança é outro dos aspetos fundamentais.

Jovens portomosenses empreendedoras

Por sua vez, Ana Rita Rodrigues, da Tailoredtile, que comercializa azulejos em plástico reciclado, contou que, logo ao início, se deparou com um problema comum a muitos jovens: tinha uma ideia mas não sabia como a transformar num negócio. Encontrou numa incubadora de empresas a ajuda que pretendia. A meio desse processo descobriu o FabLab de Porto de Mós, onde pôde desenvolver o protótipo que precisava para seguir com o projeto.

Fundou a empresa em 2018, mas ainda hoje não é essa a sua principal fonte de rendimento, mesmo assim leva o negócio muito a sério e já conta com uma experiência razoável. «Desiluda-se quem acha, como eu achava, que está a criar um produto único e que, por isso, não terá concorrência: todos temos concorrência, seja direta ou indireta. Por outro lado, quando queremos desenvolver uma ideia de negócio temos de nos cingir a um produto, desenvolvê-lo o mais possível e, depois, consoante a aceitação do mercado, vamos podendo libertar outros. E há produtos que até são muito inovadores mas para os quais o mercado ainda não está preparado», considerou.

A aposta na personalização foi outra das recomendações. «Apesar de ter um produto muito elogiado», não vingou de imediato, «por não ter preço competitivo face a outras soluções». A partir do momento em que decidiu personalizar os seus azulejos, tudo mudou. «As pessoas que antes não estavam dispostas a pagar 59 euros por metro quadrado, pagam agora, com gosto, 50 euros por 12 azulejos», contou.

A última empreendedora a dar o seu testemunho foi Adriana Lourenço, da Myfish, outra jovem portomosense. Em plena pandemia começou por fazer aguarelas personalizadas que divulgava no Instagram e, mais tarde, ilustrações e aguarela sobre fotografia digital.

Em 2019 descobriu o FabLab local e iniciou-se nas peças em madeira. Pelo meio foi desafiada a ceder um desenho para uma campanha solidária que rendeu quase 700 euros, que foram entregues aos hospitais de Leiria e de Coimbra. Não ganhou um cêntimo, mas alargou a sua rede de contactos e, passado pouco tempo, estava a produzir peças para uma radialista conhecida que, por sua vez, lhe abriu as portas para outras pessoas, até que chegou às chamadas influencers e aí, sim, as vendas dispararam.

«Continuo a recorrer muito ao Instagram, mas em vez de gastar 30 ou 40 euros em publicidade paga, quando tenho uma peça que quero promover, ofereço-a a uma dessas pessoas que têm milhares de seguidores. Uma vez a Carolina Patrocínio fez uma publicação com uma peça minha e, num instante, fiquei com a caixa de mensagens cheia. Em menos de duas semanas vendi mais umas 50 ou 60», contou.

Em dois anos, Adriana Lourenço passou de um “cantinho” em casa para uma loja num centro comercial de Porto de Mós mas sublinha que nada está ganho. «É preciso trabalhar muito, acreditar muito mais, e apostar na personalização e na qualidade das peças. Os olhos também comem e até uma embalagem com um toque único, faz toda a diferença», explicou.

“FabLab torna sonhos em realidade”

«O FabLab é um sonho tornado realidade. Quando o presidente me convidou para integrar o executivo falei-lhe disto e ele gostou da ideia. Foi ver e disse-me: “Vamos fazer um fablab”, e assim foi», contou o vereador do Empreendorismo, Marco Lopes, no final da ação de sensibilização. O FabLab foi inaugurado em 2019 e Marco Lopes não tem dúvidas de que tem sido «uma mais-valia para o concelho e para a região». De acordo com o autarca, «está equipado com várias máquinas e conta com uma equipa fantástica», que fazem com que possa ali ser criado «todo o tipo de produtos».

O presidente da Câmara, Jorge Vala, destacou o «projeto inovador centrado na construção e desenvolvimento de ideias e a relação muito próxima que mantém com as escolas, o tecido empresarial da região e com a academia». O autarca garantiu que «a Câmara está constantemente a investir na qualidade deste laboratório» para que os jovens empreendedores do concelho possam concretizar as suas ideias.

Interveio, ainda, o representante da Associação FabLabs Portugal, Rui Sousa, que fez um elogio ao empreendedorismo realçando que «basta ter uma ideia, os espaços certos e as pessoas certas para fazerem acontecer e isso está presente em cada fablab». O responsável desafiou os jovens a visitar este espaço e, ao mesmo tempo, pesquisarem sobre os vários apoios que estão disponíveis para o empreendedorismo.

Foto | Isidro Bento

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