No passado dia 7 de abril, várias pessoas juntaram-se no Centro de Saúde da Mendiga para manifestar o seu desagrado pela falta de médico na União de freguesias de Arrimal e Mendiga. Estes utentes alertaram para o facto de estarem sem médico «desde dezembro», o que está a «pôr em causa» a sua «saúde». O propósito inicial deste momento não era que se tornasse uma manifestação, mas sim assinalar o Dia Mundial da Saúde, homenageando os profissionais de saúde, explica o secretário da Ur’gente, associação de defesa dos utentes do concelho, João Gabriel. «Fizemos a entrega, em todas as unidades de saúde do concelho e também no ACES Pinhal Litoral, de uma orquídea com um verso», explica. Esta ação terminou precisamente no Centro de Saúde da Mendiga – no Dia Mundial da Saúde – onde «infelizmente só vão usufruir da flor uma funcionária e um enfermeiro, porque não há médico», refere João Gabriel. Além de assinalar este dia dedicado à Saúde e alertar para o facto dos cuidados de saúde primários não estarem assegurado, a Ur’gente queria proporcionar um momento mais leve com os profissionais de saúde: «Sabemos que estas lutas desgastam e até deterioram as relações institucionais, nós não queremos isso. Cada um tem que desempenhar o seu papel e não podem esperar de uma associação um papel diferente que não o de chamar à atenção, lutar pelos interesses dos utentes», salienta João Gabriel.
Apesar do intuito da Ur’gente ser diferente, a verdade é que a população quis aproveitar este momento para contestar. Na luta com os utentes estava o presidente de Junta da União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, Francisco Nogueira Batista. «Esta manifestação nasce para alertar as autoridades para a situação que vivemos, com 1700 utentes sem médico, quando a promessa do Governo que tomou posse foi de que todos os portugueses iam ter médico, aqui há meio ano que não temos médico», explica o presidente. O objetivo é também «não cair no esquecimento» de que este problema existe. Apesar das manifestações que já foram feitas no concelho, continuam a não haver respostas sobre quando se resolverá. Francisco Nogueira Batista, frisa que isto é ainda mais preocupante porque a sua freguesia «tem uma população muito envelhecida com muitas necessidades».
Maria Odete Cordeiro, Maria Paulino, Eusébio Leocádio, Luisete Ferraria e Manuel Paulo são apenas alguns dos rostos que estiveram presentes na manifestação e que a O Portomosense expressaram a sua inquietação. São sobretudo pessoas já com alguma idade, com vários problemas de saúde e que deixaram, por exemplo, de ter um médico para «passar as credenciais para os exames» que regularmente têm de fazer. Alertam para o facto de grande parte da população não ter meios de transporte próprios para se poderem deslocar «a Porto de Mós» ao Centro de Saúde e por isso, acabarem por não ser consultadas. Outros optam por ir ao privado, o que nem sempre é possível tendo em conta o orçamento disponível. Mesmo quando se deslocam ao hospital ou ao Centro de Saúde em Porto de Mós, nem sempre conseguem consulta: «Tem de se ir de manhã para se ter consulta à noite, se chegar a ter, mas tem que se levar marmita e uma garrafa de água, porque se sairmos porta fora perdemos a vez». A própria distância da freguesia à sede de concelho, não facilita. «Nós estamos numa ponta do concelho, não estamos dentro da vila. São 30 quilómetros para ir e vir de Porto de Mós para ir buscar uma receita. É muita coisa no orçamento para quem tem pouco», referem.
A precariedade da Saúde alastra-se a todo o concelho, embora a contratação de novos médicos para um futuro próximo tenha sido anunciada recentemente. O Portomosense tentou contactar o coordenador da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Porto de Mós, que está de baixa e que não tem ninguém a substitui-lo formalmente, para pedir esclarecimentos quanto ao número atual de médicos no concelho. Dada a impossibilidade de falar com o coordenador, o nosso jornal questionou diretamente o ACES Pinhal Litoral que até ao fecho desta edição não tinha respondido.
Fotos | Rita Santos Batista