Farinha de trigo, azeite «do bom», açúcar, raspa de limão, canela, uma pitada «à mão» de erva doce, manteiga, fermento e sal, estão listados os ingredientes que compõem uma ferradura. Quem nos disse a receita foi Isabel Amado, gastrónoma, natural de Mira de Aire, com um vasto conhecimento da gastronomia local e nacional. No concelho de Porto de Mós, os bolos em forma de ferradura são uma das lembranças tradicionais que os noivos oferecem aos convidados, mas qual é a sua origem?
«Não se sabe exatamente a data em que apareceram as ferraduras, mas sabe-se que na época da colheita da azeitona, os proprietários davam aos seus ranchos, varejadores e apanhadores estes bolos junto com a alimentação e o salário», conta a especialista. Isabel Amado diz também que a ferradura chegou ao concelho através das «migrações internas de verão ou no tempo da azeitona» entre o Ribatejo e a Estremadura, onde se insere o concelho de Porto de Mós. «No Ribatejo são mais usados em forma de bolos de cabeça e aqui, na Estremadura, em forma de ferradura», explica. Além de ser utilizado como lembrança de casamento, foi sempre muito usado «nas procissões» religiosas em ambas as regiões.
A opção por esta lembrança por parte dos noivos, acredita Isabel Amado, prende-se com o facto de ser «um bolo caseiro, que tem uma confeção barata e que agrada a muitos», além de ser possível, de uma vez só «fazer uma grande quantidade», isto porque, a tradição manda que sejam feitos «em grandes alguidares de barro». É possível também adaptar a massa «a diferentes formatos e tamanhos». Esta versatilidade alia-se ainda «à duração»: «É um bolo que tem uma duração muito maior do que outros bolos, é capaz de durar um mês se for feito com produtos bons, o que faz a diferença e torna prático de oferecer».
A gastrónoma acredita que ainda é «muito frequente, principalmente nos casamentos do campo» oferecer a ferradura como lembrança, embora reconheça que existem hoje «muitos materiais e objetos engraçados» que conquistaram a atenção dos noivos. Mas, «felizmente», frisa Isabel Amado, as ferraduras «ainda se conseguem manter» nas celebrações concelhias.