Foi um autêntico “três em um”. Uma pequena multidão juntou-se no dia 4 de fevereiro, em Casais de Matos (Calvaria de Cima), nuns festejos em dose tripla. Este ano, à habitual festa em Honra de Nossa Senhora da Guia juntou-se a dos 99 anos da freguesia e da paróquia e o lançamento das comemorações do centenário.
A festividade “calhou”, precisamente, no dia que, há 99 anos, ficou marcado como o da criação oficial de ambas e nessa «coincidência feliz» viu-se uma excelente oportunidade para a realização de uma festa maior, explica ao nosso jornal o presidente da Junta de Freguesia da Calvaria de Cima, Luís Silva.
De acordo com o autarca, a ideia foi prontamente aceite e teve o total apoio da comissão da capela e do Salão de Convívio dos Casais de Matos. O facto de ter lugar fora da sede da freguesia reforça a estratégia de descentralização e acaba por reforçar os laços entre todos, considera. «Hoje é aqui mas iremos também à Calvaria e a São Jorge e a outros pontos da freguesia onde haja eventos nos quais se concentre a população», frisa.
«As comemorações são conjuntas porque não se justificava nem parecia bem que entidades que trabalham todo o ano em prol da mesma população e que foram criadas na mesma data aparecessem separadas, cada uma com o seu próprio programa», justifica o autarca.
Segundo Luís Silva, a evocação será feita com um conjunto de atividades (que podem ser iniciativa das aniversariantes ou aproveitando eventos de outras instituições locais) «de forma a honrar a história, o património e a capacidade associativa locais».
O responsável adianta que além destas «está a ser preparada uma grande festa» a ter lugar nos dias 7, 8 e 9 de fevereiro de 2025 «junto ao parque verde» da Calvaria de Cima. O autarca garante que os festejos serão à altura da grandeza da data que se pretende assinalar. O reconhecimento às pessoas e instituições que «com muito trabalho e dedicação» ajudaram a construir a freguesia «para ser o que é hoje», que será feito ao longo do ano, terá aqui o seu ponto alto. «Vamos, por exemplo, convidar todos os antigos presidentes de Junta ainda vivos e um representante da família dos que já não estão connosco, para lhe entregamos a medalha comemorativa dos 100 anos, em sinal de reconhecimento por tudo o que fizeram por esta terra», realça.
«Fazer 100 anos é algo muito importante e ficamos felizes por coincidir com o nosso último ano de mandato. É sempre um orgulho para qualquer pessoa estar à frente de uma instituição que assinala uma data tão significativa», sublinha Luís Silva assumindo que ambas as entidades estão bem cientes da responsabilidade que têm entre mãos para festejar de forma digna o centenário.
Instituições recebem medalha
Este ano, a festa em Honra de Nossa Senhora da Guia teve todos os elementos habituais de uma festa popular, com o natural destaque para a missa solene e a procissão que percorreu as ruas do lugar, tendo, contudo, nesse domingo sido enriquecida com a apresentação da curta metragem Mosaicos do Tempo, uma produção da associação local, Ala D´Artistas, e com uma singela sessão de reconhecimento público com a entrega da medalha comemorativa a entidades/individualidades que fazem parte da história e que deram o seu contributo à freguesia ao longo dos 100 anos.
Foram homenageadas a paróquia «pela vida em comunidade e serviço à população»; o Salão de Convívio dos Casais de Matos «como agradecimento pela disponibilidade em servir a comunidade diariamente», constituindo-se também como autêntico «centro de convívio» da população local, e a Ala D´Artistas «por levar a freguesia e o concelho bem mais além das suas fronteiras» e pelo trabalho que desenvolve através dos seus programas artísticos e educativos, muito deles «apoiados pelo Ministério da Cultura, sinal claro do reconhecimento do seu valor», explica a O Portomosense, Sofia Leal, a tesoureira da Junta.
Nesta sessão interveio também o pároco local, José Henrique Pedrosa, que começou por dizer que «nesta parceria, paróquia e junta estão a olhar para trás, para os seus 99 anos, e a preparar e a celebrar essa grande festa para toda esta comunidade que aqui se junta e que será a dos 100 anos». «Paróquia e freguesia estão unidas nestas comemorações por forma a olharmos para o passado e fazer memória porque sem memória esquecemos quem somos e o que fizemos. A memória faz-nos olhar para o presente mas também para o futuro com esperança», concluiu assumindo que a população é herdeira mas também construtora de uma história já longa.
“Mosaicos do Tempo”, a vida em nove cenas
Diz o ditado popular que “o bom filho à casa torna” e salvaguardadas as devidas distâncias foi isso que aconteceu no dia 4, com a curta metragem “Mosaicos do Tempo – Uma Jornada Cinematográfica pelos Mosaicos da Vida”. O projeto, fruto de uma das ações de formação promovidas pela associação Ala D´Artistas, sediada nos Casais de Matos, teve apresentação pública em novembro de 2023 no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA), em São Jorge, e agora, à boleia da comemoração do aniversário da freguesia e da paróquia, regressou aos Casais de Matos para ser mostrada perante o público da terra.
A exibição da curta metragem foi antecedida de uma breve apresentação por parte de Ana Paula Vitorino, a autora do argumento. «Este filme é consequência de um curso de teatro e cinema que frequentámos ao longo de nove meses promovido pela Ala D´Artistas. De cinema não tínhamos quaisquer “luzes”, nunca tínhamos feito produção ou edição e, por isso, foi um bocadinho difícil mas a vida é feita de desafios e hoje estamos muito satisfeitos com o resultado final», disse realçando o facto de que à exceção de Fábio Silex, o diretor artístico da Ala D´Artistas, todos os outros não terem a mínima experiência em cinema. «Somos todos amadores e tendo em conta o que fizemos acho que merecemos os parabéns», afirmou.
A curta metragem foi praticamente toda filmada na freguesia da Calvaria de Cima (à exceção de uma fugaz passagem pela Maceira) e além dos atores contou também com a participação de figurantes calvarienses e o apoio das várias instituições locais às quais Ana Paula Vitorino agradeceu: Foram incansáveis. Sem elas nada teria sido possível», disse.
Mosaicos do Tempo, dirigido por Elsa Filipe, é uma obra que se desenrola em nove cenas distintas e por onde passa uma vida, desde o nascimento à morte. «A imagem que quis passar foi que a vida nem sempre é linear, nem sempre segue o rumo que idealizámos. Escrevi o argumento para que ao ver o filme pensemos um pouco na vida e comecemos a dar valor às coisas que realmente têm valor», sublinhou Ana Paula Vitorino, terminando, com um “apelo”: «Sejam felizes e vivam porque a vida é curta, e amem-se uns aos outros».
De acordo com Sofia Leal, tesoureira da Junta de Freguesia da Calvaria de Cima, entendeu-se que num dia em que se evocava a “vida” longa e rica da freguesia e da paróquia fazia sentido apresentar um filme pensado e feito localmente que olha para as várias fases da vida.