Alexandre Patrício Gouveia, presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota (FBA), recentemente falecido, foi alvo de homenagem promovida pelo novo conselho de administração da instituição. A cerimónia realizada no dia 2 de junho, no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA), em São Jorge, ficou marcada pela inauguração da exposição Uma vida de causas, que retrata a vida e a obra do antigo político e gestor e pela atribuição do seu nome ao auditório do CIBA.
Estiveram presentes a viúva do homenageado, elementos dos órgãos sociais da FBA, o vice-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós e o presidente da Junta de Freguesia da Calvaria de Cima, antigos e atuais colaboradores do CIBA, assim como amigos e pessoas que trabalharam de perto com aquele que foi desde a data de criação da instituição (15 de março de 2002) até ao seu último dia de vida, o rosto da fundação.
“Continuaremos o trabalho de Alexandre Patrício Gouveia”
Na altura, António Ramalho, o novo presidente da FBA, iniciou o seu discurso explicando que o conselho de administração «fez questão de que o seu primeiro ato público fosse a inauguração desta exposição em homenagem ao seu presidente». «Desta maneira quisemos que, simbolicamente, ficasse assinalada a confiança que o conselho de curadores tem neste novo conselho e deste modo ficar simbolicamente definido que a sua função é orientada para a continuidade do trabalho realizado anteriormente» afirmou assumindo «o compromisso de dar continuidade à fundação instituída por António de Sommer Champalimaud há mais de 20 anos de que Alexandre Patrício Gouveia foi o seu primeiro e único presidente até hoje e que a ela deu corpo e alma através deste projeto».
Na altura, o responsável prometeu «continuar o esforço de valorização do campo de batalha, quer pelo conteúdo e reforço do trabalho pedagógico, quer pela valorização do seu enquadramento paisagístico, quer pela valorização dos seus percursos e achados». António Ramalho garantiu, ainda, que a FBA «continuará a desenvolver a promoção da sua história, quer na atualização constante deste centro interpretativo, quer na criação de um verdadeiro roteiro de batalhas de independência, visando o alargamento dos seus públicos, dando prioridade aos escolares» que continuarão a merecer «a atenção integral mas valorizando o campo num roteiro mais vasto do edificado monumental desta zona do país cuja ligação à Dinastia de Avis tem de ser valorizada».
Preservar valores de Aljubarrota com apoio da população
Ficou também a promessa de que a FBA continuará «a desenvolver toda a simbologia de Aljubarrota, que representa a confirmação de uma identidade nacional, de um conjunto de valores, de uma capacidade de acreditar e realizar o impossível que nos distingue enquanto povo e nos inspira enquanto nação» e que isso será feito «com a sociedade civil, os colaboradores do CIBA, mecenas, visitantes, universidades, fundações congéneres em Portugal e no mundo e, sobretudo com as populações vizinhas que nos rodeiam e acarinham».
António Ramalho passou, depois, em revista, as principais causas em que Patrício Gouveia esteve envolvido, enaltecendo «a tenacidade, perseverança e convicção» com que o fez. E foi a pensar «no Alexandre das causas, da persistência e, às vezes, até da teimosia» que o conselho de administração decidiu além da exposição, dar o nome Alexandre Patrício Gouveia ao auditório que é o núcleo central da visita ao CIBA, justificou.
Interveio a seguir a viúva do homenageado, Vera Teixeira Patrício Gouveia, que agradeceu esta homenagem que juntou «amigos e colegas da direção da FBA» e confirmou que, de facto, a criação do CIBA e a valorização do campo de batalha foram o grande sonho de Patrício Gouveia e que o mesmo concretizou com muito esforço pegando num campo «que estava muito abandonado» e ao qual trouxe «camionetas cheias de gente» que mobilizou e que o ajudaram a “dar corpo” a este projeto, com especial destaque para António Champalimaud que instituiu a FBA.
Criação da FBA marcou toda a região
«O Alexandre era uma pessoa discreta, nunca embandeirava muito em arco, mas, de facto, a fundação acabou por ser uma realidade extraordinária que veio marcar toda esta zona do país, como ainda há poucos dias o reconheceu o Turismo do Centro, atribuindo-lhe o prémio Personalidade» disse.
Vera Patrício Gouveia recordou que a relação do seu marido com o poder local, «nomeadamente com algumas câmaras, foi sempre complicada» porque «há sempre a parte política, o que é uma pena, porque sem tradições, sem cultura, as zonas também perdem o seu interesse», disse. «Espero que de futuro continuem a apoiar todo este projeto. O Alexandre tinha algumas preocupações com a sucessão mas acho que estamos todos muito bem entregues e agora tem de se fazer mais e melhor e, com certeza, diferente, porque o Alexandre era uma pessoa única. Se não fosse a sua persistência e tenacidade hoje não estaríamos neste patamar», concluiu.
Encerrou as intervenções, Daniel Proença de Carvalho, o presidente do conselho de curadores da FBA, que recordou que Patrício Gouveia «esteve em todos os momentos de afirmação desta fundação» e correspondeu ao grande patriotismo de António de Sommer Champalimaud e se hoje a Fundação e o CIBA existem e são «afirmação desse patriotismo», isso deve-se a ambos.
O conhecido advogado lamentou a morte «prematura» e «injusta» de Patrício Gouveia «quando ainda tinha muito para dar» mas agora, afirmou, «há que continuar, e o conselho de curadores, por unanimidade, encontrou no António Ramalho, o presidente da Fundação». Proença de Carvalho mostrou-se convicto de que Ramalho «com o seu talento, a sua experiência de vida e também o seu patriotismo, e os colegas que o acompanham na administração» darão seguimento a todos os objetivos enunciados e ao sonho de Patrício Gouveia e António Champalimaud.
Depois de inaugurada a exposição foi descerrada a placa com o nome de Alexandre Patrício Gouveia, à entrada do auditório. Já no interior deste espaço foi visionado o filme que retrata os principais episódios da Batalha de Aljubarrota.
Alexandre Patrício Gouveia faleceu no passado dia 12 de março, vítima de doença prolongada.
ISIDRO BENTO | texto e foto