«Mais do que ganhar, o principal objetivo é educar, ensinar e promover os valores que a prática desportiva oferece». A frase foi-nos dita pelo presidente do Grupo Desportivo das Pedreiras, Luís Ribeiro, e transmite toda a filosofia de um clube que, com recursos materiais mais humildes, vai conseguindo preparar atletas para ombrear com as maiores potências do atletismo a nível nacional. O emblema da freguesia de Pedreiras tem-se revelado uma autêntica fábrica de jovens talentos, procurando, sempre de forma sustentada, criar as melhores condições para os atletas. O segredo, esse, está nas pessoas.
«Não tenho a mínima dúvida que a chave está no corpo técnico, que é excelente. As condições que temos em termos de infraestruturas são iguais a muitos outros clubes, por isso, os excelentes resultados que têm sido obtidos só podem estar relacionados com os nossos recursos humanos», começa por dizer o dirigente do clube, que destaca ainda a sensibilidade humana essencial para continuar a atrair jovens. «Queremos que os atletas se sintam integrados numa família, aqui nunca serão excluídos. Podem não ter jeito para jogar futebol, por exemplo, mas aqui teremos sempre espaço para todos», afirma Luís Ribeiro, para quem a felicidade vista como a força motriz deste projeto, uma vez que «os miúdos se divertem, muitos treinam quatro dias por semana, têm vidas exigentes, privam-se de fazer coisas normais dos jovens fazerem em certas idades, mas estão contentes porque sentem que fazem parte de um grupo coeso».
Uma casa com 53 anos de história
A 7 de março de 1971, o Grupo Desportivo das Pedreiras foi fundado oficialmente «por um grupo de amigos que se juntou para jogar à bola». Mais tarde, «começaram a participar no campeonato de futebol de Inatel», tendo, posteriormente, efetuado a inscrição na Associação de Futebol de Leiria para disputar o campeonato distrital. Durante vários anos, o futebol foi a modalidade rainha do clube, apesar de já existir atletismo desde 1986, contudo o cenário começou a mudar no início dos anos 2000, quando alguns atletas seniores começaram a participar em corridas. Em 1998, o Grupo Desportivo das Pedreiras já se tinha inscrito na Associação Distrital de Atletismo de Leiria, mas foi apenas em 2005 que iniciou o atletismo de formação, no mesmo ano em que o futebol findou a atividade no clube. Emanuel Moniz é um dos nomes associados ao desenvolvimento daquela modalidade, algo que aconteceu depois de ter sido dispensado da equipa de futebol. «Ele já contou a história, quando passou para sénior não foi aceite na equipa porque tinha mais habilidade para correr do que para jogar», brinca Luís Ribeiro. «Nessa época, juntou-se ao grupo de atletismo sénior, tirou o curso de treinador de formação e começou a dar treinos a alguns miúdos que apareciam», conta. A partir daqui começaram a reunir-se mais jovens até que, pontualmente, «foi aparecendo um resultado ou outro». Em 2010, André Salgueiro venceu o campeonato nacional de marcha atlética e Marcelo Gomes bateu o recorde distrital nos 3 000 metros marcha. Rita Vazão, em 2014, Constança Silva, em 2019 e Bernardo Cunha, em 2020, foram alguns exemplos de resultados que começaram a catapultar o clube para outro patamar.
Hoje, a coletividade dedica-se ao atletismo de formação, em que conta com mais de 40 atletas dos 6 aos 18 anos, que se dedicam a várias e diferentes modalidades inseridas no atletismo. «Quando os mais pequenos chegam, a nossa preocupação é desenvolver componentes físicas como a coordenação, o equilíbrio e o aspeto motor. Gradualmente começam a entrar em competições e, depois sim, são trabalhados a nível técnico», explica o presidente que está há um ano ao leme da Direção do clube. Inicialmente, as crianças «praticam um pouco de todas as modalidades dentro do atletismo», começando a especializar-se ao longo do tempo e consoante as respetivas aptidões.
Foi com esta fórmula que o Grupo Desportivo das Pedreiras conseguiu alcançar 13 pódios em competições nacionais na passada época desportiva. Sete deles foram conseguidos pelo atleta sub-16 João Matos, em diferentes modalidades e até em escalões superiores (fez dois pódios em sub-18). Rodrigo Esteves conseguiu também destacar-se com quatro pódios, sendo que Matias Ferreira e Alice Varino conquistaram um cada. A atleta sub-18 esteve ainda presente na Seleção Nacional, no Torneio Ibérico de Provas Combinadas. Além disso, em 2023/2024 os atletas do emblema vermelho e preto conseguiram conquistar 18 campeonatos distritais e garantir 13 presenças nas seleções do distrito. «São resultados fantásticos que nos orgulham imenso e nos motivam para lhes darmos [aos atletas] cada vez melhores condições», comenta Luís Ribeiro, que acredita que todo este sucesso «tem sido motivo de atração para mais crianças e jovens», tal como a saída de atletas para as melhores potências do país. «O excelente desempenho dos irmãos Cunha colocou-os num clube de referência a nível nacional. Primeiro o Bernardo, em 2022, e depois o Gabriel, em 2023, saíram para o Benfica. Já este ano, saiu o Rodrigo Esteves para o Sporting», recorda o presidente do clube, que mostra orgulho no que tem sido construído. «Nos campeonatos nacionais deste ano de sub-16 e sub-18, para as pessoas terem uma noção, num deles, em equipas masculinas, ficámos em 5.º lugar, apenas atrás de Benfica, Sporting, Braga e Juventude Vidigalense. Somos a aldeiazinha do atletismo», frisa.
Dado o elevado número de atletas, 130 no total, divididos entre atletismo, karaté, a atividade “Fica em forma” – criada para os pais que esperam que os filhos acabem os treinos e guiada pela ex-atleta olímpica Susana Feitor –, veteranos de futebol e o grupo de BTT Os Cabrinhas, um número de associados que ronda as 450 pessoas, 17 elementos na estrutura e sete treinadores, o Grupo Desportivo das Pedreiras trabalha, agora, na melhoria das infraestruturas para potenciar os resultados. No interior do pavilhão, decorre a construção de um complexo de seis balneários e uma enfermaria, com o objetivo de abrir modalidades diferentes. «Temos a intenção de expandir a nossa oferta de modalidades, mas numa perspetiva diferente. Queremos criar equipas em desportos que acrescentem valor ao clube e à região e que não sejam encontrados facilmente em qualquer lado», justifica Luís Ribeiro.
Pista de tartan é o próximo grande passo
Outro dos grandes planos em marcha é a instalação de uma pista de tartan à volta do Campo do Grupo Desportivo de Pedreiras, que está em fase de execução. «A conceção foi adjudicada a um arquiteto e um engenheiro que nos irão apresentar um projeto preliminar, para depois podermos avaliar, em conjunto com a Câmara Municipal de Porto de Mós, com a Associação Distrital de Atletismo de Leiria e com a Federação Portuguesa de Atletismo, para que seja feito o projeto final», revela o presidente do clube, que espera apresentar a proposta final aos sócios da coletividade até ao fim deste ano.
Com 53 anos de história, o Grupo Desportivo das Pedreiras afirma-se na região e no país como um exemplo desportivo em que a promoção dos bons valores humanos, a dedicação e a sustentabilidade são a receita de sucesso, que tem tudo para continuar a “fermentar” (ainda mais) novos talentos.
Foto | Filipe Santiago