Há várias semanas que o telefone das Grutas de Mira de Aire toca incessantemente. Do outro lado da linha estão, na maior parte das vezes, visitantes que anseiam por conhecer o espaço. Mas para já, essa vontade vai ter que aguardar, não fosse o facto de as grutas a nível nacional ainda não terem autorização para reabrir. É por isso, com um nó na garganta que Carlos Alberto Jorge atende as inúmeras solicitações que vão chegando. «São dezenas as pessoas que nos ligam diariamente para saberem se já podem visitar as Grutas e a resposta é sempre a mesma», revela o presidente do conselho de administração do complexo turístico que gere as Grutas.
Mais de três meses depois de terem encerrado ao público permanece a incerteza quanto à reabertura das Grutas de Mira de Aire, à semelhança das restantes. Em conversa com O Portomosense, Carlos Alberto Jorge confessa que a sua maior mágoa se prende com a falta de respostas. «Eu acho que deviam justificar o motivo de ainda termos que estar fechados, para não andarmos neste impasse», afirma. Apesar de garantir que as pessoas se têm mostrado solidárias e «se têm associado ao seu desânimo», o responsável do complexo está apreensivo: «Tenho receio que as pessoas comecem a pensar que se elas estão fechadas é porque é perigoso», desabafa.
A morosidade do processo de reabertura levou o conselho de administração a colocar as bandeiras das Grutas de Mira de Aire a meia haste, desde o final do mês de maio, como «forma de protesto» e de «demonstrar a tristeza». Além disso, Carlos Alberto Jorge adianta que enviaram vários e-mails à Direção-Geral da Saúde (DGS), no entanto quando souberam que essa entidade chegava a receber mais de «5 mil por dia», acabaram por optar por outro meio, mas que nem assim mereceu resposta. «Enviámos uma carta registada com aviso de receção à Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas. Sabemos que foi entregue mas até ao momento ainda não tivemos resposta», garante. Nesse documento, além de darem a conhecer o plano de contingência, fizeram questão de destacar que contrariamente ao que se verifica em território nacional, a maior parte das grutas na Europa já abriram no início do mês de junho. «Fechámos quando eles fecharam, eles já todos abriram e nós continuamos sem autorização para abrir»,
refere.
Investimento de milhares de euros sem retorno à vista
Se tudo corresse como em anos anteriores, entre o dia 15 de março e o 15 de junho, as Grutas de Mira de Aire teriam recebido «41 mil pessoas». Atualmente, somam-se os cancelamentos, principalmente de agências de viagens, que segundo Carlos Alberto Jorge, já podem ascender aos «20 mil». O rebuliço outrora provocado pelas excursões em massa de turistas, dá hoje lugar ao silêncio. Uma característica que tem imperado nos últimos tempos e que até já faz a vizinhança ansiar por outros fados. «Um dia destes a senhora que tem um estabelecimento aqui ao pé dizia-me, em jeito de desabafo: “Nunca desejei tanto que as Grutas abrissem”», conta.
Com o objetivo de equipar as Grutas de Mira de Aire com ferramentas que permitissem cumprir com as normas da DGS, foram feitos vários investimentos. Exemplo disso são as três máquinas adquiridas para desinfeção, vaporização e nebulização. Além disso, foram comprados três dispensadores de álcool gel, tapete desinfetante e aparelho de medição de temperatura. Quando reabrirem, as Grutas vão ceder gratuitamente luvas aos visitantes e quem
não tenha máscara de proteção poderá comprá-la por 0,50€, uma vez que a sua utilização será obrigatória.
Apesar das várias aquisições, Carlos Alberto Jorge continua sem ver retorno desse investimento. «Já são uns milhares de euros que nós gastamos e que não nos valeu de nada. Além de não termos faturado nada, é só gastar», frisa.
Este ano, Aquagruta só para clientes das Casas das Grutas
Com uma lotação para 400 pessoas, o Aquagruta viu, este ano, a sua capacidade ser reduzida para metade, devido às regras de combate à pandemia. Ainda assim, seria necessário haver «três nadadores-salvadores para cada espelho de água». Uma exigência que Carlos Alberto Jorge considera «um absurdo» se se tiver em conta que «na piscina dos miúdos, a água dá pelo joelho». Este foi apenas um dos aspetos que levou o conselho de administração a tomar a decisão de que a Aquagruta estará aberta apenas para «uso exclusivo» dos clientes das Casas das Grutas. Assim, o facto de ser considera uma piscina privada, torna dispensável a presença de nadadores-salvadores, existindo apenas um funcionário para dar apoio.
O distanciamento social dentro e fora de água, foi outra das razões que pesou nesta decisão. «Quem é que vai controlar os jovens que querem andar em grupos?», questiona Carlos Alberto Jorge. Na sua perspetiva, a incapacidade de conseguir controlar os mais desobedientes, poderia levar a que outros visitantes fizessem reclamações online, o que poderia acarretar consequências pesadas, como inspeção, coima e encerramento do parque. «Não vale a pena estarmos a correr riscos», constata.