É nas dicotomias que residem as diferenças e a beleza da vida
Num mundo repleto de dicotomias e pontos de vista cada vez mais distintos, um artigo assinado nesta mesma edição gerou um interessante debate há dias no seio da nossa redação. O Brasil tem “o Carnaval dos Carnavais”, tem bom tempo nesta altura, tem todo um “je ne sais quoi” na hora de fazer acontecer um evento pelo qual milhões e milhões de pessoas aguardam ansiosamente durante todo o ano, mas… há quem seja natural do país e prefira, de longe, o Carnaval português. E porquê, perguntamo-nos? Há vários motivos que poderá na página 11 do número 1016, mas levanto um pouco o véu: um deles é, claro, a segurança.
Argumentar que Portugal é um país mais tranquilo que o Brasil não é difícil, como também não o será prová-lo. Difícil parece-nos, por vezes, entender que aquilo que aqui tomamos como garantido noutros lados não o seja. Trocar tudo o que faz do Carnaval canarinho tão especial pelo aparentemente “simples” à vontade de poder andar com a família pelas ruas é totalmente compreensível. Vivemos no cantinho de um cantinho um pouco maior, que é Portugal, e aquilo que chamamos de insegurança está a anos-luz daquilo que boa parte da população mundial chama.
Fazendo um pequeno exercício de reflexão, ou melhor, colocando-nos no lugar de quem está habituado a ter que olhar a todo o instante por cima do ombro, sempre com medo do que poderá, eventualmente, estar para vir, constatamos que viver assim é aterrorizante.
Aterrorizante porque ter receio de estar ou sair da própria casa não deve fazer parte do dia a dia de ninguém.
Aqui também temos Carnaval. É diferente, mas é bom e é nosso. E aqui temos, sobretudo, a segurança que atrai todos os anos milhares e milhares de pessoas que deixam o que têm para poderem pura e simplesmente viver.
Quem vem de fora traz novas visões, novas realidades, novos “carnavais”, e ajuda-nos, de certa forma, a valorizar aquilo que de melhor há entre nós. Portugal é um país que acolhe, e bem, por tradição. E é também um país que exporta muito do seu talento para o mundo. Tal como os que imigram, também os que emigram partem em busca de algo mais.
Conservemos o “nosso” lado sem medo de, ao mesmo tempo, deixarmos que o lado positivo de quem vem de fora nos acrescente. Temos muito de bom, mas também muito para melhorar. Aprendamos uns com os outros com respeito e tolerância porque é nas dicotomias que residem as diferenças e a beleza da vida.