Passou-se no início do mês, mas nunca é tarde para salientar atos de bravura. E que ato teve o Miguel, um jovem craque dos escalões de formação da AD Portomosense que, pese embora nunca tenha ouvido falar dele pelos seus dotes futebolísticos (que acredito que até sejam bem melhores do que os meus), já se destacou por ter aquilo que realmente importa no desporto e na vida: valores.
O Miguel “sacou” o mais belo dos cartões. Ou melhor, o Miguel mereceu-o por ter tido a coragem de enfrentar uma bancada repleta de papás exaltados. Para variar um pouco, alguns destes fizeram o favor de se dirigir para um jogo de miúdos e comportaram-se como verdadeiros animais ao tecerem tudo menos elogios à equipa de arbitragem e aos próprios atletas, estes últimos menores de idade.
Vergonha alheia. É isto que sinto quando assisto nos estádios às atitudes intempestivas e que muitas das vezes roçam a criminalidade de determinados “adeptos”. Mas… E quando se trata de formação? Neste caso nem encontro bem palavras para descrever aquilo que me passa pela cabeça. Não assisti a este episódio em concreto, mas já vi e sei que infelizmente vou continuar a ver situações idênticas enquanto estiver, de uma forma ou de outra, ligado ao futebol.
Gostava de poder dizer que o Miguel não foi um herói. Seria sinal de que ele não tinha tido o ímpeto ou a necessidade de atuar. Mas foi. O Miguel virou-se para a bancada e mandou calar alguns dos que por lá estavam. «Ou se calam ou abandonamos imediatamente o jogo!», gritou o rapaz àqueles que provaram estar a mais no futebol. Mas a estes eu pergunto: qual é a necessidade? Quanta frustração e desequilíbrio emocional tem alguém que ter para ir a um estádio “descarregar” em cima do homem do apito e de um monte de “garotos”?
Resolver isto não é fácil, dizem-me alguns dos profissionais do mundo do futebol que tenho tido o prazer de conhecer ao longo da minha carreira. Quer em entrevistas, quer em conversas informais, a “queixa” é quase sempre a mesma: os pais. Todos sabemos que os miúdos podem ser cruéis uns com os outros, mas nada se compara às atrocidades recorrentemente cometidas por pais que se atiram a tudo o que mexe dentro das quatro linhas. Provavelmente cresceram com o clima tóxico que gira em torno do futebol português, entendo. Mas não há a mínima noção ou bom senso? É assim tão difícil perceber que um miúdo tem maiores probabilidades de crescer num ambiente positivo?
Nem todos vão ser profissionais. Aliás, boa parte deles nem vai chegar aos “A”. Então, porque não deixar os jovens crescerem ao seu ritmo? O futuro dirá se têm ou não o que é preciso. Quantos sempre foram craques na formação e depois falharam? E quantos medianos não acabaram mais tarde por vingar?
Pais, já chega. Apoiem os putos. Dêem-lhes condições para que desfrutem da bola mas, acima de tudo, dêem-lhes valores. Esses sim, vão fazer mais falta que qualquer par de chuteiras.
Quanto a ti, Miguel: BRAVO!