«Foi várias vezes anunciada a morte da rádio, mas a verdade é que ainda está viva», assim iniciou a sua intervenção o presidente da Associação de Rádios de Inspiração Cristã (ARIC), Nuno Inácio, no congresso da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR), num painel subordinado ao tema Rádio – Os desafios da gestão e novos modelos de negócio das empresas de Rádio em tempo de crise. Depois de recordar que, há 33 anos – desde o primeiro congresso de rádios em Portugal –, as palavra “rádio” e “crise” andam sempre a par, Nuno Inácio deu conta de que dados do ano 2022 revelam que o ano terminou «com o maior número de ouvintes de rádio dos últimos 20 anos, numa faixa etária acima dos 15 anos de idade». Além disso, os estudos mostram ainda que «a rádio é o meio em que os consumidores de notícias mais acreditam». «Este é um meio cada vez mais escutado, é aquele em que os consumidores mais confiam, mas continua a ter um problema: não conseguimos transformar as nossas mais-valias naquilo que realmente interessa, em euros», salientou.
Depois de apresentar um possível modelo de comunicação mais rentável para todas as rádios, Nuno Inácio falou ainda de «um caminho» que tem vindo a ser reivindicado conjuntamente por todos: «O reconhecimento dos direitos conexos sobre as vendas de música». «Querem que as rádios paguem direitos conexos, mas escondem que somos parte fundamental nas vendas», atirou para explicar logo de seguida: «Se olharmos para aquilo que é o princípio do direito conexo, é [em conceito] aquilo que acrescenta valor à obra primária – a letra que o autor escreveu. É assim com quem canta, com quem toca, com quem produz, com quem edita, por que não há de ser com quem promove? Não devíamos começar a receber por esse serviço? Se agregamos valor, parece-me indiscutível», concluiu.
Por sua vez, o presidente da APR, Luís Mendonça, disse que «há uma crise generalizada da comunicação social em Portugal», com «uma falta de políticas públicas gritante». «As leis, aquilo que existe, têm muitos anos. A Lei da Rádio é de 2010. Muitas das decisões que são tomadas hoje em dia, são-no à luz de coisas que não acontecem atualmente. Há coisas que têm que ser alteradas», disse, mostrando-se até revoltado. Luís Mendonça foi mais longe e afirmou que «a nossa democracia está a perder muito com a falta de informação»: «Há concelhos que não têm informação, não têm rádio, não tem jornal e estamos a caminhar para ter mais concelhos nessa situação. Tenho pena que já não estejam cá os senhores políticos para ouvir [no início do congresso estavam presentes três deputados à Assembleia da República e um representante do ministro da Cultura, que entretanto já tinham saído]», sublinhou. Esse foi, aliás, um lamento deixado também por alguns congressistas que intervieram no debate.
Também os direitos conexos e de autor foram referidos por Luís Mendonça: «Como produtores de conteúdos, temos que ter direito a eles. São 33 milhões de euros que são distribuídos por quem tem direito e nós não temos». «Queremos ter direito a tempos de antena, nas eleições e queremos que a publicidade institucional do Estado seja distribuída por nós, porque temos a capacidade de a fazer chegar às rádios e o dinheiro também, que não está a acontecer. Estão aqui muitas formas de financiamento que as rádios deviam ter e, neste momento, não têm», finalizou.
Foto | Bruno Sousa