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Há quem a queira muito levar, há quem tenha muitas dúvidas… falamos da vacina contra a COVID-19

22 Dezembro 2020
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

22 Dez, 2020

Há vários meses que, quase diariamente, saem novas indicações a nível mundial e europeu sobre os desenvolvimentos da vacina contra a COVID-19 e agora, já desenvolvida, sobre quando chegará a todos os países. A verdade é que a sua administração já arrancou em alguns países e a Portugal, confirmou a ministra da Saúde, Marta Temido, deverá chegar entre os dias 27 e 29 deste mês, em consonância com os outros países europeus. A administração arranca de forma imediata, mal cheguem as primeiras doses. A ministra diz que o primeiro lote terá 9 750 unidades da vacina da Pfizer e que se destina aos profissionais de saúde, a quem vão ser administradas ainda este mês. Só no princípio do próximo ano vão chegar as restantes 300 mil doses, que vão ser distribuídas pelos grupos prioritários já definidos.

Em janeiro, o primeiro lote de vacinas destina-se a «pessoas com 50 ou mais anos com pelo menos uma das seguintes patologias: insuficiência cardíaca, doença coronária, insuficiência renal e doença respiratória crónica com suporte ventilatório; pessoas residentes em lares e internadas em unidades de cuidados continuados e os respetivos profissionais; profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados e outros profissionais de serviços essenciais e críticos, como Forças Armadas e forças de segurança». Depois, na fase seguinte, que se prevê que arranque no segundo trimestre de 2021, incluem-se «pessoas com 65 e mais anos sem qualquer patologia e um segundo grupo a partir dos 50 e até aos 64 com o alargamento das patogias diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade e hipertensão arterial». A última fase engloba a restante população, tendo em conta as previsões atuais quanto ao número de unidades disponíveis.

A vacina está a gerar alguma desconfiança na população, em Portugal e em todo o mundo. Há quem queira levar a vacina o mais rapidamente possível e há, por oposição, quem dispense, pelo menos para já. Fomos conhecer dois testemunhos que revelam este contraste e os motivos evocados para cada uma das posições.

Sim, quero levar a vacina

«Se pudesse levava já amanhã», é assim que a diretora técnica do Solar do Povo do Juncal, Ana Sampaio, responde, quando questionada sobre se quer levar a vacina contra a COVID-19. A profissional, que até está num dos grupos prioritários para a receber, diz que «o cansaço» é um dos principais motivos para esta posição: «Isto está a ser um cansaço enorme para todos nós, aliás, para toda a população, mas para nós, profissionais de saúde ou dos lares, é uma pressão muito grande, uma preocupação constante», frisa. Esta, acredita, é também uma forma de defender os idosos da sua instituição «de todos os perigos». «Eu comprometo-me com a família dos utentes a fazer tudo o que posso por cada um deles, cuidar o melhor possível, mesmo sendo impossível fazer isso a 100% . Claro que muitos já têm patologias complicadas, mas não queremos deixar que seja a COVID-19 a complicar ainda mais». Apesar deste processo de criação da vacina ter sido mais rápido do que o normal, Ana Sampaio diz «confiar nos cientistas». «Nós temos de confiar nalguma coisa, para vermos a luz ao fundo do túnel. Quando vamos ao médico porque temos um problema, ele receita uma medicação que tem efeitos secundários. Obviamente que todas as vacinas têm efeitos secundários e esta também vai ter. Mas será o efeito secundário muito pior do que aquilo que estamos a viver atualmente?», questiona.

O sentimento é partilhado pela restante equipa da instituição, por todas as funcionárias: «Estamos todas ansiosas por levar a vacina. Já sabemos que nos próximos tempos vamos continuar a andar de máscara e com todos esses procedimentos de proteção, mas pelo menos já trabalhamos de uma forma mais tranquila». Ainda assim, a diretora técnica, não esconde algum receio. «Algumas [funcionárias] já expressaram algum receio, porque se ouve muita coisa na comunicação social que às vezes se torna confuso. Eu digo sempre para ficarem descansadas, porque alguém que sabe mais do que nós deu autorização». A muitos idosos, esta questão passa despercebida: «Muitos não têm consciência, devido às suas patologias. Mas os que ainda têm alguma consciência estão desejosos de voltar para uma vida normal. Terem visitas dos familiares, haver o movimento normal e de sempre», conclui.

Não, não quero levar a vacina

Sónia Rosário, de 42 anos, natural do Juncal, não quer, pelo menos para já, levar a vacina e considera que não deve chegar a ser obrigatória. «Eu não acredito num processo tão rápido. Eu sei que já existia uma base da vacina, mas ainda assim acho que foi tudo muito rápido. Quero primeiro ver as consequências que terá porque estou muito cética em relação aos resultados. Depois, há outra questão, acho que a vacina não vai chegar para todos para já e por isso, dou a minha para quem precisa mais», explica. Admite que a sua opinião possa mudar, mas agora, imagina que, se levar a vacina, seja apenas em 2022 ou 2023, para ter tempo para perceber o impacto desta. Sónia Rosário tem dúvidas também sobre toda a logística a que a vacina obriga e se as instituições se saúde estarão preparadas, por exemplo «para preservar a vacina a 70 graus negativos», como as autoridades de saúde preconizam.

A comunicação contraditória não ajuda, defende a juncalense, dando o exemplo do filho. «Há muita incoerência entre os médicos. O meu filho é asmático, supostamente é grupo de risco e deveria tomar, mas a médica de família acha que ele deve tomar, o pneumologista dele acha que não. Se nem os próprios médicos têm opiniões coesas, é difícil», frisa. Sónia Rosário acredita também que «se a vacina fosse assim tão eficaz e houvesse tanta certeza, seria obrigatória». «Trata-se de uma pandemia mundial, por isso se fosse totalmente eficiente, toda a gente tinha que a tomar», considera, deixando claro, no entanto, que não põe em causa «o esforço de quem trabalhou na vacina».

Com um café aberto na vila de Porto de Mós, no Centro Comercial Jardim, todos os dias convive com muitos clientes, e o feedback que tem recebido é na sua maioria condizente com o seu. «O que as pessoas dizem é também que primeiro querem perceber os efeitos secundários», refere. Sónia Rosário diz que os Governos, ao não tornarem esta vacina obrigatória estão a colocar «a responsabilidade na pessoa, para evitarem eles serem responsabilizados»: «Posso estar errada, posso estar a ser injusta, mas é a minha opinião. Se é tão essencial, não deveria ser facultativa».

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