Natural de Angola, mais propriamente da cidade de M’banza Congo, e há sete anos em Portugal, a “sede” de Otélia Nzinga Chindondo pelo saber da incensaria foi crescendo enlaçada nas suas raízes. Tal como o nome da sua loja online indica, Bakoko, quando traduzido de quicongo para português, remete para a ancestralidade, para «os antepassados, os avós» e foi precisamente com as suas avós que Otélia Chindondo, de 47 anos, aprendeu a tirar proveito do poder das plantas. «Havia vezes em que eu me sentia triste e ia à minha horta, secava algumas folhas de sálvia e acendia, fazia fumaça e lá mudava um bocadinho o meu estado de espírito», revela.
A proximidade com o meio natural, especificamente com a nossa serra, fruto de ter assentado há meia década na Cruz da Légua, suscitou à comerciante o desejo de «fazer várias receitas» com as plantas que ia encontrando. «Eu subia a serra, pegava nas folhas, na sálvia e na salva que há cá em Portugal e depois o alecrim também, comecei a fazer as misturas e deu no Bakoko», conta.
Otélia Chindondo fala desta prática, «que vem já do antigo Egito», referindo que cada planta tem o seu próprio papel, associando a lavanda à tranquilidade, ideal para acender antes de ir dormir, as rosas ao amor e o alecrim à limpeza, ajudando «na meditação».
Clientes procuram cada vez mais produtos naturais
Numa sociedade mergulhada no consumismo e na industrialização, a comerciante defende que há um novo padrão a reconhecer; «as pessoas agora querem as coisas naturais». «Um incenso convencional leva carvão, leva óleo mineral, leva muita coisa que depois com o tempo prejudica a saúde, mas já o incenso natural é a energia da planta que se leva para a nossa residência», explica.
Mas não só de incensos vive a Bakoko, a loja contará também com «velas naturais e terapêuticas feitas com cera de soja e oléos essenciais» e «champôs e condicionadores sólidos», mais indicados para o «cabelo afro», apesar de «resultarem também com outros tipos de cabelos». «Hoje em dia, cada vez mais, as pessoas estão a aderir muito à espiritualidade. As pessoas querem-se conhecer, querem entrar no profundo do “eu”. Então as pessoas procuram mais por coisas espirituais», frisa.
Este ano, a Bakoko esteve presente pela primeira vez nas Festas de São Pedro, o que permitiu à loja – @bakoko_incensos no Instagram – alargar o seu público-alvo e o feedback foi «muito positivo». «Tenho recebido mais pedidos de encomendas, porque ali também fui falando [com as pessoas]. Se o cliente tiver já uma ideia do tipo de incenso que quer e das ervas que quer que entrem nesse incenso, eu posso fazer. Então, agora ligam para fazer esse tipo de encomenda», conclui.