Cerca de sete meses depois de ter denunciado o caso, O Portomosense esteve à conversa com a presidente da União de Freguesias de Alvados e Alcaria, Sandra Martins, com o intuito de saber como está a situação do homem a viver há mais de um ano no interior de um carro, com um cão e um gato, bem no centro de Alcaria.
De acordo com a autarca, houve uma evolução a contento de muitos, a começar pelo próprio homem, no entanto, Sandra Martins reconhece que, institucionalmente, preferia que o indivíduo estivesse a residir numa habitação como qualquer cidadão e já teve oportunidade para isso mas, mais uma vez, recusou-a. Então, se já não vive num velho carro abandonado, mas também não mora numa casa, onde está a agora Luís Jesus, o lisboeta de 62 anos que há quase 25 fixou residência no concelho de Porto de Mós, para onde veio trabalhar?
«Houve um senhor de Alvados que lhe ofereceu uma tenda e disponibilizou o terreno para a montar e então ele mudou-se para lá no final de junho. Entretanto, alguns populares de Alcaria foram-nos fazendo chegar o seu desconforto por o velho carro continuar ali e nós concordámos que, de facto, já não fazia sentido e era um mau cartão de visita para uma aldeia que atrai turistas e todos os que por lá passam», conta a presidente de Junta.
«Comunicámos-lhe a intenção de retirar a viatura e de levá-la para abate, mas ele disse que não, que queria, pelo menos, tirar de lá algumas roupas e outras coisas. Então, chegou-se a um acordo, o senhor Luís levava tudo o que precisava e a Junta rebocava o carro para um espaço seu onde tem outros materiais. Como a decisão não foi tomada de imediato, só no início de agosto é que conseguimos tirar, finalmente, a viatura», conclui.
O caso do homem a viver no interior de um carro em Alcaria, revelado por O Portomosense, foi depois notícia noutros órgãos de comunicação social regionais e nacionais tendo, inclusive, Luís Jesus participado num programa da TVI Dois às Dez, de Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz. Na sequência disso, «uma sua familiar contactou a Junta mostrando-se, disponível para, mais uma vez, lhe emprestar uma casa (onde já residiu) e que esta só estava a usar nas férias. No entanto, o senhor Luís voltou a recusar, dizendo que está melhor em Alvados», adianta Sandra Martins.
«Levou os animais consigo, os dois com que dormia e os outros dois que estavam presos ao carro, e não sei se ficam cá fora ou se estão lá com ele dentro. Diz que há alguém que o deixa fazer a sua higiene pessoal em sua casa e que se sente muito bem na tenda e que a intenção é lá permanecer. Entretanto, continua sem ter trabalho fixo», refere a responsável autárquica, não escondendo algum pesar por uma
situação que considera longe de ideal, mas que não consegue ajudar a resolver em definitivo, porque o principal interessado não aceita as ajudas que ao senso comum seriam as mais óbvias e sensatas. «Uma tenda, não sendo uma boa solução, pode resultar em tempo ameno ou quente. Então, e quando vierem as chuvas fortes e o frio de inverno?», exemplifica.
Este caso há muito que é conhecido das entidades oficiais. Câmara, Segurança Social, autoridade de Saúde local e Junta de Freguesia uniram esforços na procura de uma solução, mas todas as propostas têm sido recusadas pelo indivíduo que não quer ingressar numa instituição de apoio e diz não ter rendimentos suficientes para arrendar uma casa ou mesmo um quarto, até porque para isso teria de se desfazer dos seus cães e gatos, algo que recusa terminantemente. Apesar de ainda não estar na idade da reforma, não tem trabalho fixo e vai fazendo, apenas, alguns “biscates”. O facto de não ter forma de se deslocar é o argumento com que justifica a dificuldade em arranjar emprego. Aqui e ali, queixa-se também de alguns problemas de saúde que, alegadamente, já não lhe permitirão fazer todo o tipo de trabalhos.